Capítulo 12 - Henrique

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O despertador volta a perturbar minha mente e parece que eu acabei de fechar os olhos, me viro na cama sonolento, mas não demoro muito enrolando, vou ao banheiro tomo um banho para acordar e logo em seguida vou ao quarto de Lisandra. Mal preguei os olhos sem saber se ela estava bem, se o bebê estava bem, o que Sofia fez ontem foi imperdoável, entendo sua dor e sua angustia, entendo até que me julgue da forma que fez, mas não admitirei jamais que faça mal a Lisandra ou a criança que ela carrega, a forma como ela caiu naquele sofá, como estava assustada, eu temi o pior, ela acabou de se recuperar de um susto, não precisa de outro que deixe o bebê instável.

Bato om sua porta necessitado de alguma informação, mas só tenho o silêncio como resposta. Prefiro acreditar que ela ainda está dormindo e não me ignorando. Faço o café sentindo de repente um vazio na casa, como na época em que ficava sozinho, mas ignoro, isso nunca mais vai acontecer, tenho Lisandra comigo agora e logo mais terei o bebê.

Coloco o café na xícara e faço algumas torradas para Lisandra.

"O que você acha que ela pensaria?"

As palavras de Sofia soam em minha mente. Aquela mulher sempre foi assim, para ela todos os outros são errados, culpados, ela fez da minha vida um inferno após a morte de Ellie, me culpou e me infernizou, disse que eu nunca seria feliz porque tirei isso de sua filha e por quase um ano eu acreditei nisso a ponto de quase tirar minha vida, mas então o bebê de Lisandra apareceu e ele trouxe a mãe junto com ele, ela me tem feito feliz de novo.

Vou até a sala e encaro a foto de Ellie sorridente e sorrio também. Eu sei o que ela pensaria, pensaria que eu estava me afundando, que eu estava desistindo, sei ainda mais que ela estaria decepcionada em ver o homem no qual eu estava me tornando, assim como sei que ela estaria feliz por eu estar tentando viver de novo, porque assim era a minha Ellie, gentil, amável e abnegada, ela jamais se sentiria feliz sabendo da dor do próximo. Ela era perfeita na maior parte do tempo, só precisava saber cozinhar.

Rio e posso jurar que escuto sua risada junto a minha.

- Minha doce Ellie – toco em sua foto – Eu sempre vou te amar.

O tempo passa e nada de Lisandra acordar, eu sei que gravidas tendem a dormir mais e me pego surpreso em sentir falta da sua companhia para o café, bato os pés no chão inquieto esperando ela aparecer, o silêncio me agonia, as provocações e risadas dela levaram embora os fantasmas da solidão, não gosto de pensar que um dia isso possa voltar a acontecer, não quero que volte a acontecer.

Pego as torradas e o café e coloco numa bandeja, volto a bater na porta, mas outra vez só tenho o silêncio.

- Lisa? – chamo alto esperando ouvir algo e outra vez o silêncio me incomoda.

Toco a maçaneta encontrando a porta aberta, mas nenhum sinal de Lisandra no quarto, apenas o guarda roupa e as gavetas reviradas, como se ela tivesse procurado algo com pressa.

Volto para sala e pego o celular discando o número dela, tentando impedir a ideia maluca de que ela foi embora se firme em minha mente. Mas apenas chama e chama e ela não atende. Olho a hora novamente, são dez e meia, onde ela poderia ter ido?

Fico nervoso ao imaginar que pode ter ido aonde trabalhava. Ela não seria tola, devia estar em repouso e não por ai. Mando mensagem perguntando onde ela está e de novo não obtenho resposta.

- Se acalma Henrique, ela não é sua prisioneira – digo a mim mesmo. Seja o que ela esteja fazendo ela vai me retornar quando tiver tempo.

Tento retomar o trabalho da empresa que trouxe para casa nos últimos dois dias, mas nada consegue me acalmar ou fazer eu esquecer, o tempo parece meu inimigo.

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora