Quando Isabela chegou, já era tarde da noite, mas Justina ainda a esperava. Bela tentou fingir que não a viu, mas Justina a interceptou.
– O jantar está pronto, eu esquento num instante.
– Não preciso – Isabela disse zangada – Eu já comi fora e não estou com fome.
Mas Justina era persistente e não deixou espaço para argumentos.
– Eu sei que a senhorita não se alimentou direito. Todo mundo que come fora acaba comendo mal. Vamos lá, nada como uma comidinha caseira para repor as energias, o bebê precisa muito. Enquanto isso a gente conversa e põe logo um fim nessa pendenga.
– Que pendenga? – Isabela tentou se fazer de desentendida – não me lembro de nenhuma pendenga...
Justina largou o que estava fazendo e sentou-se de frente com Isabela.
– Por favor, menina, não quero que fique zangada comigo... Eu gosto muito de você, e foi por sua causa que larguei aquela casa e vim morar aqui. Gosto de você como se fosse minha filha e não quero que umas besteiras que falei sem pensar ponham um fim na nossa amizade. Por favor, perdoa o que falei!
Isabela ainda estava zangada e fez pouco caso de Justina.
– Não se preocupe, sei que largou seu emprego antigo e está com medo de perder esse emprego novo, mas juro que nunca vou falar mal de você para o Lucio, além do mais ele não te trocaria por mim.
Justina se magoou com o que Isabela falou.
– Não estou com medo de perder meu emprego... Não estou aqui pelo Lucio, estou aqui porque gosto da senhorita e quero te fazer companhia. Gosto de ti como se fosse minha filha, mas prometo que de hoje em diante vou te tratar como o que realmente é: minha patroa.
Isabela se sentiu uma canalha. Lembrou-se de como tinha chegado à casa do padrinho, assustada e deslocada, e Justina lhe acolheu como uma verdadeira mãe... Justina nunca poderia ser sua empregada, ela era muito mais que isso, era sua amiga do peito, e como sua amiga, tinha o direito de lhe falar umas verdades de vez em quando.
Isabela suspirou e tentou se desculpar.
– Por favor, Justina, eu que peço desculpas... fui muito mimada hoje. Acontece que você sempre faz questão de falar daquele homem. Sabe que me magoa, mas sempre cita seu nome. Ele é o homem que destruiu minha vida e minha inocência, e se eu imaginasse o tipo de canalha que ele era, nunca teria me aproximado dele. Você nunca poderia ser minha empregada, você é minha amiga, a única amiga de verdade que me restou.
– Se sou mesmo sua amiga se abra comigo – Justina falou séria – Na época da mansão, você me contava tudo e pedia conselhos, agora vive aí amuada pelos cantos, fazendo segredos e me tratando como se eu fosse apenas a empregada. Desculpa se falo dele, acontece que eu os conheço desde que eles eram bem pequenos e fazem parte da minha vida... Mas prometo não citar aquele miserável na sua frente. Eu imagino o quanto deve ser difícil...
Justina deu um forte abraço em Isabela e as duas fizeram as pazes.
Depois que Isabela terminou de comer, ainda se sentia sem sono e convidou Justina para conversar um pouco.
Isabela estava curiosa para saber mais sobre a família do padrinho, e Justina sentiu muito prazer em satisfazer sua curiosidade.
– Bem.. a dona Clara sempre foi doente dos nervos e o doutor Lucas achou por bem criar os meninos separados dela. Por causa de uma promessa que ela fez aos santos, acabou levando um dos meninos para ser criado pelos padres e o outro vivia fora, procurando tratamentos de saúde. Só lembro quando vinham passar os feriados importantes na mansão... E brigavam feito gato e cachorro.
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O RELICÁRIO
ChickLit"Uma pequena joia que presenciou uma linda história de amor. Uma rixa de família, que acabou em tragédia ao melhor estilo Romeu e Julieta. Isabela é o fruto de um grande amor, mas foi lançada sozinha no mundo e agora, só o pequeno relicário, herdado...