Capítulo 50

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Era setembro, dois meses depois do meu aniversário de quinze anos. Eu já estava no primeiro ano do ensino médio e já sabia exatamente o que eu queria fazer.

Eu estava animada aquele dia porque seria uma data comemorativa na minha antiga escola. O dia da profissão vinha na intenção dos alunos escolherem algo que gostaria de fazer pelo resto da vida.

Eu me lembro perfeitamente daquela manhã cinzenta, aonde eu me enrolei no meu antigo casaco azul e me acabei de rosquinha no café da manhã.

Minha mãe ainda não me deixava tomar café, mas eu sempre bebia escondido quando ninguém estava olhando.

Meu pai me levou para escola assim como ele fazia todos os dias antes de ir trabalhar e me deu um beijo na testa perto da entrada antes de dar a partida.

Eu estava animada para apresentação passei a noite toda decorando o cartaz com glitter e caneta colorida. Eu poderia levar o notebook pela primeira vez para escola e isso me deixava eufórica.

Eu nunca fui uma criança de falar muito, mas eu sempre gostei de contar história e apresentações na escola antes daquele ocorrido.

Assim que eu entrei na minha sala de aula, todo mundo parecia se aprontar para apresentação onde minha professora de literatura Carla, já se encontrava na sala.

Eu era a número onze através do sorteio que havia feito eu fiquei lá assistindo as dez primeiras apresentações.

Os alunos não estavam nem um pouco motivados e as apresentações pareciam ter sido decorada por um texto no Google.

A minha professora também não parecia muito contente também já que ela sempre parecia fingir um ânimo durante cada apresentação.

Aquela escola não tinha das melhores infraestrutura e estava passando por uma péssima fase.

A escola não estava recebendo as verbas necessárias e o professores estavam com o pagamento atrasado. Carla era a única que a ainda tentava manter o nosso espírito para um futuro melhor vivo. Mas aquela semana havia sido difícil pra ela, já que cortaram a sua luz e ela recebeu uma carta de despejo.

Eu ainda não sabia, mas semanas depois ela largou a nossa turma para dar aula em uma escola em Belo Horizonte com o discurso de que precisava resolver a vida dela. Eu não a culpo na verdade hoje em dia eu entendo os seus motivos.

Ela era mãe solteira de uma garotinha de três anos e por isso ela precisou ir embora.

Eu nunca vi alguém dar aula com aquele brilho nos olhos, aquela paixão de quando você ama aquilo que faz.

Ela não se importou com os alunos fingindo empolgação nas apresentações e num ato monótono de ler e segurar o cartaz.

A realidade é que ninguém sabe exatamente e com toda a certeza do mundo o que vai fazer pelo resto da vida quando se está no início do ensino médio e então todos achavam aquele dia da profissão um saco. Menos eu, assim como para alguns a feira de ciência era um marco, o dia da profissão pra mim era o único dia que eu poderia falar de literatura sem parecer uma nerd esquisita.

Desde dos meus dez anos que eu falo sobre ser escritora, trazendo meus livros favoritos ou até mesmo participando dos concursos literários.

Acontece que para muitos daquela escola eu era apenas a nerd esquisita que ninguém ligava ou fazia algum tipo de questão, só quando precisava perguntar algo da minha irmã que ao contrário de mim sempre foi o centro das atenção.

Querida Eu!Onde histórias criam vida. Descubra agora