BRASAS DE FOGO

11 - Perguntas

Ðurante meus, vejamos, dezesseis anos e onze meses de idade, eu nunca fui a maior das aventureiras, ou corajosa, veja como quiser, isso significa que mesmo quase terminando o ensino médio eu ainda nunca tinha beijado sequer uma boca, não que eu fosse inexperiente, porque, beijar o travesseiro e a sua própria mão para treinar deveria ter valido de algo, e porque motivo uma garota como eu teria ficado atrás de até mesmo de Albert, o garoto ranhento da minha antiga classe? Não que eu fosse a mais atraente e encantadora delas, mas eu tinha lá meus charmes, bom, ao menos eu tomava banho diariamente, e não cheira a gases intestinais fortes, a resposta para isso era bem fácil, graças ao meu lindo corpinho, não por ele exatamente e sim pelo que eu guardava por baixo das calças — acredite se quiser, mas isso não era a coisa mais comum do mundo — não que muitas pessoas soubessem isso, na verdade, creio eu que a única pessoa no colégio que sabia era meu melhor amigo, Shawn. Mamãe e papai, e eu também, sempre achamos que era melhor esconder minha condição, para acabar não sofrendo preconceito ou até algo pior, então todos achavam que eu era apenas a estranha dos fones de ouvido no último volume, achavam até que eu fazia parte de uma seita por algum motivo. Mas tudo isso serviu para que ninguém quisesse me beijar, eu era sozinha e estranha, ninguém quer beijar uma estranha, e eu sempre fui péssima em fazer amizades, até hoje não sei porque foi tão fácil virar amiga de Shawn, mas ele era incrível, não tinha como não ser amiga do garoto de olhos brilhantes e jeito desajustado levemente afeminado.

Hoje finalmente, ou não, era sexta feira, o dia do tal festival da cidade, o que eu tinha prometido ir com Persé, e eu estava levemente atrasada, pois tinha achado que era uma boa ideia ficar até tarde terminando de arrumar meu quarto, com muito esforço, e tempo dedicado, consegui deixar ele perfeito, muito melhor do que o antigo um dia poderia ficar, ele já estava pintado e arrumado, mas hoje de noite, seria o primeiro dia que eu dormiria aqui. Desde que tentei fazer o ritual com Lauren, para expulsar ela, tenho visto ela pouco, e isso é até que bom, tenho sentido que tenho mais liberdade, talvez ela esteja realmente no meu antigo quarto, olhando as árvores, vai saber.

— Vai sair? — Quando cheguei a escada que dava para o porão, apenas de cueca e uma regata preta, a escova de dente na boca e a toalha pendurada no ombro ouvi a voz dela pela primeira vez no dia, me pegando de surpresa e consequentemente me assustando, ao ponto de eu chegar a quase cair de bunda no chão — Que bom que te assustei — sorriu travessa se inclinando mais sobre os cotovelos na minha cama.

— Pelo visto não terei mais privacidade nem no meu "novo" quarto, não é? — foi impossível não soltar, suspirei e coloquei minha toalha no cabideiro que tinha ao lado do guarda-roupa — Imaginei que passaria... Os próximos 20 anos no meu antigo quarto agora, apreciando a vista — comentei me virando para ela — E por favor, pare de olhar para minha parte de baixo — pedi constrangida, vendo seus olhos fixos na minha cueca, Lauren, me ignorou totalmente, chegando até a ladear a cabeça para ver melhor, revirei os olhos pela infantilidade e me virei de costas, abrindo o guarda roupa e pegando meu short compressor — Tudo tem limites, tudo! Você simplesmente não pode invadir meu quarto assim! E se eu estivesse nua?!

— Eu já te vi nua, como pensa que descobri que você tem pênis? — olhei boquiaberta para ela, aos poucos sentindo meu rosto esquentar — E para de frescura, estou morta, faço oque quiser, se estiver incomodada, simplesmente saía.

— Vai... Arg — neguei com a cabeça e peguei a muda de roupa que estava sobre a cama, logo colocando a calça jeans preta.

— Você não me respondeu, vai sair? — fechei o zíper da minha calça e já peguei a minha camiseta de flanela — Camila, é melhor, é melhor você me responder imediatamente — disse entre dentes, de forma tão ameaçadora, que eu fui obrigada a revirar os olhos e concordar com a cabeça, depois indo até o guarda roupa buscar meias — Não sabia que vocês iriam sair, e eu sempre sei de tudo.

— Não vou sair com minha mãe — disse, dando-me por vencida ao responder, depois me sentando na beira da cama, tendo o cuidado de ficar o mais longe possível dela e colocando por fim as minhas meias escuras — Vou sair com uma amiga.

— Não sabia que você tinha amigas.

— Não sabe de muitas coisas da minha vida, assim como não sei nada de você — me levantei e peguei um pente sobre a penteadeira e comecei a pentear meus cabelos — e não vejo motivos para você saber.

Ela não respondeu mais nada, provavelmente concordando com minhas palavras, até achei que ela teria sumido novamente, mas não, quando terminei de arrumar meus cabelos enfim olhando na sua direção novamente, a encontrei na mesma posição de antes, me encarando pensativa.

— Vai demorar a voltar?

— Não sei, mas pode deixar que te ligo avisando, mamãe — debochei ao pegar um all-stars que estava limpo embaixo da cama, depois me sentei novamente sobre a cama e comecei a colocar eles — Porque está tão interessante na minha vida? Não tem nenhuma paisagem para admirar? — perguntei impaciente.

— A próxima vez que usar ironia comigo, irá ficar seriamente dolorida por alguns bons dias, garota — virou o pescoço na minha direção, me encarando — Você não está falando com essas suas amigas.

— Certo — neguei com a cabeça, e me pus de pé, indo até a penteadeira novamente, buscar um perfume, acompanhada do olhar intenso dela, peguei meu celular que estava também sobre a penteadeira e minha carteira.

Depois fui em direção às escadas que me levariam para fora do porão/meu quarto, mas quando eu coloquei meu pé no primeiro degrau de pedra, a voz da fantasma me interrompeu.

— Quantas horas vai voltar? — não soube identificar seu tom de voz, a olhei de relance, para depois voltar a olhar novamente para frente.

— Não tenho hora para voltar hoje.

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Volteiiii, e na próxima att tem surpresinha akkakakakkakakakka
E quem achou estranha a atitude de Lauren?!!!!