Capítulo 45

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Sinto um vento leve tocar a minha pele, o cheiro gostoso de terra molhada que invadia as minhas narinas me enchiam de nostalgia. A música que tocava no rádio cabia bem para aquele o momento.

Oração ao tempo na versão da Maria Gadu, me fez fechar os olhos e lembrar dos longos cabelos pretos de minha vó, que tinha algumas partes grisalhas. As suas lindas maçãs em seu rosto e seus grandes olhos castanhos. Seu sorriso era luz, calmaria, tranquilidade. O jeito como ela gostava da casa cheia e toda vez que eu chegava me cobria de beijos.

São essas pequenas coisas que parecem que nem tem muita importância, mas eu digo é óbvio que tem, por isso é importante dizer as coisas porque a vida é um sopro.

Eu estava fazendo planos de passar os últimos momentos da vida dela com ela e quando tudo aconteceu foi muito rápido, não teve uma despedida ou um eu te amo decente.

Agora eu me encontro no carro novo de Danilo voltando pra casa, a minha casa que não será a mesma porque não terei mais ela.

Eu chorei, chorei desde que recebi a notícia e eu não paro, as lágrimas que caem do meu rosto não são de tristeza e sim saudade. Por que eu sei que ela está num lugar melhor e agradeço por ela ter ido tranquila sem sofrer e não ter que passar por toda a dor do processo da doença.

Vovó sempre foi corajosa nunca duvidei disso, abriu um restaurante, viveu com o grande amor da sua vida, formou uma família linda e tenho certeza que tudo valeu a pena pra ela.

É sobre isso, olhar o tempo passar sem se arrepender de nada que tenha feito ou do que não tenha feito, e se arrepender pelo menos você viveu. Você sofreu, chorou, amou, você é livre pra sentir todas as emoções necessárias, que muita das vezes a gente tem que passar por coisas para crescer talvez.

E se eu não tivesse aceitado vim pro Rio, provavelmente eu continuaria sendo a mesma garotinha com medo enfiada dentro de um quarto colorido com sonhos dentro de um computador.

O tempo ele não para, ele anda o tempo todo e você não percebe, um dia você uma versão sua e daqui a um mês você repudia a sua outra versão. É sobre isso, mudanças, tudo muda a cada segundo e ninguém tem o controle sobre isso.

– Quer que eu abaixe o ar? – Danilo pergunta educadamente.

– Está tudo bem – Digo baixo na intenção de não acordar Gustavo que dormia no banco de trás.

Isabella e André vinham seguindo a gente no outro carro, já que eles decidiram me dar apoio.

Fiquei feliz por ter eles por perto e sei que seria difícil toda aquela situação.

Danilo não poderia ficar muito tempo ele voltaria logo no dia seguinte, já Gustavo, André e Isabella, ficariam os três dias comigo.

Avisei minha mãe que logo providenciou as coisas, e sei que o clima não seria um dos melhores e mesmo assim eles insistiram.

Chegar em Ouro Preto foi reconfortante e ao mesmo tempo que estranho.

Eu nem passei na casa da minha vó como eu fazia sempre e fui direto pra casa.

As coisas estavam do mesmo jeito de quando eu vim pela última vez, o cheiro de limpeza ainda estava recente e fresco e penso que provavelmente meu pai tinha limpado tudo para chegada dos meus amigos, mesmo eu pedindo para que eles não se preocupassem com a nossa estádia.

– Vocês chegaram – Meu pai sorri simpático pra eles, enquanto minha mãe vem logo atrás eufórica.

– Vem eu ajudo vocês com a bolsa. O quarto da Marina está livre então vocês podem colocar as coisas de vocês lá. – Alertou minha mãe.

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