Capítulo 24 - Lisandra

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Encaro a entrada da clínica de reabilitação e mordo o lábio meio tensa. Henrique me ligou dizendo que não ia conseguir chegar a tempo da reunião e confesso que pensei em não vir, mas ele conseguiu, ainda não sei como, me convencer.

Ainda não gosto desse lugar, mas respiro fundo e entro.

Tento não olhar para ninguém e seguir direto para sala que ocorrem as reuniões. Esse lugar de alguma forma é como um lembrete do que me espera de pior se eu continuar nas drogas, e vou confessar, não sei que lavagem cerebral eles fazem, mas sempre saio daqui decidida a abandonar essa vida mesmo quando for embora, durante a semana perco um pouco da motivação, mas retorno e aos poucos tenho conseguido aguentar, já não penso nelas a todo instante e já consigo ficar parada sem me agitar ou ficar agoniada.

Olho de esgueira para dentro da sala e os encontro sentados todos formando um círculo.

- Lisandra! – uma das mulheres me vê e acena fazendo com que todos virem para me olhar.

Grande entrada.

Entro devagar já procurando uma cadeira e me sentando sentindo todos os olhares voltados para mim.

- Nós estamos fazendo uma atividade diferente essa semana Lisandra - O responsável pela reunião retoma – O questionamento é o seguinte: Se você pudesse voltar no tempo, qual situação mudaria? Enquanto você pensa nós vamos retomar com Brandon.

O que eu mudaria? Dou um sorriso irônico com a resposta na ponta da língua, já pensei nisso milhares de vezes, eu não sairia do quarto no exato momento em que Augusto estava negociando com Kevin e o conheci, mas conforme eles vão respondendo, muitas cenas envolvendo a família eu penso um pouco mais e chego a conclusão que o que eu gostaria de mudar se pudesse, era de pai.

- Lisandra?

- Nascer – outro desejo que sempre passou pela minha mente. não sofreria tanto.

O silêncio sobressai na sala e percebo que falei besteira, mas antes de ter tempo para consertar alguém me corta. 

- Não acho que você poderia fazer algo para mudar essa situação.

- Ele perguntou o que mudaríamos, não como faríamos isso – devolvo sem nem olhar para pessoa.

- Certo. Vamos a outra pergunta agora: O que vocês gostariam de fazer, mas as drogas os impediram?

Eu nem preciso pensar muito. O que as drogas me impediram de fazer? Simples, elas me impediram de viver, de ter uma vida minimamente digna de um ser humano, elas destruíram tudo de bom que eu tinha dentro de mim.

- O que as drogas são para vocês hoje?

Se eu for sincera comigo mesma, considerando tudo o que eu tenho e o que me espera, elas são tudo para mim, é o que me espera quando eu sair da vida de Henrique, porque eu vou sair, não vou de forma alguma sujeitar ele a viver com a carga fracassada que sou, mas infelizmente eu sei que por mais que eu me esforce em não voltar a cair em tentação, elas serão as únicas capazes de me ajudar a suportar o que me espera. Mas por enquanto, enquanto eu tenho ele, elas não passam de mera lembrança e saudade.

- Quero que vocês pensem nessas respostas quando sentirem vontade outra vez, pensem em tudo o que perderam e tudo que vocês podem conquistar se forem fortes e se mantiverem longe delas, não deixem que elas dominem vocês outra vez.

Eu gostaria, Deus sabe que sim, mas como?

Burlo a sessão com a psicóloga, ela é o que mais me atinge e já estou triste o suficiente para aturar mais essa tortura psicológica.

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora