7 - Fantasma

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ᕮla desapareceu após dizer aquilo, e eu me senti aliviada, podendo voltar a respirar e controlar meu corpo normalmente, não fazia ideia do que ela quis dizer com aquelas palavras.

Mas de uma coisa eu sabia...

Sabia que queria e precisava sair dessa casa. Ir embora. Eu não sabia o que ela era, podia ser qualquer coisa,
mas sabia que não era algo bom.

Mesmo minha maior vontade sendo encaixotar as poucas coisas que eu tirei das caixas, colocar em um carro e sair, não podia simplesmente fazer isso, é claro que se eu decidisse, meu pai me recebia de braços abertos em Miami, que é onde ele está morando atualmente, mas se eu falasse o porquê de querer ir embora, minha mãe ia achar que é alguma história ridícula para a convencer a voltar para Nova Iorque, não ia dar bola, eu não podia permitir que a fantasma se mostrasse para ela também, minha mãe tinha problemas de coração, passar por situações emocionais fortes poderia provocar um infarto nela, eu estava sem saída aqui.

Não podia falar para minha mãe pois ela não iria acreditar e não poderia deixar ela ver a verdade com os próprios olhos para seu próprio bem...mas ficando aqui eu estava correndo sérios riscos, essa coisa poderia querer me deixar louca, me torturando psicologicamente ou fisicamente aos poucos...ela quis dar a entender que iria se divertir comigo, e a diversão dela não deveria jogar baralho comigo ou ler meus mangás. Eu tinha que achar um meio de resolver essa situação sozinha, sem envolver ninguém para o bem alheio.

Então decidida, me levantei, indo até minha mochila que estava jogada entre as caixas lacradas e tirei de lá meu notebook. Me sentei na minha cama determinada a descobrir o que ela era, só assim poderia achar uma solução mais facilmente, o problema era que eu não tinha muita informação, teria que me desdobrar em duas para achar algo.

Ela disse estar aprisionada a essa casa, por anos...um demônio não poderia ficar preso, ou poderia?eu sabia que essa casa era antiga...mas os Lynch não passavam os verões aqui? eles já viram algo? Ou ela ficava na dela quando eles estavam perto?!Eu estava confusa, com mil questões na cabeça, essa situação era muito, muito surreal. Mesmo com minhas mãos ainda trêmulas de nervosismo digitei, pesquisando sobre demônios na internet.

Era tudo inútil, dizia que eles eram seres sobrenaturais que atormentavam os humanos, os instigando a pecar, isso não se encaixava e no exorcismo, que pensei ser a solução para meus problemas, não era também, isso porque era pra tirar o capeta de alguém e não de uma casa. Então fui para meu outro tópico, o que eu sinceramente acreditava ser o certo, "fantasmas".

Li alguns sites ridículos que diziam para cantar músicas ao contrário de uma cantora brasileira chamada Xuxa que eles iam embora, em meio a tantas coisas inúteis, um trecho me chamou atenção.

"Fantasmas são geralmente descritos como essências solitárias que assombram um local, objeto ou pessoa em particular a qual estiveram ligados em vida"

Isso se encaixava...mas um fantasma teria tanto poder como ela tem ?!De criar alucinações e de me prender no meu próprio corpo? Então ela teria morrido nessa casa...?E porque ela ficou presa aqui após a morte?

Pesquisando a fundo, achei um artigo muito interessante, falava que era possível um espírito ficar preso na terra após a morte.

"Contribui consideravelmente para a prisão no plano da Terra uma morte rápida e trágica"

Isso chegava até a arrepiar meus pelos do braço, eu nunca tinha pesquisado nada do tipo, coisas sobrenaturais, e isso sempre me deixava cabreira, por isso eu evitava até filmes de terror, e veja que legal, o terror, real, me achou. Ignorei meus pensamentos e voltei a me concentrar nas palavras que estavam na tela do notebook.

"Alguns espíritos podem fixar-se ao lugar onde ocorreu sua transição; outros ainda se unem a outras almas que escolhem um local propício a sua permanência. Esse é o fundamento das chamadas "casas mal assombradas", que reúnem grande número de almas perdidas e presas em locais específicos. Ocorre com certa frequência uma ligação psíquica entre a alma recém-desencarnada e pessoas que compraram o imóvel onde a alma passou a maior parte de sua vida.

"Uma alma pode ficar presa à Terra em decorrência do ódio a desafetos"

Isso era interessante, e poderia me ajudar... tudo se encaixava, a garota devia ser um fantasma, morreu aqui e ficou presa...mas eu posso sentir ela, como alguém vivo... ela não devia ser...? Meio que ar? Não devia ter presença corpórea...e como que os Lynch nunca relataram isso? Eu duvidava que era só a mim que ela assombrou durante toda a sua fase de assombração...quando ela morreu? porquê ninguém aqui na cidade sabe disso?Isso era confuso, eu estava prestes a pesquisar mais, quando ouvi toques na porta, me causando um sobressalto de susto.

Mamãe abriu a porta do meu quarto após bater mais algumas vezes, eu me sentei rapidamente na cama, meio atordoada tanto pela a volta a realidade abrupta, já que estava tão concentrada na pesquisa, quanto pela visão a minha frente, minha mãe estava linda, com um vestido até os joelhos tubinho, saltos pretos e cabelos soltos.

— Você está linda!

— Obrigada — Sorriu largo feliz. Eu não me importava que mamãe quisesse recomeçar sua vida, sabia que ela ficou tanto tempo com meu pai, somente por mim, não era feliz. Ele a traía constantemente. Ela merecia conhecer alguém legal. E se ele fosse um cara bacana, eu não iria ser empecilho para a sua felicidade —Ele chegou...

— Não deixe ele esperando...! Vai, ué!— falei sorrindo, eu estava brava com ela ainda pela mudança de cidade, e por me colocaram numa situação tão estranha, mas ela era minha mãe, eu precisava conversar com ela, mesmo se ela não acreditasse em mim, mas deixaria para depois, ela não merecia ficar preocupada, estava tão feliz.

— Você quer ir junto?

— Não — fiz uma careta — definitivamente não, eu vou ficar bem ...contanto que tenha comida —sorri fraco, não ficaria bem, estaria sozinha com uma assombração, mas eu não poderia falar isso para ela, ainda.

— Tudo bem hija? Me parece um pouco aflita — perguntou preocupada

— Sim mãe, só estou preocupada com essa bagunça — apontei para as caixas que estavam ocupando boa parte do quarto — mas logo vou resolver isso.

—Você é tão organizada que chego a ficar até mesmo boquiaberta... — divagou em pensamentos

— Vai mulher! — a cortei, porque sabia que ela estava enrolando por estar nervosa.

— Tudo bem, Te amo hija, se comporte, não demoro a voltar, ele mora perto — acenei com a mão como costume quando ela me lançou um beijo no ar, quando minha mãe saiu pela porta eu ainda estava atordoada, só após algum tempo assimilei suas palavras.

— Como assim ele mora perto?!— corri até às escadas, mas minha mãe já tinha saído, me fazendo arregalar os olhos nervosa.

Eu só esperava não ver a assombração novamente.

BRASAS DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora