A brisa batia de leve nos cabelos de Elisa enquanto ela despetalava uma pequena margarida, absorta em seus próprios pensamentos.Sentimentos opostos e confusos se debatiam em seu interior, feliz que estava pelo que lhe aconteceria em breve, e preocupada com o que aconteceria se fosse descoberta.
- Vê se para de sonhar acordada, apanha logo essa roupa e vem me ajudar, seu pai tem visitas.
A voz da mãe tirou Elisa de seus pensamentos trazendo-a de volta a realidade. Elisa terminou de recolher as roupas do varal e voltou para dentro de casa.
Sentia o coração aos pulos ao entrar na sala para servir o café. Há mais de um mês que não ficava muito tempo perto do pai e sempre que podia evitava-lhe a presença.
Quando a mãe pediu que servisse o café, Elisa teve vontade de sair correndo dali, mas sabia que isso só levantaria ainda mais suspeitas sobre seus planos.
Precisava manter-se tranqüila, apenas mais uma noite e tudo estaria resolvido.
Elisa sentia o olhar avaliador do pai sobre ela e apertava-lhe a garganta a sensação de que a qualquer momento o pai lhe descobriria o mais íntimos de seus pensamentos.
O pai, vendo a filha tão prendada, começou a elogiá-la na frente dos amigos.
- Essa é minha Elisa, a mais velha. Trabalhadeira, rapaz, nunca deu trabalho nem pra mim, nem pra mãe dela. O rapaz vive dando trabalho, as outras até que são boazinhas, mas a Elisa tem que ver, é uma flor de menina, nunca abre a boca pra reclamar, ao contrário, é uma filha carinhosa e boa. Já tá passando um pouco da idade de se casar, mas isso só prova que ela não sai por aí se engraçando com qualquer um, não. Ela não é muito elegante, mas é muito inteligente, quando casar, o marido vai tirar a sorte grande!
Enquanto o pai se gabava, Elisa foi sentindo o nariz formigar, os ouvidos chiar e a vista começou a escurecer, então ela correu até a cozinha e cambaleou para os braços da mãe que a ajudou a sentar-se numa cadeira.
O pai de Elisa achou o comportamento da filha um bocado estranho, mas se tranqüilizou achando que ela só estava encabulada pelos elogios, mas a mãe que de boba não tinha nada, suspeitou que houvesse muito mais por traz daquele mal estar.
§§§
Elisa era uma moça simples. A filha mais velha do prefeito da cidade. Tinha tudo pra ser uma jovem vaidosa e orgulhosa, mas ao contrário, era tímida e recatada.Enquanto outras jovens aprendiam o serviço de casa e se empenhavam para encontrar um bom casamento, Elisa se dedicava aos estudos, e se preparava para realizar seu sonho: ser professora.
Naquela região inóspita, onde as pessoas valorizavam mais o trabalho duro do que o conhecimento, ser professora era quase uma coisa de outro mundo.
Depois de se formar, Elisa convenceu o pai a construir uma escola pra que ela mesma desse aula às crianças das fazendas vizinhas.
Elisa já tinha 30 anos e nunca foi vista namorando. Duas das irmãs mais novas já estavam casadas, e as outras viviam ansiosas pra arrumar um par, mas Elisa não ligava pra isso.
Investia seu tempo nos estudos, e na preparação das aulas dos seus alunos, e esperava pacientemente que na hora certa, seu príncipe ia aparecer.
As moças daquela região se casavam cedo, e na idade de Elisa, a família já tinha perdido a esperança.
Conheciam muitas famílias influentes, mas nenhuma delas tinham filhos em idade compatível com a de Elisa.
O único partido cobiçado, com idade suficiente para desposá-la, estava estudando fora e era filho dos inimigos mortais da família Olivares.
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O RELICÁRIO
ChickLit"Uma pequena joia que presenciou uma linda história de amor. Uma rixa de família, que acabou em tragédia ao melhor estilo Romeu e Julieta. Isabela é o fruto de um grande amor, mas foi lançada sozinha no mundo e agora, só o pequeno relicário, herdado...