Não houve um só momento dessa gravidez que eu tenha me sentido feliz ou que tenha desejado essa criança. Ela esta atrapalhando minha vida, se tornou um empecilho e não que eu tenha grandes planos, mas definitivamente estragou qualquer um que viesse a ter. A questão, é que eu nunca quis que essa criança estive bem ou saudável como desejo agora olhando para a maquina de ultrassom.
Estou quase com três meses completos e diferente da primeira vez que fiz a ultrassom ainda na terceira semana de gravidez, agora já consigo ver que o feto começa a parecer com um bebê, vejo a cabeça, o corpo, bracinhos...uma calda? É feio e assustador.
Ela liga o som e uma frequência cardíaca fraquinha e totalmente descontinua é ouvida, chego a ficar com pena do bebê.
- Ele está com o tamanho bom, mas o coraçãozinho está bem fraco, melhorou muito pouco desde ontem, é compreensível, segundo sua ficha foram muitos dias de intoxicação.
- Vai haver sequelas? – Henrique pergunta
- Olha – ela suspira – Eu não vou mentir, é exatamente nessa fase que se inicia a formação do sistema nervoso e do aparelho digestivo, circulatório e respiratório. Dizer que não vai haver seria muita prepotência minha, mas tão pouco posso afirmar que haverá, ainda é muito pequeninho, ele ainda estar lutando é um milagre e diz muito sobre ele – ela da um pequeno sorriso – Gosto de pensar que ele tem muita vontade de vir ao mundo.
As palavras dela soam como um tapa na minha cara.
- Vamos ter que manter o pré-natal com mais frequência, até que se possa dizer ao contrário essa é uma gravidez de risco, sem estresse, sem esforço e pelo amor de Deus, sem drogas, álcool ou qualquer coisa que possa prejudicar esse bebê.
Assinto veemente.
- Vamos deixar você mais algumas horas em observação ok?
Ela sai e Henrique a acompanha provavelmente para tirar algumas dúvidas. Coloco a mão em minha barriga e suspiro totalmente arrependida.
- Me desculpa – sussurro – Se você lutar só mais um pouquinho eu prometo que faço todas as suas vontades até você nascer.
Jogo a cabeça para trás e noto pela primeira vez no quarto um crucifixo pendurado e acabo lembrando das conversas que tenho regularmente com a mãe de Henrique, ela sempre puxa a conversa para o lado religioso, acho que de cada dez frases, seis envolvem Deus.
- Ela acha que você pode sair pela tarde – ele volta meio agitado ainda – Como está se sentindo? Está com dor? Desconforto?
- Estou bem. Você não tem que estar na empresa? Posso ir para casa sozinha.
Ele fecha o rosto nada contente com minha sugestão, talvez não confie mais em mim para ficar sozinha com o bebê, o que é bem irônico porque ele está dentro de mim.
- Não vou mais deixar você sozinha.
- Vou ser vigiada constantemente, já entendi – e para ser sincera eu não me oponho. Não tem nem vinte e quatro horas e eu já estou sentindo as dores da abstinência.
- É para o seu bem.
- Eu sei, não se preocupe.
Ele torna a sentar na poltrona e eu fico olhando para o nada, meio frustrada, meio contente, totalmente confusa.
- Sua mãe me disse uma vez que Deus tem um plano para todos nós, que o que acontece em nossa vida tem um propósito, acha que comigo também é assim? Que um dia vai melhorar? Você acredita em Deus?
- Minha mãe sempre falou dele.
- Acho que já estou tão perdida que ele nem deve lembrar que eu existo.
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Mesmo que você me deixe - Série Confiança
RomanceSérie Confiança - Livro 2 ~Lisandra é uma garota perdida, abandonada e sem nenhuma expectativa de vida. Sendo obrigada a viver numa região perigosa, ela acaba se envolvendo com drogas, traficantes e prostitutas, e como se já não fosse o ruim o basta...