19 - Invocar

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〇lhei ao redor apavorada, nem sabia quantas horas exatamente eram.

Mas devia ser bem, bem tarde.

Os livros que eu havia comprado na loja de coisas místicas estavam sobre a cômoda que havia em um canto do meu quarto, fui até lá e tirei os dois da sacola, os trazendo até minha cama, deixei o de capa de couro que falava sobre energias na cama e peguei o avermelhado, que tinha um título em francês, que eu não fiz questão nenhuma de traduzir, por sorte somente o título estava em francês, o restante estava traduzido para o inglês, falava um pouco sobre o livro na primeira página, ele se denominava um grimório que ensinava as mais diversas magias negras, invocar demônios, adivinhar o futuro mas só a última parte me interessou, onde dizia que ele possuia rituais que eram capazes de contactar os mortos. Os feitiços de invocação de mortos estavam no final do livro, rapidamente folheei até chegar às últimas páginas, haviam apenas alguns poucos feitiços sobre isso, e em grande parte eles indicavam como adivinhar o futuro através dos mortos e isso não me interessava, mas um deles me chamou a atenção, um dos feitiços de Necromancia -que descobri ser uma prática de magia envolvendo a suposta arte de comunicação com os mortos
- que dizia ser capaz de invocar espíritos como aparições, visões ou erguendo-os corporalmente por um curto espaço de tempo, isso teria que dar, eu precisava ter algum contato com Lauren, ou Michelle Morgado, precisava saber se ela estava bem, e precisava de algumas respostas.

— Vamos, Lauren, me ouça por favor — disse baixinho quando me levantei, teria que ir em busca das coisas necessárias para fazer esse "ritual de invocação".

• ✠•❀•✠ •

O ritual teria que ser realizado à noite, em um lugar sem muitas pessoas, era mais indicado que somente a pessoa que quisesse invocar o espírito estivesse presente, e assim estava sendo feito, o meu quarto, por sua vez antigo porão, eram muito grande, não foi difícil achar um lugar bom para poder fazer o círculo ao meu redor rodeado por algumas velas, fechei os olhos, me lembrando das palavras que havia no livro, tentando me conectar com a alma desejada, a chamando no pensamento.

Lauren — disse baixo, eu não sabia se Lauren era o verdadeiro nome dela, mas era o nome pelo qual ela se identificou para mim, por sua vez o nome que me conectava a ela, algumas pesquisas antigas talvez fossem úteis, continuei chamando seu nome baixinho, quase uma um sussurro enquanto imaginava sua materialização. Junto a mim, dentro do círculo, estava uma faca, no livro dizia que eu devia, enquanto cantava o nome do espírito que desejava contactar e o mentalizava, me levantar dentro do círculo, e derramar meu sangue dentro dele, para que ele fosse ativado, e que o espírito pudesse me encontrar, eu seguia todos os passos com concentração, estava desesperada para achar Lauren, então fiz um pequeno corte na palma da minha mão, vendo algumas gotas do meu sangue pingar no chão. Tudo continuou igual, sem nenhuma aparição, engoli em seco e continuei chamando seu nome em sussurros, pulei dentro do círculo quando todas as velas se apagaram e o círculo que eu havia desenhado no chão foi completamente apagado.

                        • ✠•❀•✠ •

Não me sinto bem — disse, quando minha mãe veio me acordar para ir ao colégio, ela estava na porta, franziu o cenho me olhando seriamente — Estou falando a verdade, minha cabeça está explodindo.

— Hija, quer ir a um médico? Pode ser o início de uma gripe — minha mãe disse após alguns segundos me olhando e percebendo que eu falava a verdade.

Somente neguei com a cabeça, eu realmente sentia que minha cabeça iria explodir, não dormi durante toda a noite, e tudo o que li pareceu sugar minha energia, eu estava me sentindo péssima, o ritual não funcionou, percebi isso após ficar algum tempo parada olhando ao redor ontem, não havia funcionado ou havia e Lauren não quis falar comigo, isso era mais provável. O pouco tempo que dormi fui perseguida por pesadelos brutais, isso me afetou tanto que eu sentia minha pele suar frio agora, duvidava que conseguiria deixar de imaginar um dia as coisas que li. Mamãe veio até mim, colocando a mão sobre minha testa e depois arregalando os olhos.

— Você está ardendo de febre!

— Mãe, por favor, me deixe dormir um pouco, não me sinto realmente bem — disse com um sussurro, me enrolando ainda mais no cobertor.

— Vou chamar um médico para dar uma olhada em você...

Eu estava tão atordoada, que antes que ela terminasse de falar, eu já estava dormindo, devia estar alucinando, mas podia ouvir algumas falas em meio a escuridão, elas se misturavam e ficava impossível saber do que falavam, eram tantas que faziam minha cabeça doer mais. Abri os olhos sentindo minha visão embaçada, e tudo ao redor rodar de uma maneira perturbadora, eu ainda estava no meu quarto, estava completamente molhada de suor.

Você... — a voz me chamou a atenção, uma figura alta estava ao lado da minha cama, eu poderia estar louca mas podia jurar que era Lauren, o mesmo vestido, os mesmos traços, ela falou algo mas eu não consegui entender, fechei os olhos quando senti seus dedos tocarem minha testa, eles estavam frios, e era uma boa sensação sentir eles na minha pele — Durma, garotinha.

                      • ✠•❀•✠ •

Abri os olhos lentamente, sentindo meus músculos de todo o corpo doloridos, massageei o rosto com minhas mãos, sentindo-me tonta.

— Eu preciso de um banho — me levantei, me concentrando para não cair, e sai da cama, ainda atordoada, subindo as escadas de pedra do meu quarto e chegando à sala.

— Filha! — minha mãe veio até mim e me abraçou forte, eu estava tão fraca que não consegui ao menos retribuir — Como está se sentindo?

— Preciso de um banho, pode me levar até o banheiro? — pedi num fio de voz, ela concordou, e me ajudou a subir as escadas.

— Consegue tomar banho sozinha?

Só concordei com a cabeça, sem ter certeza se realmente era capaz disso, minha mãe encheu a banheira e ao meu pedido, saiu do banheiro me deixando sozinha lá, tirei minha roupa entrando na água, e fechei meus olhos.

Você não pode ficar quieta, não é? — ouvi aquela voz familiar e foi impossível não sorrir ainda de olhos fechados.

— Você voltou.

— Nunca saí daqui.

BRASAS DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora