Capítulo 11- Lisandra

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Não houve um só momento dessa gravidez que eu tenha me sentido feliz ou que tenha desejado essa criança. Ela esta atrapalhando minha vida, se tornou um empecilho e não que eu tenha grandes planos, mas definitivamente estragou qualquer um que viesse a ter. A questão, é que eu nunca quis que essa criança estive bem ou saudável como desejo agora olhando para a maquina de ultrassom.

Estou quase com três meses completos e diferente da primeira vez que fiz a ultrassom ainda na terceira semana de gravidez, agora já consigo ver que o feto começa a parecer com um bebê, vejo a cabeça, o corpo, bracinhos...uma calda? É feio e assustador.

Ela liga o som e uma frequência cardíaca fraquinha e totalmente descontinua é ouvida, chego a ficar com pena do bebê.

- Ele está com o tamanho bom, mas o coraçãozinho está bem fraco, melhorou muito pouco desde ontem, é compreensível, segundo sua ficha foram muitos dias de intoxicação.

- Vai haver sequelas? – Henrique pergunta

- Olha – ela suspira – Eu não vou mentir, é exatamente nessa fase que se inicia a formação do sistema nervoso e do aparelho digestivo, circulatório e respiratório. Dizer que não vai haver seria muita prepotência minha, mas tão pouco posso afirmar que haverá, ainda é muito pequeninho,  ele ainda estar lutando é um milagre e diz muito sobre ele – ela da um pequeno sorriso – Gosto de pensar que ele tem muita vontade de vir ao mundo.

As palavras dela soam como um tapa na minha cara.

- Vamos ter que manter o pré-natal com mais frequência, até que se possa dizer ao contrário essa é uma gravidez de risco, sem estresse, sem esforço e pelo amor de Deus, sem drogas, álcool ou qualquer coisa que possa prejudicar esse bebê.

Assinto veemente.

- Vamos deixar você mais algumas horas em observação ok?

Ela sai e Henrique a acompanha provavelmente para tirar algumas dúvidas. Coloco a mão em minha barriga e suspiro totalmente arrependida.

- Me desculpa – sussurro – Se você lutar só mais um pouquinho eu prometo que faço todas as suas vontades até você nascer.

Jogo a cabeça para trás e noto pela primeira vez no quarto um crucifixo pendurado e acabo lembrando das conversas que tenho regularmente com a mãe de Henrique, ela sempre puxa a conversa para o lado religioso, acho que de cada dez frases, seis envolvem Deus.

- Ela acha que você pode sair pela tarde – ele volta meio agitado ainda – Como está se sentindo? Está com dor? Desconforto?

- Estou bem. Você não tem que estar na empresa? Posso ir para casa sozinha.

Ele fecha o rosto nada contente com minha sugestão, talvez não confie mais em mim para ficar sozinha com o bebê, o que é bem irônico porque ele está dentro de mim.

- Não vou mais deixar você sozinha.

- Vou ser vigiada constantemente, já entendi – e para ser sincera eu não me oponho. Não tem nem vinte e quatro horas e eu já estou sentindo as dores da abstinência.

- É para o seu bem.

- Eu sei, não se preocupe.

Ele torna a sentar na poltrona e eu fico olhando para o nada, meio frustrada, meio contente, totalmente confusa.

- Sua mãe me disse uma vez que Deus tem um plano para todos nós, que o que acontece em nossa vida tem um propósito, acha que comigo também é assim? Que um dia vai melhorar? Você acredita em Deus?

- Minha mãe sempre falou dele.

- Acho que já estou tão perdida que ele nem deve lembrar que eu existo.

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora