7 - Providência divina.

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A primeira coisa que Elisa fez foi procurar um catálogo telefônico e anotar todas as escolas que pudesse, então procurou um guia e foi anotando todos os endereços, criando um mapa.

A princípio a idéia a agradou, mas não fazia idéia de quanto esse trabalho era penoso tendo que atravessar bairros e mais bairros a pé.

Apesar do cansaço, Elisa ainda conseguiu percorrer cinco escolas diferentes, mas em todas elas recebia recusas, pois todos percebiam sua gravidez e sabiam que logo ela daria a luz e teria que abandonar as aulas por conta da licença maternidade.

Apesar de ainda estarem no outono, em São Paulo, a terra da garoa, o frio era grande, e com o vento gelado a inversão térmica parecia ainda maior.

Elisa sentia os dedos duros, e o nariz parecia que ia congelar, ela nunca tinha visto um mês de março tão frio em toda a sua vida.

Saindo da última escola, ela caminhou por mais de meia hora até que encontrou um bairro tranqüilo, mais residencial.

Caminhou até que os seus pés já não agüentassem mais, e chegou numa grande igreja, onde tinha um relógio e verificou assustada que já eram mais de três horas da tarde.

O ar gelado fazia seus pulmões doerem absurdamente, então ela resolveu entrar na igreja para rezar um pouco.

Entrou no templo vazio, então se ajoelhou num dos bancos e fez uma prece silenciosa, pedindo a Deus que lhe mostrasse um caminho e que lhe desse a graça de arrumar um emprego e um lugar pra ficar.

Depois, o resto daquela hora ela simplesmente chorou angustiada com todas as desgraças que tinham lhe sucedido.

A dor em seus pulmões aumentava, mas apesar do conforto que o calor do templo lhe trazia, resolveu continuar sua jornada até chegar a hora de voltar ao albergh.

Ao sair do templo, foi atingida em cheio pelo ar frio que lhe provocou um acesso de tosse. Tossiu até perder as forças então percebeu atônita que estava expelindo catarro com sangue.

Sentou-se na calçada até que suas forças voltassem. As pessoas que passavam a olhavam com desconfiança.

Ao olhar as grandes casas a sua volta descobriu que o bairro onde estava era um bairro nobre. Ao olhar novamente para a igreja, percebeu que logo ao lado existia um mosteiro, e mais ao lado um colégio grande.

Reunindo suas forças, resolveu pedir emprego no colégio e se não conseguisse, pediria ajuda no mosteiro, para que pelo menos lhe dessem um prato de sopa.

O colégio era fechado por um grande portão e Elisa bateu várias vezes sem resposta. Num outro acesso de tosse, expeliu ainda mais sangue, o que a fez lembrar das palavras do médico que dizia que seus órgãos ainda não tinham se recuperado.

Assustada, começou a bater mais insistentemente, mas então sua vista escureceu e ela não viu mais nada.

§§§


Beatriz, uma garota de treze anos, veio abrir o portão e ficou chocada ao ver a mulher caída no chão com a boca ensangüentada.

Tentou manter a calma, pensou consigo mesma que defunta não bate em portas e a pouco ela ouviu as batidas, então não teria dado tempo da mulher morrer.

Receosa, tocou no rosto da mulher e sentiu o quanto ela estava gelada, então um pensamento assustador passou por sua mente: E se alguém tivesse matado a mulher e jogado ela ali? Em pânico pôs-se a gritar, então um bando de freiras veio em seu auxilio.

A madre superiora examinou o pulso dela e percebeu que estava viva. Ordenou que as irmãs a levassem para dentro, para um dos aposentos, então trouxe um pouco de álcool e colocou sobre o nariz dela para que pudesse recobrar a consciência.

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