Capítulo 4 - Lisandra

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Quando Henrique disse que morava num apartamento eu achei que fosse um apartamento comum, daqueles de homem solteiro, tudo bem que não é nenhuma suíte enorme do tamanho de uma casa, mas era bem maior que um apartamento comum de classe média. Para começar eram três quartos grandes, uma sala bem decorada e uma cozinha como daquelas de novela, ver o banheiro me fez ter vontade de tomar banho e nunca mais sair de lá de dentro.

Quando ele me fez a proposta eu sabia que qualquer coisa era melhor do que a espelunca que estava morando na comunidade, pude perceber pelo carro que ele era bem sucedido, mas isso aqui senhoras e senhores, para mim é o paraíso! E eu não sou idiota, se essa criança pode me dar alguns meses de luxo, vou agarrar com todas as forças e aproveitar ao máximo.

- Já arrumou suas coisas? – ele pergunta quando venho do quarto em direção a cozinha.

- Já sim.

- O que achou do apartamento?

- Bacana – melhor do que qualquer um dos meus sonhos, se eu pedisse você me adotaria também?

Rio sozinha do pensamento.

- Chamei uma diarista para limpar, ela vai ficar vindo duas vezes na semana, você pode escolher os dias que preferir – concordo enquanto ele se apoia no balcão – No entanto eu esqueci de fazer compras e não temos nada para comer.

- Ah – comento um pouco triste, estou faminta.

- O que é bom, porque estou com a receita que a médica passou com sua nova rotina de alimentação e precisamos comprar.

Faço uma careta, ela passou muitos comprimidos de vitamina também e se não fosse o despertador eu já teria perdido os horários de cada um há muito tempo.

Vamos no carro e seleciono as músicas que vamos ouvimos, ou tento porque a playlist de Henrique é a mesma de um velho de oitenta anos, não ruim, mas não trocaria pelas minhas músicas pops de hoje em dia.

No super mercado as compras se basearam em ovos, produtos lácteos, frutas e nutrientes com ferro, muito ferro, o que na cabeça de Henrique deve ter se transformado espinafre e legumes verdes.

- Você parece uma criança quando a mãe troca doce por verduras – ele brinca mas ainda mantenho minha careta, parece que compramos o mundo verde inteiro – Isso aqui num molho de macarrão fica divino!

- Duvido muito.

- Você não gosta porque ainda não provou o meu.

- Todos falam isso – Reviro os olhos pensando na possibilidade de me livrar de metade daquilo sem que ele perceba.

- Você verá – ele aponta com um pepino para mim e caio na risada.

- Escuta, você está me acolhendo na sua casa e tomando as rédeas dessa criança, mas o que eu realmente quero saber é o quanto eu posso abusar da sua benevolência – e dito isso eu puxo uma caixa de chocolate e acaricio como se fosse um gato – Pense muito bem na sua resposta.

- Tudo o que você precisar, tanto em relação ao bebê como em a você própria.

- Tudo mesmo?

- No que estiver ao meu alcance – ele diz sério e balanço a cabeça me perguntando o que esse homem tão facilmente explorado está fazendo sozinho sem nenhum acompanhamento.

- No que você trabalha?

- Eu e meus irmãos herdamos uma empresa de mineradora – ele não se aprofunda no assunto e fico curiosa.

- São quantos irmãos?

- Três comigo, Alana e Guilherme, sou o filho do meio.

- O esquecido – digo e ele ergue a sobrancelha – Você sabe, o mais velho ganha as responsabilidades, o mais novo o mimo, e o do meio o que quer que sobre entre os dois.

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora