Capítulo 43

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Assisto Danilo pegar algumas coisas minha, enquanto coloca correndo em seu porta mala as nossas mochilas.

Parece que entrei em choque pois não consigo processar o que realmente estava acontecendo. Depois daquela ligação repentina da minha mãe, escuto Danilo me explicar atentamente que minha vó estava doente e que precisamos ir correndo para São Paulo.

Ele não me conta em detalhes, já que ele afirma que os meus pais deveriam explicar a situação.

E eu sigo sem saber o que está acontecendo enquanto o olho pegar a estrada sentido São Paulo. Não consigo pronunciar nenhuma palavra, tenho medo das explicações, medo de ser alguma coisa grave.

Tenho medo de perder a minha vó, já tinha perdido o meu avô e agora não poderia pensar na possibilidade de perder a minha companheira.

Eu nunca lidei bem com perdas, quando o meu avô se foi, eu passei semanas negando o fato e finalmente a ficha caiu eu passei semanas chorando e sem comer.

Tem gente que lidar melhor com isso, inclusive a minha irmã, que vivia argumentando que o meu avô estava num lugar melhor. Eu também acredito nisso, mas o problema é que eu não sei lidar com despedidas, não consigo dizer adeus.

– Você quer que aumente o ar? – Danilo pergunta depois de eu me cobrir com o casaco dele.  E então apenas nego com a cabeça. – Me diz alguma, estou ficando preocupado.

– É grave – Digo. – Minha vó nunca viria pra São Paulo se não fosse.

– Relaxa amor, deve ser só um susto.

– Não é, eu conheço a minha vó e sei que se ela me escondeu que estava doente, é porque ela sabe que é sério.

– Olha Paola...

– Não precisa me confortar, está tudo bem. – Minto.

Coloco os meus fones na intenção de conseguir tirar um cochilo, enquanto a back to Black da Amy Winehouse, soa em meus ouvidos. Fecho os meus olhos na intenção de afastar todos os pensamentos negativos que eu estou tendo, até finalmente pegar no sono.

📚📚📚

Faltava apenas um dia para a véspera de natal, uma data que a minha vó adorava comemorar, me lembro dela acorda cedo para fazer os preparativos da ceia.

O cheiro bom das rabanadas entravam em minhas narinas todo dia 24 de dezembro de manhã. Só que dessa vez a minha vó estava em São Paulo e sem a primarada de sempre.

Sinto o meu coração acelerar de maneira repentina vendo aquele apartamento tão vazia daquele jeito, as lembranças de quando o meu avô faleceu veio em minha mente.

Me lembro dos olhos marejados de meu pai, enquanto vovó se derrubava em lágrimas, era natal, umas dez pras onze quando recebemos a notícia, ele foi em paz, tranquilo e sereno.

Eu sempre achei que o vovô sabia que tinha chegado a sua hora, forma como ele me beijou em sua última noite, o modo como ele sorria e dizia aos seus filhos o quanto os amava, era um presságio.

Vovô nunca foi de beijos, essa parte ele deixava pra minha vó. Sempre foi pulso firme, amava a sua família, adorava um pão de queijo com goiabada, andar a cavalo e todos os seus netos era trenheira.

Eu queria ter vivido mais com o meu avô, ele partiu quando eu tinha seis anos. Mas o seu cheiro bom de canela,  seus cabelos grisalhos e o sorriso gentil, são as únicas coisas que eu me lembro do senhor Francisco.

Querida Eu!Onde histórias criam vida. Descubra agora