Capítulo 28

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A única coisa que ainda não tinha mudado nessa minha nova rotina, era os meus cafés da manhã.

Todo dia eu tomava café em uma padaria aqui perto de casa, era uns cinco minutos andando no máximo.

Desde que eu comecei a morar aqui, até mesmo quando eu ainda dividia o apartamento com a minha irmã, eu tomava café nessa padaria e escolhia sempre as mesmas coisa. O famoso misto quente do senhor Emanuel.

Emanuel é um senhorzinho que aparentava ter mais de sessenta anos, ele é dono desse estabelecimento, é tantos anos que eu venho aqui que ele já sabe até o meu nome e o que eu vou pedir.

Eu gosto de vim aqui pelo simples fato desse ser o único lugar que eu posso realmente ficar sozinho, nem Breno e nem Matheus acordavam cedo para me acompanhar, não que eu esteja reclamando, o que era ótimo ter um pouco de paz daqueles dois.

E fora que o café do senhor Emanuel, é o melhor que eu já provei, além de curar a ressaca, e ele faz um misto quente como ninguém.

Me sento no mesmo lugar de sempre, uma das últimas mesas daquela padaria, perto da janela, aonde eu tinha a visão completa da rua.

Eu gostava de tomar café vendo as pessoas andando na rua, eu gostava de analisar, a maioria que passava por alí, eram executivos, mães que levavam os seus filhos pra escola, pessoas atrasadas. Mas o que mais me chamava atenção, era um casal de idosos que todo os dias nesse mesmo horário, saia para correr.

Era lindo de ver, descobri que o senhor se chamava Ernesto depois de escutar a senhorinha reclamar que ele estava lento demais.

Era bonito a cumplicidade dos dois, ele a olhava de um jeito único, como se tivesse vendo a coisa mais importante da sua vida bem na sua frente. Eu não faço ideia se eles tem filhos, ou algo sobre vida a deles. Eu só sei que ficava fascinado com aqueles dois. Era notável que Ernesto só corria porque a sua esposa corria, e mesmo assim ele estava alí pra ela.

Eu me peguei pensando se um dia eu viveria um amor desses, e quando penso na possibilidade de viver a minha inteira com alguém, eu penso em ser a coisa mais assustadora do mundo. Mas o jeito que os dois se olham, que um sorrir pro outro, o jeito que ela segura a mão dele antes de começarem a correr, é nítido que alí há amor.

Eu devo achar tão absurdo, pelo fato de eu nunca ter presenciado um amor assim aonde eu vivo. Meus pais não são um bom exemplo, e meus avós maternos pelo que sei era tudo interesse de ambas as partes, e os paternos eu nem sei.

Para a minha família, só há amor quando os dois tem dinheiro e esse dinheiro se multiplica, caso o contrário é caso perdido.

Eu não tive um exemplo de amor. Mas olhar aqueles dois todos os dias, me dava esperança que o mundo não era tão ruim e cruel como eu imaginava, que o amor ainda rompia classe, línguas, religião e cor. Que o amor ainda é a cura para tudo de ruim que existe.

– Seu pedido – A garçonete me entregou o meu misto e o café em uma pequena bandeja.

– Obrigado – Agradeci a encarando e ela me parecia familiar – Eu te conheço? – A olhei mais uma vez.

– Ivy – Ela estendeu a suas mãos. Ela estava diferente daquela noite, quase não a reconheci vestindo aqueles trajes. Seus olhos não estavam cobertos com lápis de olho, e agora ela estava com uma blusa longa branca e calça jeans, longe de todo o preto daquela noite, e os seus cabelos que estavam soltos, hoje estão presos num coque alto, me dando a visão completa de cada traço do seu rosto.

– Desde quando você trabalha aqui? – Perguntei surpreso.

– Eu acho incrível que esses três anos que você vem aqui, nunca notou a minha presença – Ela indagou. – Eu não te culpo, eu sou apenas uma garçonete.

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