15 - Nova tutora

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O sol já tinha se posto no horizonte e a noite tingia a paisagem com sombras sinistras. Isabela deu uma última olhada em seu amigo para certificar-se de que ele era real e não fruto de sua imaginação, então o viu arrebanhando suas ovelhas e se dirigir ao mosteiro.

Isabela entrou no buraco do muro, arranhando-se e se esfolando nos galhos dos arbustos de cerca-viva.

A penumbra já cobria o pátio do colégio então ela entrou de fininho e tentou ir para seu quarto sem ser percebida, mas no corredor deu de cara com a irmã Piedade que a abraçou.

- Louvado seja Deus, onde você estava até uma hora dessas, meu amor? Estamos feito louca te procurando a tarde toda. Vamos para a sala da madre, ela ficou de tocar os alarmes caso você reaparecesse.

Isabela acompanhou a irmã piedade até a sala da madre. Sabia que seria castigada, mas a lembrança dos momentos que passou na companhia de seu novo amigo a fazia ter forças para enfrentar seu destino.

Quando entrou na sala, lá estava à madre acompanhada da irmã Beatriz que chorava desconsoladamente.

Quando Beatriz viu Isabela sã e salva em sua frente, correu, se ajoelhando e abraçando-a fortemente.

- Meu amor que susto você deu na gente! O que te deu na cabeça para fugir assim? Até ligamos para a polícia para te procurar, mas falaram que só poderiam te procurar amanhã depois de completada vinte e quatro horas. Oh Isabela, nunca mais faça isso com a gente...

Isabela retribuiu o abraço de Beatriz, sentindo-se feliz por estar de volta e de ser tão amada.

- Perdão mamãe Bia, eu juro que nunca mais vou fazer isso. Eu percebi que amo todas vocês. Também peço perdão do fundo do meu coração. Sei que mereço um castigo.

Beatriz percebeu desta vez que Isabela estava sendo sincera.

- Nós todas te perdoamos querida, mas infelizmente agora é tarde demais. Não cabe a nós decidir de que maneira você será castigada.

Isabela estava confusa, então a madre explicou.

- Sabe Vick, ultimamente você tem nos causado muitas dores de cabeça. O monsenhor ficou sabendo de sua rebeldia e esteve aqui pessoalmente. Por azar você estava desaparecida, então ele chegou à conclusão de que eu não tenho mais pulso firme para guiar as meninas. Se fosse uma das alunas, teríamos resolvido tudo mudando de colégio, mas como se trata de você, a solução foi encarregar uma pessoa especial para a sua educação. Eu sinto muito, mas se você está mesmo disposta a mudar, talvez não tenha problemas com ela.

Isabela acenou com a cabeça. A madre completou.

- Agora vá se lavar e se deitar, amanhã cedo será apresentada à sua nova tutora. Boa noite, meu anjo e boa sorte.

§§§

Beatriz estava assustada com os ferimentos nos joelhos de Isabela e quis saber onde ela se machucou.

- Onde esteve esse tempo todo?

- Atrás do muro do colégio. Tem uma paisagem muito bonita lá atrás e me fez pensar...

- Pensar no quê?

- Na vida, oras. Bianca fala mal de mim porque não sabe da vida maravilhosa que tenho. Sou órfã sim, mas tenho uma família maravilhosa que me ama e se preocupa comigo. Tenho uma mamãe postiça, mas todas as noites, ganho um beijinho gostoso de boa noite... E ela, o que tem? Pai e mãe de verdade, mas eles nunca estão com ela, dorme no meio de estranhos e nunca recebe beijo de ninguém. Sou muito mais sortuda que ela.

Beatriz estava impressionada com o discurso da menina e teve o pressentimento de que tudo aquilo não foi descoberto por ela sozinha.

Beatriz suspeitava que o anjo de Isabela estivesse trabalhando neste caso.

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