Capítulo 2 - Henrique

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Não sei ao certo porquê a parei ou porquê estou prestes a fazer uma loucura, eu só sei que algo dentro de mim está gritando desesperado para que eu a impeça.

- Você é maluco – ela diz parecendo assustada.

- Você não pode matá-lo!

- Me solta! – grita puxando o braço mas eu não posso soltá-la, ela vai matá-lo na primeira oportunidade – Você está me machucando!!

A olho tão transtornado quanto, o que estou fazendo? A solto e levo as mãos a cabeça.

- Me desculpe, perdão, eu não quis...

- Sai de perto de mim! – ela vira de costas e atravessa a rua.

Não é por isso que estou aqui e mesmo assim quando noto já estou atrás dela outra vez.

- Por favor me escute, eu não quis assustar você.

Ela aperta mais a jaqueta contra o corpo e apressa o passo me ignorando.

- Sei que você pode estar assustada, mas fazer um aborto nunca é a melhor opção.

Ela solta um riso anasalado.

- Ah por favor, não quero ouvir essa história.

- Ter um filho é a melhor dádiva que uma pessoa pode ter.

- Quando se é desejado e a pessoa tem vocação para isso eu tenho certeza que sim. Por que razão estou falando com um estranho?!

- Por favor, pense como ele vai sofrer, é um simples bebezinho que não tem culpa das suas escolhas!

Ela entra numa lanchonete vinte e quatro horas e bate a porta na minha cara.

Penso em esquecer, não é da minha conta, mas quase entro em desespero só de imaginar... ela não pode, não pode matar seu filho, um bebê, um inocente bebê.

Entro e a encontro sentada numa das mesas do canto, além dela só há umas um homem no estabelecimento.

- Ah, fala sério! – ela bufa quando me sento em sua frente.

- Um filho é uma benção que se manifesta mesmo nas coisas que lhe incomodam, imagino que deva ser difícil para você, desesperador, mas quando você o pegar no colo tudo vai ter valido a pena, é um pedacinho de você enviado como um presente.

- Você faz parte de alguma associação dessas que protegem fetos e lutam por seu direito de viver?

- Não eu...

- A melhor coisa que eu posso fazer por essa criança é impedi-la de nascer no meio de toda essa droga – abre os braços articulando sobre o lugar

- Você pode sair daqui por ela.

- Se eu pudesse, já teria saído, mas por mim e não por um empecilho que apareceu porque decidi abrir as pernas! – diz com raiva.

Não estou abordando da melhor forma.

- Você não sabe nada sobre mim, não sabe nada da minha vida.

- Você não precisa ficar com ele, só o deixe viver.

- E como vou me manter com uma criaturinha que suga todas as minhas energias? Eu não tenho três semanas de grávida e já estou comendo mais que uma porca, acha que eu tenho condições de me manter dessa forma? E quando a barriga estiver maior? Como vou trabalhar? Como vou pagar o aluguel, como vou ter dinheiro para comer?

- E o pai?

- Comendo outras vadias por aí – vira o rosto passando a encarar a janela.

Ela aprece triste, melancólica e desamparada.

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora