Acordo quando o sol começa a incomodar. Quando viro para olhar a hora, também vejo a data e meu coração aperta.
Sem muita vontade me levanto indo atrás de Lisandra, mas não a encontro em lugar nenhum. Talvez seja melhor assim hoje, ela deve estar magoada pelo que falei e também estou chateado por ela não honrar com sua palavra, seria um dia péssimo para nós dois.
Faço café no automático, a cena e o silêncio me lembram os primeiros meses de luto, e até mesmo os meses antes de Lisandra e o bebê entrarem na minha vida.
Dois anos completos sem as pessoas que mais amei nesse mundo e sem ter tido a chance de conhecer um deles. Hoje é mais fácil que um ano atrás, mas ainda parece tão recente que se eu fechar os olhos as memórias ainda ainda estão totalmente vívidas.
Repetindo o mesmo ritual, volto para o quarto e pego a caixa que guardei com algumas fotos e coisas de Ellie e o bebê.
Olho as coisas, sorrio com saudade mas só até a culpa me atingir em cheio, não sentia ela ha algum tempo. Mas nada, nunca vai fazê-la sumir, eu deveria tê-lá levado ao hospital, eu deveria ter insistido, não deveria ter ido trabalhar, eles morreram porque eu deixei.
Sinto falta de Lisandra, achei que preferiria passar esse momento sozinho, até avisei a ela sobre isso...mas apesar de tudo, gostaria de tê-la ao meu lado agora.
Ligo, mas o celular nem chama e não tenho escolha a não ser esperar que volte. Me deito e apenas vivo o luto desse dia, revivendo cada segundo do dia várias e várias vezes.
Não posso deixar de pensar que Lisandra tornou as coisas mais fáceis, mas também não entendo porque ela mentiu para mim. Estávamos construindo uma base sólida, ela estava se recuperando, porque ceder assim? Por que esconder de mim?
Quando chega o horário do almoço e ela não volta, começo a ligar sem saber para onde pode ter ido e começando a ficar preocupado e sem saber o que fazer do mesmo jeito que o dia anterior.
Vou até o apartamento de Regina e bato com esperança de ela saber de algo ou até mesmo de estar com ela.
- Ah, oi Henrique - me recebe sorrindo mas logo fica séria.
- Lisandra está aí?
Ela estranha e nega.
- Aconteceu alguma coisa?
- A senhora sabe onde ela pode ter ido?
- Não, ela não disse nada.
Apenas assinto e entro. No telefone tem muitas chamas de casa, mas nada dela. Jogo o celular com raiva no sofá e me sento. Quando ela aparecer a primeira coisa que vamos resolver serão esses sumissos, ela nunca mais vai sair sem me avisar ou ficar sem atender o telefone.
E quase como combinado ele toca e o pego estranho ao ver o número de Jeniffer na tela.
- Jeniffer, aconteceu alguma coisa?
- Ligaram do hospital, Lisandra deu entrada com overdose. Estou te mandando a localização e você me encontra lá.
Fico estático por no máximo um minuto antes de correr para colocar uma blusa e sair tentando não pensar na besteira que ela fez e mais uma vez não me culpar por isso.
Assim que chego peço informação e me direcionam até a ginecologia onde encontro Jeniffer na recepção assinando alguns papéis.
- Como ela está?
Ela me olha, com o mesmo olhar que os médicos que me deram a notícia da morte de Ellie e meu peito aperta.
- O coração dela parou, mas conseguiram trazê-la de volta - sua expressão não dá margem para alívio - O bebê entrou em sofrimento fetal e estão fazendo uma cesária de emergência.
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Mesmo que você me deixe - Série Confiança
RomanceSérie Confiança - Livro 2 ~Lisandra é uma garota perdida, abandonada e sem nenhuma expectativa de vida. Sendo obrigada a viver numa região perigosa, ela acaba se envolvendo com drogas, traficantes e prostitutas, e como se já não fosse o ruim o basta...