Capítulo 5 - Lisandra

93 19 1
                                    

Encaro o saquinho com pó sobre a cômoda enquanto todo meu corpo anseia por ele.

Estou tendo uma batalha interna comigo mesma a mais ou menos uma hora. É provavelmente a pior que eu já lutei porque costumo simplesmente ceder a tentação, mas neste caso é mais complexo porque eu tenho força o suficiente para levantar e jogar fora, a questão, a grande questão: é que eu não quero fazer isso.

Cerro os olhos pesando os prós e contras. O que as drogas me dão? Breves momentos de prazer que depois vem com um preço não muito amigável. Agora, o que esse bebê me dá? Um apartamento com uma geladeira recheada e uma vida cômoda por alguns meses, mas vem com leves desconfortos que vão aumentando a cada mês. Prós e contras, eu simplesmente não consegui dormir pensando nisso.

O pó me ajudaria a esquecer a gravidez por um tempo, mas e se Henrique soubesse? O que ele poderia fazer? Me arrastar para reabilitação? Me expulsar? Ela quer essa criança a todo custo. Certo? 

A dúvida bate contra meu peito mas logo trato de tirá-la, ele não estaria fazendo tudo isso se não quisesse.

Respiro fundo e me levanto pegando o pacote da cômoda.

"Você não precisa fazer isso sozinha".

A voz de Henrique soa em minha mente e meu corpo trava. 

Jura consciência? Mas é compreensível, como eu posso ignorá-lo se estou num ambiente que é totalmente dele?

Suspiro, levanto a tampa do vaso, mas meu braço trava na hora de despejar.

- Por que isso é tão difícil?! - me estresso

Me encaro no espelho, olhando seriamente para mim mesma como se esperasse uma resposta, como se quisesse que meu reflexo se decidisse.

Volto para o vaso. Abro o pacote e levo ele ao nariz sentindo levemente o cheiro e gemendo quando meu corpo capta o que é, mas antes mesmo de me deixar ser controlada eu despejo tudo no vaso e puxo a descarga.

Encaro enquanto vejo o conteúdo indo embora e meu corpo se recuperar do rápido contato.

A campainha toca assim que saio do banheiro e quando abro a porta encontro uma senhora que tem no topo da cabeça um coque de cabelos castanhos e fios brancos. Ela tem um enorme sorriso no rosto quando me vê!

- Ah, eu sabia! Eu falei para o Ernest mas ele não quis acreditar!

- Perdão? - fico meio confusa.

- Você é tão bonita!

- Desculpe, quem é a senhora?

- Ora que falta de educação a minha, me chamo Regina, sou a vizinha de Henri.

- Ah sim - comento não prestando muito mais atenção nela e sim no cheiro delicioso que vem da vasilha em suas mãos

- Trouxe para vocês, é uma torta de limão, será que eu não poderia entrar rapidinho?

- Claro, claro, me desculpe, entre - Ainda mais se tiver trazendo comida.

Ela entra e parece saber exatamente onde estão todas as coisas, me serve uma fatia e eu quase babo em cima dela.

- O que achou?

- É maravilhosa! - digo com a boca cheia mesmo.

- Muito obrigada, é muito gentil da sua parte, faço isso há mais de um ano e Henri nunca disse uma palavra sobre, mas a julgar que as vasilhas sempre voltam vazias ele deve gostar.

Arregalo os olhos absorvendo as informações que recebi.

- A senhora traz essas maravilhas todas as manhãs?

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora