Capítulo 32 - Lisandra

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Pamela abre a porta e sorrir com certa pena ao me ver. Quando entro me surpreendo ao ver mais três pessoas jogadas pela sala/quarto do kitnet. Há bebidas por todo lugar.

- Não repara a bagunça - assinto - Você pode ficar o tempo que precisar, senta, vou fazer algo para você comer.

Puxei uma das cadeiras e me sentei.

O rapaz sorriu e me estendeu uma garrafa de cerveja.

- Tu é idiota!? - a menina bateu na mão dele, tão bêbada quanto - Ela tá grávida.

- Ah - e começou a rir.

- Para quanto é? - ela quis saber

- Daqui dois meses e meio - respondi retraída.

Ele se esticou por cima do que tava caído e puxou um saco de dentro que ao reconhecer o que era meu corpo reagiu, bem diferente de quando vi na casa de Henrique.

- Aqui - Pamela me entregou um prato com sanduíche.

- Só não tem nada para beber, que você possa no caso.

- Tudo bem, obrigada.

Ela senta ao lado dele e o ajuda a preparar. Eles colocam a pedra de heroína na colher e acedem o isqueiro embaixo para derreter. Pamela pega a seringa, injeta nele e o restante nela ficando chapada.

É como se visse nela minha imagem refletida e nele a do Kevin, perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu entre nós dois. Em outra época eu estaria me juntando a eles, agora eu vejo e apesar do meu corpo reagir, consigo controlar minha mente para entender que isso não seria bom.

Como o sanduíche enquanto eles se divertem com nada e depois levanto indo até a cozinha beber água. Voltar para esse bairro dominado pelo tráfico e Kevin não era a melhor escolha, mas era isso ou a rua. Voltar para o Vini não é uma opção também.

Preciso arrumar um jeito de me manter até essa criança nascer, entregar  e sumir. 
Suspiro sabendo que isso não vai ser possível, mesma que Henrique ainda insista nisso, a família dele não vai deixá-lo cometer a loucura de pegar o filho de uma drogada.

- Tô fudida.

- Todos nós estamos! - o cara se escora no batente - Você só tem que escolher como se fode, com diversão - abre os braços - Ou na mediocridade.

- Você e eu temos versões diferentes do que é mediocridade - digo e ele rir.

Alguém coloca música e aumenta o suficiente para incomodar os vizinhos.

- Agora sim!! - ele volta para sala e eu respiro fundo sem saber o que fazer mas tentando não surtar.

Surtar agora é a pior coisa que eu poderia fazer. Volto para sala, me sento no canto, no chão mesmo enquanto assisto Pamela, o cara da mediocridade e mais a outra moça dançando pela casa como se não houvesse amanhã e até sorrio vendo a cena.

O rapaz que tava dormindo acordo e reclama, fazendo eles pularem em cima dele enchendo o saco e ficam nisso pelo restante das horas enquanto eu penso no que fazer.

Ninguém vai dar emprego a uma drogada, e mesmo que não saibam, ninguém sai contratando grávidas, Pamela mal ganha para ter o que comer, e nem posso pensar em pedir para ela me ajudar nesse quesito, o que tenho não dura uma semana.

Eles preparam outra heroína e injetam no rapaz que acordou enquanto a moça cheira o pó sobre a mesa.

Desvio o olhar quando a ideia passa pela minha cabeça, mas a questão é que eu não tenho mais nada a perder. Rio sozinha. Estou simplesmente perdida. Não tenho para onde ir e prefiro morrer a ter que voltar para casa do meu pai.

"Você acha mesmo que vão te aceitar ou essa criança!?"

Não, não vão. E a verdade é que mesmo sem achar droga nenhuma, sempre haverá desconfiança, nunca serão capazes de acreditar que estou cem por cento limpa mesmo estando. O único que podia ter me defendido foi o primeiro a me acusar, ele sequer me ouviu.

E para ser sincera, nada disso estaria acontecendo se não fosse por ele, essa criança não estaria aqui, eu estaria livre de Kevin e livre para fazer o que eu quisesse. Agora o destino que me resta é morrer de fome, por culpa de Henrique, porque ele me fez aceitar levar essa gravidez idiota para frente!

Levanto, vou até a geladeira e pego uma das garrafas que estão lá bebendo de uma vez até acabar.

- Que isso!? - Pamela se assusta e depois começa a rir - Você é doida.

Sou e muito idiota.

Me junto a eles, lembro das festas que Kevin dava, todos bêbados, drogados, mas felizes. Pelo menos até acordar no dia anterior.

Quando o outro rapaz coloca a fileira de cocaína na mesa eu me abaixo e cheiro sentindo o efeito imediato no meu corpo que parece agradecer por isso.

É muito bom, ao mesmo tempo que eu relaxo, eu me esperto e me agito. Eu não tava me drogando? Agora tenho motivos para ser acusada.

Eu não sei ao certo em que momento eu perdi o controle durante a noite. Mas me deixei levar e buscar quando vi, estava sentada no colo do rapaz medíocre e ele estava injetando heroína em mim.

- Será que morrer de overdose dói? - questiono

Ele rir - Claro que não, você morre feliz!

Nós rimos e ele me puxa beijando minha boca, primeiro me afasto sabendo que ele não é Henrique.

- Que foi gata? É só diversão.

Ele aponta para os demais e vejo Pamela se pegando com a outra moça enquanto o rapaz tira a roupa dela.

Depois, lembro que Henrique não me quer mais e que não preciso mais dele, é culpa dele que eu não tenho mais nada nessa vida.

Então eu mesma beijo esse rapaz e deixo ele fazer o que quiser comigo. Não me importo nenhum pouco, o pior já aconteceu.

Quando abro os olhos minha cabeça parece pesar uma tonelada, e dói demais. Escuto um gemidos e ao olhar para o lado eu vejo os dois da noite transando, Pamela e o outro rapaz dormindo enroscados. Levanto vendo que estou apenas com uma camisa suja que não faço ideia de quem seja.

Vou ao banheiro, cambaleando pelo lugar e me sento tentando recobrar meus sentidos, sem muito sucesso.

Cansada, volto para sala vendo a bagunça e procuro meu celular mas não acho. Me sento vendo as coisas um pouco embasadas e rio sozinha.

- Lisandra, vem aqui com a gente - me chama para me juntar a eles

- Não aguento - brinco e vejo a droga jogada em cima da mesa.

Pego e acendo o isqueiro derretendo ela, totalmente hipnotizada com a química acontecendo.

- Na verdade, não deveria nem ter acordado - tinha certeza disso ontem.

Então só para garantir, aumento a dose o quanto é possível. Pisco para enxergar direito na hora de injetar e coloco devagar, para então deitar já sentindo o efeito rápido demais.

No fim, talvez não doa mesmo.

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora