Capítulo 19

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"A vida vem em ondas, como um mar num indo e vindo infinito "

Lulu Santos







– Você pode pelo menos mudar essa cara – Minha irmã se virou pra mim por um instante sem tirar a atenção do trânsito.

– E você quer que eu faça que cara? – Perguntei. – A nossa mãe precisa esperar o nosso pai ir viajar pra poder ver os filhos, isso é absurdo.


Hoje o sol se abriu de maneira que nenhuma nuvem aparecia, um domingo perfeito para se unir com a família num churrasco, ou ir até a praia e só voltar a noite.

Eu não me lembro de muitos domingos em família, eu só sei que quando o sol estava assim, meu pai nos levava até a praia, porque ele sabia o quanto a minha mãe adorava o mar.

Minha mãe antes de conhecer o meu pai, tinha o espírito livre. Queria viajar e conhecer o mundo antes de casar e ter filhos. Pena que esse sonho foi interrompido antes que ela pudesse viajar pra qualquer lugar.

Eu fico pensando se ela não se arrepende de ter se casado com o meu pai, e ter perdido a liberdade que ela tanto quis um dia. Porque o meu pai é totalmente o contrário da minha mãe, meus avós foram militar, então imaginem a criação do meu pai.

Meu pai vivia pelo trabalho, quase não parava em casa, e minha mãe vivia pela gente, ela cuidava da casa, cuidava da gente, que eu acho que ela esqueceu de si cuidar.

Olhando pra minha mãe nesse instante, no momento em que ela abri a portão da minha antiga casa, e seus olhos se encontram com os meus, eu não vejo a mulher que antes sorria para o mundo, que encantavam todos com a sua beleza. Seus olhos que antes tinham luz, agora estão cansados, seus cabelos que viviam soltos, agora estão presos. Olhar a minha mãe daquele jeito me deixava apreensivo.

Quando a gente cresce passamos a enxergar algumas coisas que antes não faziam sentido.

Eu passei a entender que não havia amor no relacionamento dos meus pais, talvez algum dia teve, mas com o passar dos anos a única interação que eu via dos dois, era o meu pai gritando com ela, anulando as escolhas da minha mãe, a proibindo de sair com as amigas que agora ela nem tem mais, proibindo de usar os vestidos que ela tanto gostava, e aos poucos ela foi desaparecendo.

Eu não concordo e nunca concordei com o jeito que ele trata a minha mãe. Talvez seja por isso que eu bata tão de frente com ele. Eu queria tanto que a minha largasse dele, mas eu sei que por parte dela tem amor. Um amor que eu jamais vou entender, ela nunca deixaria o meu pai, mesmo que pra isso ela tenha que deixar de ser o que ela era.

Eu não sei muitas coisas sobre o amor, mas sei que o amor não deve doer.

– Eu fiz a sua comida favorita filha – Minha mãe colocou o prato de lasanha na mesa para que a gente se servisse – E pra você Dan. – Ela abriu um sorriso mostrando a torta de limão que ela mesmo tinha feito, porque sabia que era a minha sobremesa favorita.

– Hum... Está uma delícia – Minha irmã se deliciou levando uma garfada daquela lasanha, até a boca.


A casa dos meus pais continua a mesma coisa, exceto pela pintura da casa que agora está reformada. Também, eu e Isabella brincamos muito de colorir a parede, ela sempre me induzia a pintar e depois saía como se nada tivesse acontecido, jogando a culpa toda em mim.

Querida Eu!Onde histórias criam vida. Descubra agora