O RELICÁRIO

23 ‐ A tragédia de Beatriz

Beatriz despertou com a réstia de sol que entrava pela janela e batia diretamente em seu rosto.

Olhou em volta e tentou entender onde estava, mas não reconhecia o lugar e nem sabia como foi parar ali.

Levantou-se abruptamente, e já ia gritar quando percebeu a filha ao seu lado.

Emocionada, Beatriz abraçou Isabela, agradecendo aos céus por estar com ela.

Isabela esfregou o rosto, ainda sonolenta, e abraçou Beatriz, chorando emocionada.

- Que bom que não era um sonho! A senhora está mesmo aqui, comigo! Ah mamãe Bia, a senhora não sabe o quanto tive medo de te perder pra sempre!

Beatriz sorriu. Estar ali, depois de tudo que sofreu naqueles dias parecia realmente um sonho.

Isabela foi preparar café para Beatriz, que estava se sentindo mal e não queria se levantar.

Lucio perguntou como estava Beatriz, e Isabela explicou que não estava nada bem, e contou as circunstâncias em que ela foi encontrada.

- Ela ainda não contou o que aconteceu, e nem tive coragem de perguntar, mas a julgar pelo estado que ela chegou... Oh Lucio, temo que minha mãe já não seja mais a mesma, ela está lá, deprimida. Não sei o que fizeram com ela, como médico talvez você possa descobrir.

Lucio soltou um suspiro de impotência e achou melhor não fazer nada enquanto o perito não chegasse.

- Entenda Bela... Se ela está em choque, o único meio de saber o que aconteceu, é examinando-a, e se eu a examinar primeiro, poderei alterar a cena do crime, entende?

Isabela concordou e achou melhor esperar. O doutor Lucas chegou, junto com um perito da delegacia para examiná-la.

O perito queria transportar Beatriz ao instituto médico legal, mas ao ver como ela estava chocada, decidiram examiná-la ali mesmo.

Beatriz estava arredia e não queria que ninguém a tocasse, então Lucas foi obrigado a aplicar um calmante nela, e só depois o exame foi concluído.

O perito fotografou as diversas lesões que ela tinha pelo corpo, marcas de que fora amarrada e espancada diversas vezes. As juntas de seus dedos estavam muito inchadas, como se tivessem sido esmagadas, e o perito chegou à conclusão que ela foi torturada. Fora constatado também que ela sofreu abuso sexual.

Depois de ter concluído seu serviço, o perito recolheu o material e liberou Beatriz para que a levassem a um hospital e a socorresse.

Lucas achou que não era necessário levá-la, tendo dois médicos por perto, mas na verdade, ele queria resguardar a imagem de Beatriz como madre superiora do colégio sagrado coração.

§§§

As irmãs foram avisadas que Beatriz apareceu, e queriam que ela voltasse para o colégio, pois se sentiam como ovelhas desgarradas na sua ausência, mas as coisas do colégio já não pareciam preocupar Beatriz, que só ficava deitada, envolta na sua apatia.

Os policiais que investigavam o caso, vieram recolher o testemunho dela, mas ela não parecia pronta a contar o que aconteceu, e eles voltaram frustrados.

Lucas queria ajudar, mas quando se viu frente a frente com ela, percebeu que não ia conseguir, então pediu ajuda ao filho.

- Por favor, meu filho, preciso que tome a frente disso por mim. Eu a conheço há muito tempo e é muito pessoal pra mim... Ela é uma freira e eu não a veria como uma simples paciente entende?

Lucio entendeu e concordou. Só não entendia por que o pai agia com tantos pudores, se era o médico de todas aquelas freirinhas desde que ele se entendia por gente.