5 - Um milagre

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Mesmo tendo se passado mais de um mês, a cidade não falava de outra coisa que não fosse à tragédia do ano novo.

Pouco depois de Elisa ter tombado, a polícia e os para-médicos chegaram para socorrer os feridos.

No momento da chegada dos para-médicos, o prefeito Olivares ainda estava vivo e foi levado às pressas ao hospital. Foi uma luta intensa pela vida, ele ficou muito tempo sem oxigênio no cérebro e acabou sofrendo várias sequelas, entre elas a paralisia do lado esquerdo do corpo e a afetação da sua fala.

A cidade estava de luto pela morte tão trágica daqueles jovens. A mãe de Elisa não se conformava com a morte do seu único filho homem, e não conseguia derramar uma lágrima sequer pela filha que julgava culpada por toda aquela tragédia.

Aquela parecia ser uma manhã monótona na UTI até que a enfermeira percebeu uma pequena, quase imperceptível mudança na leitura dos sinais vitais dos aparelhos.

Ao examinar o rosto sereno e cadavérico daquela jovem, a enfermeira achou que se tratava apenas de alguma interferência de energia nos aparelhos.

Era impossível que fosse outra coisa já que o cadáver só estava sendo mantido vivo pelos aparelhos, então sufocando um grito de espanto, a enfermeira percebeu um pequeno tremor nas pálpebras da defunta e correu para chamar o doutor.

Elisa abriu os olhos fechando-os logo em seguida com a dor horrível que sentiu. Tentou falar, chamar alguém e entender o que estava acontecendo, mas não conseguia mover os lábios devido a um tubo enorme enfiado em sua garganta.

Tentou arrancar o tubo, mas suas mãos não obedeciam, nem sequer se moviam. Começou a ouvir uma intensa movimentação em seu quarto e fez novas tentativas de abrir os olhos, mas não conseguia.

Sentiu quando tiraram o tubo de sua garganta e tentou falar, mas a voz não lhe vinha. Viu quando um médico colocou uma luz cegante em seus olhos enquanto dava diversas ordens à sua equipe, então depois de injetarem diversas drogas em seu organismo, Elisa conseguiu, finalmente com uma dificuldade enorme, pronunciar algumas palavras.

- Ajudem-me, não consigo abrir meus olhos... Eles doem quando tento!

Ouve uma comoção geral na sala, todos espantados pelo milagre e eufóricos por terem conseguido. O doutor tratou logo de tranqüilizá-la.

- Relaxa. Suas pupilas ainda estão muito dilatadas devido ao tempo que permaneceram desativadas, mas aos poucos elas vão se acostumar! Bem vinda ao mundo dos vivos, Bela adormecida.

Pouco a pouco os médicos foram fazendo os exames necessários, aplicando as medicações e checando seus sinais vitais, chegando à conclusão de que o corpo de Elisa estava voltando à vida e com força total.

Enquanto Elisa ia se recuperando, os médicos iam, aos poucos, explicando a ela o que aconteceu.

Explicaram que ela ainda estava viva quando chegou ao hospital, mas foi atingida nos pulmões por dois tiros, e mesmo depois de diversas cirurgias ela não tinha resistido.

A família dela lavou as mãos e não quiseram nem reaver o corpo, mas a senhora Isabela Luna insistiu que a deixassem nos aparelhos e bancou todas as despesas médicas.

Elisa estava entendendo tudo, mas ainda havia um ponto obscuro, se houve morte cerebral, por que a mantiveram ligada aos aparelhos por tanto tempo?

Os médicos se entreolharam apreensivos e a doutora explicou:

- A ética médica diz que devemos lutar enquanto houver vida.

- Sei disso, mas pelo pouco que sei, morte cerebral é o fim, certo?

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