Querida Eu!

Capítulo 26

"Falta de casa, mas medo de ficar
E perder o mundo acontecendo sem parar
Mente cheia de sonhos e o meu corpo a mil."

— Música secreta

Respiro fundo umas três vezes, pensando se foi uma ótima ou péssima ideia eu estar aqui. A sensação que eu estou sentindo é a de ter um ataque cardíaco a qualquer momento de tão  nervosa que eu estou, junto com o meu coração que não para de bater de maneira agitada no meu peito.

Eu poderia simplesmente dar meia volta e ir embora, e fingir que o Rio de janeiro foi um surto imaginário que eu tive, que nunca aconteceu. Mas eu estaria mentindo pra mim, e não estaria fazendo a escolha certa e provavelmente me arrependeria pelo resto da vida.

Então quando eu decidi entrar no avião de novo e voltar pra cá, eu decidi também encarar os milhões de medos e incertezas que habitam em mim.

Respiro fundo mais uma vez antes de entrar, naquele grande prédio.

Assumi a melhor postura que eu pudi, fingi que eu não estava com as pernas trêmulas, que eu soava frio, e as minhas mãos soavam de nervoso.

– Você veio – Miguel sorriu assim que me viu.

– Pensei que você tivesse desistido, não veio ontem – Renata debochou.

– Eu não estava me sentindo bem.

– Ótimo, só não estrague as coisas dessa vez. – Ela disse e depois saiu como se fosse a melhor pessoa desse mundo.

– Não liga pra ela, só está tendo um péssimo dia. – Miguel me confortou.

– E ela sempre desconta em mim.

– Só respira e calma – Miguel fez graça. – Fiquei feliz que você voltou.

– Eu só não vim um dia e as pessoas acham que eu morri. – Zombei.

– Na verdade eu achei que você tinha desistido.

– Jamais, na real eu cheguei a pensar e depois me dei conta de tudo que eu consegui até agora. Não valeria a pena.

– Eu te traria de volta pra cá, você não iria se livrar de mim tão fácil – Miguel sorriu e pela primeira vez eu pude notar o quanto era lindo quando ele fazia isso.

Encerrei a conversa com o Miguel e fui direto para a toca do leão.

Se tem uma coisa que eu precisava hoje era paciência. Pois Renata parecia que tinha enlouquecido.

Assim que cheguei em sua sala, notei o completo caos que tinha se formado naquele pequeno espaço.

Tinha caixa, folhas de papel, arquivos, livros, tudo espalhado pelo chão.

– Você vai ficar só olhando? – Ela perguntou, o que me faz acordar dos meus pensamentos.

– Pra quê tudo isso? – Perguntei sem acreditar no que de fato estava acontecendo.

– A minha vó sempre me disse que quando estamos numa fase ruim, é ótimo se organizar.

– E com organização você quer dizer? – Perguntei ainda sem entender, pra onde essa conversa iria.