- Você contou a ele? – junto com a pergunta vem um gosto ruim a boca.
Encaro a dra. Elaine com seu porte elegante, suas roupas justas e cabelo bem arrumado, a mulher parece a perfeita calmaria, como se a vida dela não sofresse nenhum abalo e fosse colorida.
- Não.
Ela aciona a caneta e anota algo no caderno, ela está sempre anotando algo nesse caderno.
- Por quê?
- Não acho necessário.
- Assim como não achava necessário fazer a terapia – conclui.
- Não acho necessário porque foi algo que passou pela minha cabeça num momento de desespero – tento não me estressar, preciso dela para que me libere dessas horas de tortura.
- E não houve mais nenhum episódio que desencadeou essa vontade súbita de se suicidar?
Por que eu contei sobre isso?
- Não foi uma vontade súbita, eu apenas pensei que se de repente alguma coisa acontecesse eu estaria livre de todos os meus problemas.
- Mas Henrique não está disposto a assumir a criança? Não é esse o acordo de vocês?
- Esse bebê é o menor dos meus problemas.
- E qual é seu maior problema?
- Já parou para pensar que depois que eu entregar a criança vou estar literalmente no olho da rua? Sem casa, sem dinheiro, sem emprego, apenas com a roupa do corpo.
Da mesma forma como fiquei quando me expulsaram de casa, tendo que prestar favores nojentos em troca de comida.
- Você me disse que Henrique espera que você fique mesmo depois de ter a criança. Ele falou sobre isso?
- Eu não quero.
- Porquê?
- Porque não! – me altero e ela levanta o olhar me analisando – Você faz muitas perguntas.
Ela suspira e permanece com o olhar em mim.
- O que foi?
- É por isso que não quer ficar sozinha? Tem medo de que se estiver sozinha não possa controlar essa vontade que tem de morrer?
- Foi apenas uma vez. Por que você fica batendo nessa tecla?!
- Porque preciso analisar até onde você é um perigo para si mesma Lisandra.
- Eu já disse, não é como se eu fosse pular da sacada.
- Já pensou nisso?
Já!
- Que saco! – me levanto estressada e começo a andar pelo sala.
- Vamos tentar do início, por que não contou a ele?
Cruzo os braços e aperto minhas mãos com força neles.
- Não quero decepcioná-lo.
- Como você se sente em relação a ele?
- Estamos juntos – dou de ombros.
- Responda especificamente a minha pergunta.
Viro para ela querendo desafiar, querendo desistir de tudo isso e ir embora, mas ele está lá fora esperando pacientemente como das outras vezes, me dando apoio e estando do meu lado como prometeu que faria, simplesmente não consigo olhar nos olhos dele e dizer que quero ir embora, que quero desistir, que não tem mais nada para mim nesse mundo.
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Mesmo que você me deixe - Série Confiança
RomanceSérie Confiança - Livro 2 ~Lisandra é uma garota perdida, abandonada e sem nenhuma expectativa de vida. Sendo obrigada a viver numa região perigosa, ela acaba se envolvendo com drogas, traficantes e prostitutas, e como se já não fosse o ruim o basta...