22 ‐ Visita inusitada

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As buscas continuaram. Todos os meios que dispuseram para encontrar Beatriz foram usados.

O doutor Lucas pensou em avisar a imprensa, mas a diocese preferiu manter a discrição e não permitiram o anúncio do desaparecimento de Beatriz, mas os pais das alunas foram avisados, de forma que se dispuseram todos a ajudar nas buscas.

Aproximadamente à meia-noite, Isabela foi bruscamente despertada pelo barulho do telefone.

Ansiosa, ela o apanhou, pensando que fossem noticias de Beatriz, mas era apenas o porteiro do prédio.

O porteiro parecia bastante aborrecido, e pediu que descesse até a portaria, pois algumas pessoas queriam falar com ela, mas não se identificaram, e por isso ele não podia permitir que subissem.

Isabela se arrumou do jeito que deu e desceu ansiosa, pois esperava que fossem notícias de Beatriz, mas quando se aproximou da portaria, se decepcionou, pois percebeu que eram pessoas estranhas.

O porteiro veio até ela antes que ela chegasse ás mulheres que a aguardavam, e falou furioso.

- Dona Isabela! Eu sei que a senhorita é nova por aqui, e não conhece bem as regras desse condomínio, mas eu quero avisar que não podemos permitir esse tipo de coisa. Esse é um bairro de pessoas decentes e não podemos permitir que pessoas dessa espécie venham freqüentar as redondezas.

Isabela olhou bem para as três mulheres à sua frente e não reconheceu nenhuma delas. Elas eram obviamente garotas de programa e estavam vestidas escandalosamente. Uma das garotas veio até eles e falou zombeteira.

- E aí tiozinho, tá falando mal da gente? Tá aí todo pomposo falando que não se mistura com gente da nossa laia, mas bem que você tava pagando o maior pau pra gente, não é? Principalmente pras pernas da minha amiga, e aposto que só não pediu nada pra ela porque tá sem dinheiro...

O porteiro encarou Isabela e falou chateado.

- Está vendo porque não podemos aceitar esse tipo de gente por aqui?

Isabela estava confusa, pois não conhecia aquelas mulheres e nem sabia o que elas queiram com ela. Resolveu tirar a limpo.

- Eu conheço muita gente, mas não sei quem são essas mulheres. - Isabela olhou curiosa para aquela mulher extravagante à sua frente e depois perguntou - Por favor, me desculpe, mas quem são vocês e o que querem comigo?

A mulher olhou com desprezo para o porteiro e depois avaliou Isabela com o olhar. Depois de decidir que gostava dela, a mulher falou com seu jeito relaxado.

- Não se preocupa não maninha, que a gente não quer causar problemas. Só viemos acompanhar nossa amiga até aqui... Ela não parece muito bem. Ela tava passando mal e eu perguntei se ela queria que eu a levasse para algum lugar, sabe como é, eu também já apanhei de cliente, acho que ela foi assaltada, ou apanhou do cafetão, sei lá, mas como eu ia dizendo, quando perguntei onde ela queria ir, ela me deu o seu endereço.

Isabela olhou para a mulher sentada na calçada, vulgarmente vestida, os cabelos emaranhados e a maquiagem escorrida por causa do choro e não conseguiu reconhecer quem era. Era bonita, trinta e poucos anos, e Isabela tentou lembrar de alguém que poderia ter um destino daqueles, mas não se recordou de ninguém. Ela não lhe era familiar em hipótese alguma.

- Pois eu acho que ela deu o endereço errado. Não a conheço de lugar nenhum.

- Seu nome é Isabela, não é? - a prostituta falou com convicção - Ela está em choque, mas lembrou direitinho do seu endereço e do seu nome. Ela falou até de um doutor Lucas... É o seu marido?

Isabela não entendia como aquela mulher sabia tanto sobre ela. Seria uma emboscada para pegá-la também? A prostituta continuou falando sem parar.

- Na verdade eu também não sei quem é. Ela apareceu na nossa zona sem mais nem menos. Sabe como é; as outras meninas queriam bater nela, a gente tem que guardar nosso território, mas vi que ela não estava legal. Uma vez aconteceu isso comigo, sabe, uns playboy não quiseram me pagar, e depois de me bater bastante, me soltaram noutra zona, e eu ainda apanhei das outras... Eu percebi que fizeram a mesma coisa com ela, por isso tive dó e resolvi ajudar. Quase desisti quando ela me deu esse endereço de granfinos. Ela só consegue chorar e falar seu nome. Ela disse que você, talvez possa ajudar.

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