Capítulo 28 - Lisandra

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Observo Regina bater a massa  do bolo dentro do pote com uma colher enorme quase salivando para provar um pouco.

Ela ri de mim e me contenho me obrigando a ficar quieta no lugar.  Meus desejos por doces estão aumentando gradativamente, então pensei que em vez de perturbar a vizinha, eu pudesse apenas aprender como ela faz. Bolo caseiro é sempre, sempre melhor e os de Regina extrapolam o limite da satisfação.

- Minha mãe abriu um bistrô quando nos mudamos e eu segui com ele depois que ela se foi - me conta - E agora a minha filha está lá comando tudo e o transformando num restaurante popular bem conhecido.

- Então o talento é de família - brinco

- Minha neta está querendo se desbandar e ser advogada - balança a cabeça rindo - Acho bom ela fazer outro filho para assumir o negócio ou eu mesma volto pra lá.

Rimos.

- Minha esperança é que ela mude de ideia, ela adora cozinhar biscoitos comigo e não sei se confio em outra pessoa que não seja da família para cuidar dos negócios.

Ela coloca tudo na forma e começa os preparativos do recheio que pelo menos nisso eu pude ajudar.

-Mas e você querida? Algum talento de família?

- Não - tento não deixar o assunto me desanimar - Minha mãe se casou nova e parou os estudos, ela sonhava em ser enfermeira, falava tanto sobre isso que quando chegou a minha vez decidi seguir por ela.

Não deu muito certo.

- Isso é muito bonito - sorrir complacente - E seu pai?

- Nunca foi muito presente - é a resposta que eu sempre dei ao longo da minha vida para não contar o que acontecia na minha casa e gerar tumulto.

Fui tão boba.

O encontro com minha mãe fica rondando minha mente várias e varias vezes. Me recuso a acreditar que ela acredita naquele homem.

Quão burra pode ser uma pessoa? Depois que tudo que passamos, tudo que enfrentamos, de tudo que ele já fez! Nunca engoli os motivos dela continuar num casamento abusivo e violento.

Desde que eu comecei a entender as coisas isso me incomoda, não entendo como ela aceita tudo calada, não acredito que compactuei tanto tempo com isso, que deixei ela me convencer que seria apenas uma fase, nunca é.

- Você sempre fica tristinha assim - O comentário de Regina me traz de volta e a pego me encarando - É só ficar sozinha ou sem fazer nada que seu sorriso morre e você fica perdida em sua própria mente. Você está bem de verdade?

- Estou - dou de ombros e sorrio, tenho passado muito tempo com ela e já cogitei dividir minhas dores. Mas para quê? Ninguém pode mudar o que já aconteceu.

- Henrique era assim também, logo que ele se mudou me enchia de pena vê -ló triste, era quase palpável - ela fica triste ao lembrar - Você só sorrir de verdade quando está com ele ou fala dele.

E mesmo não querendo provar esse ponto, meu sorriso tem vida própria e aparece largo em meu rosto fazendo ela gargalhar.

- É exatamente assim! - comemora -Vocês são dois bobos apaixonados.

Reviro os olhos e um segundo depois a porta do apartamento é aberta e a razão do meu sorriso aparece no hall.

- Boa tarde senhoritas - cumprimenta surpreso ao ver Regina aqui também.

- Boa tarde Henri - ela o cumprimenta com um grande sorriso.

Ele se aproxima tirando o blaser e me dá um selinho. Já aceitamos que não conseguimos esconder nossa relação dela.

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora