Capítulo 17 - Lisandra

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- Você parece triste – a constatação de Paula me puxa de volta para realidade e procuro me situar, parece que estive horas longe de meu corpo e mente – Aconteceu alguma coisa com você? Com Henrique?

- Não – tento sorrir – Só estou pensando, sabe, nesse bebê.

- Não está feliz com as compras?

Olho para as inúmeras sacolas com roupas para mim, para criança e para Henrique até. Não sei como três ou quatro peças de roupas para mim se tornaram isso.

- Podemos devolver se não gostou de algo. Mas ficou tão linda com todas elas, pode usar aquele macacão quando sua barriga estiver maior, vai ficar tão linda.

Dou um sorriso amarelo, foi algo parecido com isso, felizmente ela fez questão de pagar tudo, caso contrario estaria endividada até a próxima vida.

- Você ainda não o quer não é? – ela fala um pouco mais séria, dessa vez com um sorriso triste – Eu sei que não, mas estive pensando que com o tempo você se apegaria, que desistisse.

- Querê-lo não é uma opção Paula, não posso ficar com essa criança.

- Mas porquê? Eu não consigo nem me imaginar longe dos meus filhos, ou que eles não estejam mais aqui, conosco – seus olhos marejam.

- Você os quis não foi? Planejou, fez tudo isso – aponto para as compras – Arrumou o quarto e tinha sua família do seu lado, seu marido.

- Eu não entendo.

- Eu não espero que faça – sorrio para lhe tranquilizar.

Quando se tem oportunidades e condições deve ser bom, mas no meu caso, prefiro nem pensar o que aconteceria.

- Deus tem um propósito Lisandra, ele lhe deu um filho e desse filho veio Henrique, de Henrique veio sua reconstrução pessoal e gosto de pensar que nossa família também e disso virá bênçãos e mais bênçãos. Está feliz com Henrique? Com a nossa família? Acha que isso poderia acontecer se não estivesse grávida? Esse serzinho só trouxe bênçãos a sua vida minha filha.

- Mas até quando? - Encontrar Henrique foi uma sorte, ele ser afetado pela morte da esposa e do filho foi trágico para ele e sorte para mim - Isso é passageiro, quando ele nascer eu voltar para o lugar de onde saí.

- Só voltará se quiser – diz firme – Sabe que Henrique não vai deixar, não para lá, talvez você nem saia da vida dele.

- Depois que entrega-lo não vou ter qualquer convivência.

- Não digo a respeito disso – ela pisca e bebe o suco.

Esse é um assunto proibido e que estou tentando evitar com minha própria mente.

Me foco outra vez no lanche a minha frente, estou comendo como uma condenada e não estou ligando muito para isso, o que é horrível. Ainda mais se eu levar em conta que meu corpo tem que estar perfeito se eu quiser ter como sobreviver depois dessa barriga. Pensar nisso me dá calafrios e ânsia, mas é minha realidade, ela é suja e imoral.

- Se Deus tem um plano, como eu sei qual é ele?

- Não sabe – da de ombros – Você tem que se entregar a ele, deixá-lo comandar sua vida e então quando menos perceber vai estar exatamente onde ele quer e precisa.

- E como eu faço isso?

- Comece falando com ele, ore, diga o que quer, o que precisa e esteja aberta a receber o que ele quiser lhe dar nesse momento. Verdade seja dita, as escolhas que você fez até agora não foram as de Deus, isso tudo aconteceu porque você quis comandar sua vida sozinha, mas não fomos criados para isso, temos um propósito e temos que segui-lo de acordo com as vontades de Deus.

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaOnde histórias criam vida. Descubra agora