6 - Desventuras em serie

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Elisa não sabia o que dizer e tentou justificar.

- Então a senhora já sabe? Bem a essa altura toda a cidade já sabe.

- Sim já sei, desde o primeiro momento. Meu filho nunca fazia nada escondido de mim.

Elisa ficou sem jeito, não sabia se aquela mulher estava ao seu favor ou contra... em todo o caso resolveu se desculpar.

- Eu sinto muito pelo seu filho. Não imagina o quanto me arrependo de ter me aproximado dele... sem mim, nada disso teria acontecido. Eu adoraria ter morrido no lugar dele, a senhora não faz ideia do quanto eu o amo.

Isabela encarou Elisa demoradamente, depois com os olhos cheios de lágrimas, a abraçou e chorou.

Isabela explicou a nora que nunca a culpou pelo que aconteceu com seu filho, e que esse último ano fora o mais feliz de toda a vida dele.

Desde a adolescência João era apaixonado por ela e sempre confidenciava à mãe a indiferença com que era tratado.

Isabela explicava ao filho que existia uma rixa de família e que por isso o amor dele nunca seria possível, mas ele nunca desistiu.

Foi ela quem aconselhou o filho a casar-se escondido pensando que o casamento facilitaria as coisas, mas não contava com toda aquela tragédia.

- Não se preocupe querida, sei que, de todos, quem mais sofreu foi você. Mas João sabia o risco que estava correndo e estava disposto a morrer por isso. Com certeza morreu feliz. O único receio dele era acontecer alguma coisa com o filho dele, você não sabe o quanto ele desejava esse filho.

- Então a senhora já sabia? Por isso estava pagando as despesas médicas...

- Era o mínimo que eu poderia fazer. Desculpe-me querida, mas você tinha morrido, então tive a esperança de, pelo menos meu neto sobreviver. Mas os médicos já explicaram que não é aconselhável você permanecer grávida.

- Mas eu vou ter essa criança, e é por isso que preciso da ajuda da senhora - Elisa tinha um brilho de determinação no olhar - Minha família me abandonou e não tenho mais ninguém a quem recorrer.

Antes que Elisa pudesse concluir, Isabela interrompeu.

- Não, nem pensar. Você não pode colocar a sua vida em risco. Se João fosse vivo, ia querer que você sobrevivesse. Não posso permitir que o amor dele seja destruído. Amo meu neto, mas você não deve se arriscar.

- Acalme-se Dona Isabela. Eu já estava morta e ainda assim Deus permitiu que eu voltasse para cuidar do meu filho, não creio que ele vá me desamparar. Um médico confidenciou que existe uma maneira de salvar meu bebê, mas é preciso muito dinheiro e eu não tenho nenhum. Se a senhora puder me ajudar, eu juro que devolvo tudo assim que minha situação melhorar.

- Você é a esposa de João, e toda a fortuna dele está ao seu dispor para gastá-la da maneira que quiser. Se existe a possibilidade de você e a criança se salvar, então nós vamos tentar.

Elisa explicou à sogra que precisava viajar para São Paulo e que lá procuraria tratamento adequado. Na mesma hora Isabela concordou e começou a pensar nos detalhes.


§§§


Escondida do esposo, Isabela encontrava a nora todas as manhãs, e passavam longas horas combinando os detalhes da viagem.

Elisa iria para São Paulo e se hospedaria na casa de uns parentes de dona Isabela.

Uma conta bancária foi aberta em nome de Elisa e todos os meses, Isabela mandaria uma pensão para a nora, até que os trâmites do juiz (que poderiam demorar até vários anos) liberassem a herança que João lhe deixou.

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