22. Pode confiar em mim

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 Já era de tarde na capital, e o turno dos cavaleiros que faziam a patrulha do lado de fora dos muros havia acabado. Em seu momento de folga, Mirio não perdeu tempo e finalmente foi averiguar o que tanto lhe importunou durante dias. E enquanto ninguém estava vendo, ele adentrou pela floresta com um saco bem cheio em suas mãos.

Depois daquele dia em que viu um feérico preso na armadilha por ter apenas roubado comida, ele não parou de pensar em como sua espécie devia estar sofrendo. Seus últimos dias desde então têm sido dedicados a procurar saber mais sobre tais seres. Essa, no entanto, era uma tarefa bem difícil, já que eles eram uma espécie caçada e apagada da sociedade. Apenas alguns poucos livros que pôde encontrar em pequenas livrarias clandestinas pelo reino, e mesmo assim não tinha certeza se tudo o que leu era verdade. Sabia que se fosse pego seria punido, mas seu senso de justiça falou bem mais alto.

Já dentro da floresta, ele procurava por qualquer sinal do feérico. Quanto mais adentrava mais começou a ver alguns símbolos espalhados por algumas árvores. Era uma espécie de losango com um círculo e alguns traços. Mirio estava cada vez mais curioso para saber do que se tratava. Sua atenção no símbolo não durou muito tempo, pois logo escutou um barulho vindo dos arbustos. Ele se virou rapidamente, procurando de onde veio o som.

De repente, uma flecha é disparada e acerta no tronco da árvore, bem perto de seu rosto. Por poucos centímetros aquela flecha não o acertou. Mirio ficou estático, ouvindo alguns passos se aproximando. Lentamente ele foi se virando, avistando o mesmo feérico que encontrou na floresta, com o arco na mão, lhe apontando a flecha. Ele largou o saco no chão bem devagar e abriu um pequeno pedaço de papel que havia em sua mão.

Fein na nig.* — Mirio ergueu uma de suas mãos para demonstrar trégua enquanto lia. O feérico franziu a sobrancelha, confuso. — Mi agus dul gnoi nig.* — Ele continuou, lendo com uma certa dificuldade.

— Arg, pelos deuses! Só... para com isso! — O feérico o interrompeu, ameaçando atirar a flecha.

— Sinto muito pela péssima pronúncia. Não tive muito tempo para praticar. — Mirio riu, sem graça.

— O que você quer? Por que está me seguindo?

— Eu só... me senti mal por aquele dia. Você só estava tentando ajudar seu povo, não é?

— E o que você sabe do meu povo? Vocês não se importam com a gente. Só querem nos caçar. — Ele respondeu, levantando seu tom de voz e se aproximando com a flecha.

— Nem todos nós somos assim, acredite em mim. Eu também não concordo com o que a igreja está fazendo. Eu apenas luto pelo que eu acho justo. — Mirio explicou serenamente, olhando para o saco que deixou no chão. — Por isso eu trouxe algo para ajudar.

— Se afasta do saco! — O feérico ordenou.

Mirio o obedeceu, indo para perto de outra árvore. O feérico se aproximou do saco, observando atentamente. Ele chutou o saco, a fim de verificar se não havia alguém escondido lá dentro. Guardou sua flecha, se abaixando para abrir. Para sua surpresa, o saco estava cheio de comida. Havia muito trigo, pães, frutas, queijos, entre outras coisas. Estava boquiaberto com o presente do cavaleiro.

— Eu só queria me desculpar por aquele dia. Espero que seja o bastante. Eu também posso trazer mais se você...

— Como vou saber que não envenenou isso? — Ele o interrompeu novamente, voltando a sua forma desconfiada de antes.

— E-eu nunca faria isso. Acredite em mim! Eu só quero me redimir com você.

— Quer que eu acredite em você? — Ele se levantou, pegando sua flecha novamente e apontando para o cavaleiro. — Então eu quero que você coma!

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