10 - O 'Ritual'

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ᗰamãe tinha saído.

Quando eu cheguei do colégio, pronta para sentar na mesa e ter uma longa conversa com ela, encontrei a casa vazia, um cozido de carne com batatas sobre a mesa e um papel grudado na geladeira que dizia que ela "saiu" para fazer algumas compras, é claro que eu não acreditei, mas eu tinha que admitir, mesmo que contragosto, que isso tinha sido algo bom, já que iria facilitar minha tarefa.

Então botei minha capa preta e vermelha, e coloquei uma música do Bob Marley para entrar na vibe. Eu não sabia muito como esse negócio de fantasma real funcionava, eu achava que eles eram tipo presenças aspectral que ficavam lá assombrado casas invisíveis, com seus rostos pálidos brilhantes e voando. Também não sabia como funcionava essa loucura de ver ela as vezes, não sabia se ela estava lá fora fazendo coisas de fantasmas ou se simplesmente estava invisível olhando tudo, e eu sinceramente tinha medo dessa última possibilidade ser a certa. Eu estava correndo risco dela descobrir meu plano e ficar furiosa querendo me matar, mas eu precisava me arriscar.

Eu tinha lido alguns sites que diziam sobre rituais para tirar energia pesada da casa, encostos, etc.

Então coloquei uma panela com sal grosso e água pra esquentar para meu banho de descarrego ou algo do tipo depois, e comecei a jogar pequenas pedrinhas de sal pelo chão de casa que estavam em um punhado em minha mão enquanto segurava umas ervas queimadas na outra, espalhando a fumaça pelos cômodos, é claro que eu estava me tremendo de medo, afinal não sabia se a fantasma não estava me olhando escondido, ou se o ritual estava funcionando e a alma dela estava se afastando da casa, fiquei alguns minutos fazendo isso e aos poucos um sorriso de vitória estava se formando nos meus lábios, devia estar funcionando, por isso ela não tinha aparecido ainda!

Então, para fortalecer meu ritual, comecei a cantar a música mais alto ainda mais concentrada, deixei a Sálvia no chão queimando e peguei um pacote de sal grosso jogando com mais fé e força enquanto cantava.

"No, woman, no cry
No, woman, no cry
No, woman, no cry
No, woman, no cry"

— Deus… — dei um pulo ao ouvir a rouca voz do fantasma, quando me virei dei de cara com uma assombração perplexa, de boca aberta olhando tudo ao redor de maneira avaliativa — O que você está fazendo…? — ainda parecia confusa... eu deveria fazer isso com ela presente, não é? Para funcionar melhor, tipo nos filmes... bem que eu duvidava que tudo seria tão fácil mesmo…

— SAIA DESSA CASA ENCOSTO! ELA NÃO TE PERTENCE — joguei um punhado de sal grosso nela, fazendo a assombração se afastar rapidamente... então ela tinha medo de sal…— EL ESPÍRITU SALE DE ESTA CASA, IR A LA LUZ — comecei a falar em espanhol rápido, sempre que ficava muito nervosa ou irritada, eu deixava escapar minha língua nativa, enquanto tacava sal e a assombração se esquiva rindo — SALE…

— Quando você disse que iria me ajudar a sair dessa casa...se tratava disso? — gesticulou com os dedos revirando os olhos verdes — Você é demente, garotinha? — riu negando com a cabeça, eu sabia que ela estava tentando me distrair, então comecei a jogar mais sal grosso enquanto orava para um Deus Celta, árabe ou sei lá, poderia ser egípcio também, que tinha achado o nome no Google — Qual é seu objetivo com esse pequeno teatro decadente?

— Saiaaa Demônio dessa casa! — disse com mais fervor.

— Basta! — exclamou sem paciência antes de girar a mão esquerda no ar, me fazendo cair no chão esparramada com força, como se uma força invisível tivesse me empurrado — Que Diabos, garota?!

Não tinha funcionado... ela era mais forte do que pensei... agora eu estava nas suas mãos... provavelmente eu seria torturada… ou pior, morta!

— Você é uma imbecil! — disse com desdém me olhando em julgamento, respirou fundo e me apontou o dedo indicador — eu quero que você tire tudo daquele quarto até o final desse dia, não me importo em como vai fazer isso, está brincando muito comigo, Camila Cabello, e eu nunca fui do tipo que tem tolerância para isso — e em um piscar dos olhos ela sumiu, sumiu mas não sem antes fazer um saco de sal grosso voar e acertar o meio do meu peito com força, me fazendo ver todos os santos de tanta dor.

BRASAS DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora