Encaro o saquinho com pó sobre a cômoda enquanto todo meu corpo anseia por ele.
Estou tendo uma batalha interna comigo mesma a mais ou menos uma hora. É provavelmente a pior que eu já lutei porque costumo simplesmente ceder a tentação, mas neste caso é mais complexo porque eu tenho força o suficiente para levantar e jogar fora, a questão, a grande questão: é que eu não quero fazer isso.
Cerro os olhos pesando os prós e contras. O que as drogas me dão? Breves momentos de prazer que depois vem com um preço não muito amigável. Agora, o que esse bebê me dá? Um apartamento com uma geladeira recheada e uma vida cômoda por alguns meses, mas vem com leves desconfortos que vão aumentando a cada mês. Prós e contras, eu simplesmente não consegui dormir pensando nisso.
O pó me ajudaria a esquecer a gravidez por um tempo, mas e se Henrique soubesse? O que ele poderia fazer? Me arrastar para reabilitação? Me expulsar? Ela quer essa criança a todo custo. Certo?
A dúvida bate contra meu peito mas logo trato de tirá-la, ele não estaria fazendo tudo isso se não quisesse.
Respiro fundo e me levanto pegando o pacote da cômoda.
"Você não precisa fazer isso sozinha".
A voz de Henrique soa em minha mente e meu corpo trava.
Jura consciência? Mas é compreensível, como eu posso ignorá-lo se estou num ambiente que é totalmente dele?
Suspiro, levanto a tampa do vaso, mas meu braço trava na hora de despejar.
- Por que isso é tão difícil?! - me estresso
Me encaro no espelho, olhando seriamente para mim mesma como se esperasse uma resposta, como se quisesse que meu reflexo se decidisse.
Volto para o vaso. Abro o pacote e levo ele ao nariz sentindo levemente o cheiro e gemendo quando meu corpo capta o que é, mas antes mesmo de me deixar ser controlada eu despejo tudo no vaso e puxo a descarga.
Encaro enquanto vejo o conteúdo indo embora e meu corpo se recuperar do rápido contato.
A campainha toca assim que saio do banheiro e quando abro a porta encontro uma senhora que tem no topo da cabeça um coque de cabelos castanhos e fios brancos. Ela tem um enorme sorriso no rosto quando me vê!
- Ah, eu sabia! Eu falei para o Ernest mas ele não quis acreditar!
- Perdão? - fico meio confusa.
- Você é tão bonita!
- Desculpe, quem é a senhora?
- Ora que falta de educação a minha, me chamo Regina, sou a vizinha de Henri.
- Ah sim - comento não prestando muito mais atenção nela e sim no cheiro delicioso que vem da vasilha em suas mãos
- Trouxe para vocês, é uma torta de limão, será que eu não poderia entrar rapidinho?
- Claro, claro, me desculpe, entre - Ainda mais se tiver trazendo comida.
Ela entra e parece saber exatamente onde estão todas as coisas, me serve uma fatia e eu quase babo em cima dela.
- O que achou?
- É maravilhosa! - digo com a boca cheia mesmo.
- Muito obrigada, é muito gentil da sua parte, faço isso há mais de um ano e Henri nunca disse uma palavra sobre, mas a julgar que as vasilhas sempre voltam vazias ele deve gostar.
Arregalo os olhos absorvendo as informações que recebi.
- A senhora traz essas maravilhas todas as manhãs?
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Mesmo que você me deixe - Série Confiança
RomanceSérie Confiança - Livro 2 ~Lisandra é uma garota perdida, abandonada e sem nenhuma expectativa de vida. Sendo obrigada a viver numa região perigosa, ela acaba se envolvendo com drogas, traficantes e prostitutas, e como se já não fosse o ruim o basta...