25 ‐ Fazendo as pazes

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Isabela abraçou o travesseiro e chorou copiosamente. Queria detestar Lucio pelo que aconteceu à sua amiga, mas não podia culpá-lo, afinal, Maria pulou sem que ninguém esperasse.

Além do mais, sabia que Lucio não era um canalha; ao contrário, era o maior cavalheiro que já tinha conhecido e sabia que ele era bom demais para permitir de propósito que uma coisa dessas acontecesse à sua amiga.

Mas estava com a cabeça cheia, e só sabia que nunca mais poderia pertencer a Lucio sem sentir remorso pela amiga, e chorou até que o sono viesse.

Lá pelas tantas da madrugada, Isabela levantou para tomar um copo de água e se surpreendeu ao ver Lucio sentado no sofá, assistindo TV.

Isabela tentou passar direto, mas quando ele a viu, a seguiu até a porta de seu quarto.

Isabela não sabia o que dizer, mas estava apaixonada por Lucio e não podia deixá-lo pensar que tinha culpa de alguma coisa, por isso permitiu ele entrar para conversarem.

A princípio, Lucio sentou-se ao lado de Isabela e ficou calado, sem saber ao certo o que dizer. Depois perguntou com cautela.

– Você está mais calma agora?

Isabela soltou um longo suspiro, tentando achar algo pra dizer.

– Na verdade não! Você tem noção do que aconteceu? Foi como se eu tivesse aberto a sepultura da Maria e revirado tudo o que estava tranquilamente enterrado até agora. De todas as tragédias que aconteceram na minha vida, a perda da Maria foi de longe a mais dolorosa.

Lucio ficou em silêncio, então de repente pediu, ansioso.

– Você poderia me falar dela? Se isso não for te trazer más recordações... Eu a conhecia, mas não tanto quanto você, e gostaria muito de saber mais sobre ela.

Isabela sorriu de leve, um sorriso nostálgico, e depois de pensar um pouco falou.

– Maria e eu tínhamos muito em comum. Nós duas perdemos nossas mães, éramos parecidas fisicamente e até compartilhávamos o mesmo nome. Não havia nada que eu não fizesse que não compartilhasse com ela e acho que ela fazia o mesmo comigo.

Lucio sorriu com suas recordações.

– Isso eu posso imaginar. Ela falava tanto de você que certa vez chegamos a discutir por isso. Eu fiquei enciumado porque queria ser o centro do universo dela, mas se eu te conhecesse não teria aquela discussão. Vocês são mais parecidas do que imaginam. Estar com você é como estar com ela...

– Aí é que você se engana – Isabela fez um ar compenetrado – Estávamos sempre juntas em tudo o que possa imaginar, mas ao contrário do que pensam, Maria e eu éramos muito diferentes, mas acho que era justamente isso que tornava a nossa amizade tão forte. Nossas diferenças nos completavam. Eu era valente e ela era sensível; eu era intelectual e ela era prendada; eu era puritana e ela era atirada. Eu estava estudando para me tornar uma profissional independente enquanto Maria... Só queria arrumar um bom marido que a fizesse feliz e a transformasse numa boa dona de casa.

Lucio estava surpreso com o que Isabela lhe contou. Sempre tivera uma imagem totalmente equivocada de Maria; achava que ela era valente e também bastante intelectual, e nunca a viu como uma menina atirada, se bem que, pensando bem, eles até tiveram momentos bem íntimos para uma menina da idade dela, mas achou que isso tinha ficado entre eles...

– Ela nunca me pareceu atirada – Lucio comentou surpreso – Ansiosa sim, talvez por medo de não ter a vida inteira pela frente, mas nunca atirada.

Isabela estava surpresa. Será possível que Lucio achava mesmo normal uma menina da idade de Maria ter a experiência que tinha? Ou será que ele estava constrangido de dizer até onde os dois tinham ido?

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