10 - Festa de aniversário

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Elisa já tinha um diário onde anotava cada minuto de sua vida com a filhinha, mas paralelo com esse diário, começou a escrever outro.

Era um manual de instruções que ela queria deixar para a filha no caso de não estar presente quando ela precisasse.

Elisa dava conselhos, contando suas experiências, e dando sugestões de como faria para sair de cada situação.

Elisa escreveu esse diário por quase seis meses, e por fim encerrou o manuscrito dizendo à filha onde encontrar o túmulo do pai, e fazendo um apelo que, se tivesse condições, um dia transportasse o corpo de Elisa para ficar ao lado do esposo.

Quando encerrou o pequeno livro, achou meio ridículo aquelas memórias póstumas, mas levou o plano adiante, colocou a única foto que tinha das duas, o relicário, o número de uma conta bancária, a certidão de casamento, o atestado de óbito do marido e os livros de João, num pequeno baú, lacrou com um pequeno cadeado e o entregou a Beatriz.

- Mas o que é isso, Elisa? - Beatriz quis saber.

- É uma espécie de testamento. Se por acaso eu morrer, quero que entregue à minha filha quando ela estiver entrando na adolescência. Gostaria que ela conhecesse um pouco de mim.

- Que estória é essa de morrer? Você ainda vai viver o suficiente para ver seus netos nascerem. Além do mais por que eu? Isso até parece mal-agouro.

Elisa não queria assustar a garota com seus pressentimentos.

- Acalme-se Beatriz, não estou dizendo que vou morrer agora, é só uma precaução. Eu juro; se não acontecer nada, eu mesma entrego o diário a ela, mas se acontecer algo, quero que saiba que eu queria entregar isso a ela. Eu escolhi você, porque é a madrinha. Na minha ausência você será responsável por ela.

Beatriz não entendeu, mas concordou.

- Se isso te deixa tranqüila, pode contar comigo.

As duas se abraçaram e selaram o compromisso.

§§§

As férias de junho se aproximavam novamente, e Elisa se deu conta que já fazia quase um ano e meio que estava ali vivendo com as irmãs.

As suas alunas desse ano eram menos problemáticas que as do ano passado, e as outras estavam agora na quinta série e já tinham alcançado seu tão almejado status de moças crescidas, mas ainda assim adoravam Elisa como se esta ainda fosse sua professora.

As irmãs aproveitaram as férias para fazer uma grande festa de aniversário para a pequena Isabela, e apesar de estarem de férias, a maioria das alunas compareceu à festinha e Isabela ganhou muitos e belos presentes.

As irmãs gostavam muito de fazer festas e desde que Beatriz se tornou uma mocinha, não tinham tantos motivos para festejar como agora.

A festinha foi um verdadeiro sucesso. Algumas irmãs acharam que seria perca de tempo fazer uma festa para uma criança tão pequena que não ia entender nada, mas contrariando todas as expectativas, Isabela acompanhou tudo de perto com seus passinhos cambaleantes.

Desde a preparação da festa com o enchimento das bexigas e o preparo dos doces, até as músicas da festa, as brincadeiras, e principalmente os parabéns, que ela, na sua precocidade, já acompanhava no seu linguajar exótico, batendo palmas no ritmo.

No fim da festa a menina estava exausta, mas ainda assim brigou longamente com o sono, pois não queria abrir mão de um dia tão lindo e tão colorido em meio à modesta vida que levava na austeridade do colégio.

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