Pamela abre a porta e sorrir com certa pena ao me ver. Quando entro me surpreendo ao ver mais três pessoas jogadas pela sala/quarto do kitnet. Há bebidas por todo lugar.
- Não repara a bagunça - assinto - Você pode ficar o tempo que precisar, senta, vou fazer algo para você comer.
Puxei uma das cadeiras e me sentei.
O rapaz sorriu e me estendeu uma garrafa de cerveja.
- Tu é idiota!? - a menina bateu na mão dele, tão bêbada quanto - Ela tá grávida.
- Ah - e começou a rir.
- Para quanto é? - ela quis saber
- Daqui dois meses e meio - respondi retraída.
Ele se esticou por cima do que tava caído e puxou um saco de dentro que ao reconhecer o que era meu corpo reagiu, bem diferente de quando vi na casa de Henrique.
- Aqui - Pamela me entregou um prato com sanduíche.
- Só não tem nada para beber, que você possa no caso.
- Tudo bem, obrigada.
Ela senta ao lado dele e o ajuda a preparar. Eles colocam a pedra de heroína na colher e acedem o isqueiro embaixo para derreter. Pamela pega a seringa, injeta nele e o restante nela ficando chapada.
É como se visse nela minha imagem refletida e nele a do Kevin, perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu entre nós dois. Em outra época eu estaria me juntando a eles, agora eu vejo e apesar do meu corpo reagir, consigo controlar minha mente para entender que isso não seria bom.
Como o sanduíche enquanto eles se divertem com nada e depois levanto indo até a cozinha beber água. Voltar para esse bairro dominado pelo tráfico e Kevin não era a melhor escolha, mas era isso ou a rua. Voltar para o Vini não é uma opção também.
Preciso arrumar um jeito de me manter até essa criança nascer, entregar e sumir.
Suspiro sabendo que isso não vai ser possível, mesma que Henrique ainda insista nisso, a família dele não vai deixá-lo cometer a loucura de pegar o filho de uma drogada.- Tô fudida.
- Todos nós estamos! - o cara se escora no batente - Você só tem que escolher como se fode, com diversão - abre os braços - Ou na mediocridade.
- Você e eu temos versões diferentes do que é mediocridade - digo e ele rir.
Alguém coloca música e aumenta o suficiente para incomodar os vizinhos.
- Agora sim!! - ele volta para sala e eu respiro fundo sem saber o que fazer mas tentando não surtar.
Surtar agora é a pior coisa que eu poderia fazer. Volto para sala, me sento no canto, no chão mesmo enquanto assisto Pamela, o cara da mediocridade e mais a outra moça dançando pela casa como se não houvesse amanhã e até sorrio vendo a cena.
O rapaz que tava dormindo acordo e reclama, fazendo eles pularem em cima dele enchendo o saco e ficam nisso pelo restante das horas enquanto eu penso no que fazer.
Ninguém vai dar emprego a uma drogada, e mesmo que não saibam, ninguém sai contratando grávidas, Pamela mal ganha para ter o que comer, e nem posso pensar em pedir para ela me ajudar nesse quesito, o que tenho não dura uma semana.
Eles preparam outra heroína e injetam no rapaz que acordou enquanto a moça cheira o pó sobre a mesa.
Desvio o olhar quando a ideia passa pela minha cabeça, mas a questão é que eu não tenho mais nada a perder. Rio sozinha. Estou simplesmente perdida. Não tenho para onde ir e prefiro morrer a ter que voltar para casa do meu pai.
"Você acha mesmo que vão te aceitar ou essa criança!?"
Não, não vão. E a verdade é que mesmo sem achar droga nenhuma, sempre haverá desconfiança, nunca serão capazes de acreditar que estou cem por cento limpa mesmo estando. O único que podia ter me defendido foi o primeiro a me acusar, ele sequer me ouviu.
E para ser sincera, nada disso estaria acontecendo se não fosse por ele, essa criança não estaria aqui, eu estaria livre de Kevin e livre para fazer o que eu quisesse. Agora o destino que me resta é morrer de fome, por culpa de Henrique, porque ele me fez aceitar levar essa gravidez idiota para frente!
Levanto, vou até a geladeira e pego uma das garrafas que estão lá bebendo de uma vez até acabar.
- Que isso!? - Pamela se assusta e depois começa a rir - Você é doida.
Sou e muito idiota.
Me junto a eles, lembro das festas que Kevin dava, todos bêbados, drogados, mas felizes. Pelo menos até acordar no dia anterior.
Quando o outro rapaz coloca a fileira de cocaína na mesa eu me abaixo e cheiro sentindo o efeito imediato no meu corpo que parece agradecer por isso.
É muito bom, ao mesmo tempo que eu relaxo, eu me esperto e me agito. Eu não tava me drogando? Agora tenho motivos para ser acusada.
Eu não sei ao certo em que momento eu perdi o controle durante a noite. Mas me deixei levar e buscar quando vi, estava sentada no colo do rapaz medíocre e ele estava injetando heroína em mim.
- Será que morrer de overdose dói? - questiono
Ele rir - Claro que não, você morre feliz!
Nós rimos e ele me puxa beijando minha boca, primeiro me afasto sabendo que ele não é Henrique.
- Que foi gata? É só diversão.
Ele aponta para os demais e vejo Pamela se pegando com a outra moça enquanto o rapaz tira a roupa dela.
Depois, lembro que Henrique não me quer mais e que não preciso mais dele, é culpa dele que eu não tenho mais nada nessa vida.
Então eu mesma beijo esse rapaz e deixo ele fazer o que quiser comigo. Não me importo nenhum pouco, o pior já aconteceu.
Quando abro os olhos minha cabeça parece pesar uma tonelada, e dói demais. Escuto um gemidos e ao olhar para o lado eu vejo os dois da noite transando, Pamela e o outro rapaz dormindo enroscados. Levanto vendo que estou apenas com uma camisa suja que não faço ideia de quem seja.
Vou ao banheiro, cambaleando pelo lugar e me sento tentando recobrar meus sentidos, sem muito sucesso.
Cansada, volto para sala vendo a bagunça e procuro meu celular mas não acho. Me sento vendo as coisas um pouco embasadas e rio sozinha.
- Lisandra, vem aqui com a gente - me chama para me juntar a eles
- Não aguento - brinco e vejo a droga jogada em cima da mesa.
Pego e acendo o isqueiro derretendo ela, totalmente hipnotizada com a química acontecendo.
- Na verdade, não deveria nem ter acordado - tinha certeza disso ontem.
Então só para garantir, aumento a dose o quanto é possível. Pisco para enxergar direito na hora de injetar e coloco devagar, para então deitar já sentindo o efeito rápido demais.
No fim, talvez não doa mesmo.
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Mesmo que você me deixe - Série Confiança
RomanceSérie Confiança - Livro 2 ~Lisandra é uma garota perdida, abandonada e sem nenhuma expectativa de vida. Sendo obrigada a viver numa região perigosa, ela acaba se envolvendo com drogas, traficantes e prostitutas, e como se já não fosse o ruim o basta...