Capítulo 29

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Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros

— Primeiros erros.



Eu não tenho muitas lembranças da minha mãe feliz, mas as poucas que eu tenho estão guardadas na minha memória que de fato eu nunca irei esquecer, daquele sorriso largo que evidenciava as suas lindas maçãs no formato do seu rosto.

Minha mãe ria solto e alto, sempre cobria a boca porque achava os seus dentes esquisitos. Fechava os olhos toda vez que algo a aborrecia e cruzava os braços quando estava prestes a dar bronca.

Eu não fui o filho perfeito e talvez eu esteja longe de ser. Mas ela sempre tentava ver o meu lado, nas reuniões da escola, com a banda. Ela via um potencial em mim que talvez nem eu tenha enxergado.

Mãe é uma palavra tão pequena para um significado tão grande, elas fazem tudo por você, ela vai achar que você é perfeito mesmo com todos os seus defeitos, vai te amar incondicionalmente e te apoiar nos seus maiores sonhos. As mães sempre sabem quando você está doente antes mesmo de acontecer, talvez elas tenham um sensor mágico para algo de ruim que aconteça com a gente.

Mas os filhos não tem esse sensor mágico e muito menos sabem quando as mães estão doente, porque elas disfarçam muito bem.

Eu já li e reli aquela carta uma quantidade absurda de vezes, eu tentava não culpar, tentava expulsar todos os pensamentos ruim que eu pensava. Mas era difícil, eu deveria ter estado lá pra quando ela precisou, uma única vez e essa única vez foi o suficiente para tudo acontecer.

– Eu sinto muito – Paola me olha com lágrimas em seus olhos depois de ter lido a carta. – Você não teve culpa meu bem. – Ela acaricia os meus cabelos enquanto eu me deito em seu colo.

– Eu me odeio. – Digo.

– Não diz isso, você só está sentindo a dor do luto porque a sua ficha finalmente caiu. – Paola afirma.

– Todos os dias uma parte de mim acreditava que ela poderia voltar a qualquer momento e que tudo isso era apenas um pesadelo.

– Essa carta só deixou tudo mais real né. – Paola sugeri e eu concordo.

– Essa carta só deixou mais claro que a minha mãe tinha certeza daquilo que ela fez.

– Sim, mas para muitas pessoas que estão infelizes, a morte é a única opção para elas acabarem com toda a dor que estão sentindo.

– Você acha que se eu...

– Continuaria a mesma coisa – Paola me interrompe – O fato de você está uma parte do dia com ela não anularia todo o resto. Sua mãe não estava feliz, tinha a relação com o seu pai, sua vó a sua tia.

– Todos sugavam dela.

– Sua mãe amou demais o seu pai, amou a sua vó, amou a sua tia e isso de um certo modo fez com que ela se anulasse. Ela se perdeu consigo. – Paola para de falar, quando o meu celular não para de tocar de maneira incansável, e pelo visor eu vejo o nome do Patrick escrito.

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