Depois de uma pausa constrangida, Elisa o interrogou com firmeza.
- Quero saber, d'aonde me conhece?
Ele sorriu com tranquilidade e respondeu de pronto.
- Te conheço desde sempre. Desde que você era ainda uma menina de longas tranças. Eu te via nas missas e nas festas do povoado e desde moleque sempre fui apaixonado por ti, mas tu sempre me ignorou. Para mim, você era um sonho inalcançável, a filha do prefeito Olivares... Sempre tão séria; tão superior...
Elisa estava atordoada. Há alguns minutos atrás era a moça mais sem graça da cidade, sem nenhum atributo que pudesse despertar o interesse de um homem, e de repente descobria que era a paixão secreta daquele fenômeno.
- Hei, vamos devagar. Você disse que conhece meu pai, então sabe que não é qualquer um que se aproxima de mim.
O desconhecido soltou uma gostosa gargalhada deixando Elisa ainda mais fascinada.
- Sei sim... É uma pena... preferia que fosse uma simples camponesa, assim um João ninguém como eu, talvez tivesse uma chance! Não se preocupe, não sou um caçador de fortunas, tenho meu próprio dinheiro. Se aceitar o meu amor, e seu pai te deserdar, eu teria como sustentá-la.
O coração de Elisa acelerou com essa última afirmação. Era a primeira vez que um homem lhe despertava sentimentos, e pensava que era unilateral, mas agora que sabia que era recíproco...
Elisa sorriu encabulada. Em sua cabeça, sempre criou as mais ilustres fantasias de como seria a chegada de seu príncipe encantado, e de como ele seria...
Imaginava ele garboso e imponente, mas não imaginava que seria aquele índio exótico, e que ia encontrá-lo semi-nu, nadando no rio.
- Não ligo para status social! - Elisa se pronunciou de maneira séria - Eu valorizo o caráter. Mas não sou o tipo de mulher que está desesperada pra encontrar um marido... prefiro me dedicar à minha carreira. Digamos que eu não seja uma pessoa muito popular.
Ele estava completamente fascinado.
- Você fala muito bem pra uma moça da roça... que tipo de carreira tem?
Elisa sorriu orgulhosa.
- Sou professora. Convenci meu pai a montar uma escola na fazenda, e recebemos crianças de todas as fazendas vizinhas... os trabalhadores que registram os filhos na escola ainda recebem uma ajuda financeira, pra compensar a mão de obra... Mas já falamos muito de mim... me fale um pouco de você! Quem é, de onde vem, e o que faz pra viver? Você também fala muito bem pra ser um simples peão.
O estranho encarou Elisa com uma intensidade desconcertante. Ela mergulhou naqueles olhos azuis e sentiu o coração bater descompassado.
Quando ele falou, sua voz soava macia e aveludada.
- Eu sou daqui mesmo, mas passei muitos anos fora. Fui pra cidade grande... pra estudar um pouco e conhecer o mundo. Mas não encontrei o que queria. Agora já estou com 35 anos... é hora de assentar a cabeça e procurar um prumo na vida. Meu nome é Jonny Moon, sou escritor, e estou de volta pro meu pedacinho de chão.
Elisa estava boquiaberta. Por ter estudado fora, sabia que Jonny não era um simples peão, mas seu sobrenome não lhe dizia nada... não conhecia nenhuma família Moon.
Elisa levantou, com a ajuda de uma muleta improvisada, ajeitou as roupas e começou a arrebanhar suas cabras.
- Obrigada por me ajudar, senhor Moon! Serei eternamente grata. Mas acho que está na hora de ir. Te aconselho a não andar por essas terras... essa divisa já foi palco de mortes, e conheço gente que seria capaz de repetir a façanha. Eu ando por aqui sem que ninguém saiba, mas não é aconselhável.
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O RELICÁRIO
ChickLit"Uma pequena joia que presenciou uma linda história de amor. Uma rixa de família, que acabou em tragédia ao melhor estilo Romeu e Julieta. Isabela é o fruto de um grande amor, mas foi lançada sozinha no mundo e agora, só o pequeno relicário, herdado...