Capítulo 23 - Lisandra

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 - Você sente vontade fazer uma faculdade?

A pergunta vem assim que me sirvo de uma generosa fatia de bolo de chocolate gelado.

- E o que te faz achar que eu não tenho uma?

Ele fica acanhado e dá de ombros. Não julgo, se encontrasse comigo mesma eu pensaria que era apenas uma drogada também.

- Eu tranquei, então dá no mesmo – respondo colando uma colher com a mesma generosidade na boca com a qual me servi e suspiro de satisfação.

- Qual curso?

Sorrio ardilosa.

- Enfermagem - Ele arregala os olhos e sorrio triunfante - Não éramos ricos, mas minha mãe se esforçava para que eu realizasse esse sonho.

Mais deles do que meu, mas não me importava de fato.

- Por quê trancou?

- Vejamos... – finjo pensar e ele revira os olhos tirando um sorriso meu, ele tem estado bastante rebelde ultimamente, sou uma péssima influência – Foram tempos difíceis, mas já passou.

O silêncio encontra lugar na nossa conversa e percebo que fico brincando com o bolo em vez de comê-lo, então corrijo isso antes que meu apetite vá embora.

- Eles tentaram ajudar você com as drogas?

Hoje é ele está curioso!

- Por que tantas perguntas de repente? – questiono e ele desvia o olhar do meu.

- Só quero conhecer você melhor.

Sorrio maliciosa.

- Por quê?

- Seria no mínimo interessante conhecer a pessoa com quem divido a cama toda noite não acha? – diz ríspido e não gosto disso.

Volto minha atenção para o bolo e como em silêncio.

A vozinha irritante da dra. Elaine vem a minha mente me perguntando se eu estaria pronta para contar o meu passado para ele quando surgisse essa conversa. Lembro bem a resposta que eu dei a ela, ele não precisa saber de nada.

- Talvez você não queira saber – murmuro e me levanto passando pelo balcão.

Coloco o pires na pia passando a lavar a louça com raiva, raiva de mim mesma e da merda que é minha vida, das escolhas que eu fiz e até onde eu cheguei por nada!

Jogo o copo com força fazendo a água espirrar e desligo a torneira fechando os olhos e respirando fundo.

Droga.

Sinto os braços de Henrique me envolver e na mesma hora o choro vem a garganta, o arrependimento batendo a porta outra vez.

Ele puxa meu corpo para o dele e me aperta em seus braços, beija meu ombro e escora a cabeça na minha.

- Eu não sei porquê você acha que eu não gostaria de saber sobre o seu passado, mas me entristece que não confie em mim – meu coração aperta – Ou que esse tempo que estamos juntos você não me conheça a ponto de saber que não vou te julgar.

Sorrio em descrença.

- Até um santo me julgaria, e por mais que você seja a pessoa mais próxima de um, ainda é um ser humano.

Apoio minha cabeça na dele soltando um suspiro.

- O importante é que você está mudando. Certo?

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora