BRASAS DE FOGO

1 - Busca

ᗩbri meus olhos sentindo o sol já incomodar minhas pálpebras, outra vez eu tinha dormido fora de casa, no quintal para ser mais específica, mas agora, diferente das primeiras vezes minha mãe não se incomodava mais, sabia que teria uma Camila irritada se fosse atrás de mim, ela estava respeitando meu espaço, não entendia muito bem o que aconteceu e eu não conversava sobre isso com ela, mas uma coisa era certa, ela sabia que algo tinha acontecido. Talvez, de certa forma, eu a culpasse um pouco pela ida de Lauren, mesmo isso sendo ridículo, já que Lauren quis ir. Eu sabia que minha mãe estava mal pelo que aconteceu, mesmo acreditando ter me salvado de uma "possessão" quem não estaria afinal, mas eu não tinha tempo para isso, desde que Lauren foi embora eu estava um caco, dos piores, isso poderia parecer até mesmo estranho já que quando ela estava aqui eu não tinha total dimensão de como eram meus sentimentos por ela, mas agora que eu já não a via, meu coração parecia que estava morrendo.

Me levantei me livrando da terra que estava nas minhas calças de moletom e apanhando o livro que estava no chão, mais uma leitura fracassada, eu gostava de ler no quintal pois sentia que a natureza pudesse me ajudar a entender melhor os assuntos, mas não havia tido nenhuma resposta para minhas perguntas, o livro que estava em minhas mãos era uma edição rara de encantamentos para invocação, estava todo em árabe, eu tive um trabalho enorme para conseguir e um maior ainda para traduzir corretamente, mas meu trabalho foi em vão, como todos que eu havia tido no último mês. Frustrada mais uma vez eu segui para minha casa, minha mãe já estava na cozinha, fazia o café da manhã, eu senti seu olhar sobre mim mas não me importei, segui para o banheiro onde tomei um banho demorado na esperança de me sentir melhor, mas não funcionou, eu sabia que o que eu estava vivendo não era bom para mim, eu devia deixar ela seguir em frente era o que ela sempre quis, o melhor para sua alma, mas eu não conseguia me forçar a desistir, eu a amava, e só agora me dava conta disso, não poderia deixar ela seguir em frente por mais egoísta que isso fosse, precisava de um ponto final, nem que fosse ouvir sua voz mais uma vez me dizendo que acabou.

Ao sair do banheiro e colocar uma roupa qualquer para ir a escola, eu só comi uma fatia de pão e tomei um copo de leite, não que eu estivesse com fome, não sentia vontade de comer a muito tempo, fazia isso somente para não deixar minha mãe ainda mais preocupada, era o mínimo que eu poderia fazer pela minha mãe. Eu havia ganhado um carro neste mês, provavelmente isso era uma resposta de meu pai, não precisava ser um gênio para saber que minha mãe desesperada havia ido atrás dele, e como sempre Alejandro era, achou que um carro carro e um cartão de crédito com um limite bem considerável iria resolver qualquer que fosse meu problema, ele só era como a maioria dos pais da alta sociedade. Entrei no meu carro largando a mochila em qualquer lugar e logo rumando para a escola, seria mais um dia desanimado como todos os outros desde a ida dela.

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Eu olhava a barra de pesquisa do Google sem saber oque digitar, a verdade é que eu já havia tentado de tudo e nada me levou a algum resultado, aos poucos eu ia perdendo minhas esperanças. Busquei na memória alguma fala de Lauren que pudesse me ajudar mas não encontrei nenhuma, ela sempre era muito discreta nas coisas que falava sobre si e as bruxas, contava só o básico, ou seja, havia me deixado de mãos atadas sem ter como entrar em contato com ela após sua partida.

Você deveria seguir sua vida, não ficar presa ao que um dia teve com ela...

Meu eu interno falava comigo, mas eu simplesmente não conseguia ouvir, estava muito concentrada nisso, eu precisava ver ela mais uma vez para poder ter um ponto final, não aceitava o rumo em como as coisas foram tomadas. O jornal! Pisquei algumas vezes retomando meu raciocínio, sim, aquela matéria antiga que falava sobre a morte de Lauren... Devia ter alguma coisa nela... Rapidamente fui até a minha galeria de fotos, eu havia tirado uma foto da matéria caso me fosse útil algum dia, passando os olhos por cima eu achei algo de interessante.

[...Michelle Morgado, estava visitando a cidade pela primeira vez com sua prima Anna Cross quando desapareceu...]

Eu havia pesquisado o nome Morgado, e não achei nenhuma resposta, era como se o sobrenome não existisse, aparecia só alguns sobrenomes semelhantes, mas Morgado era vago... Até mesmo Chapman eu havia pesquisado,  mesmo sabendo que não teria respostas, Lauren havia deixado bem claro que havia matado todos os humanos com esse sobrenome que sabiam coisas relevantes sobre as bruxas e mesmo se tivesse algum vivo eu duvidava que eles me ajudariam a achar Lauren ou qualquer coisa relacionada a ela. Mas Cross... Eu nunca havia ido atrás, talvez eu tivesse alguma resposta...

— Buhh!! — pulei ao ouvir a voz de Ali, ela riu da minha cara de espanto se sentando ao meu lado no banco, tinha um pedaço de pizza em uma das mãos — O que está pesquisando ai...? — deu uma olhada na barra de pesquisa do meu celular, depois se afastando para apoiar um dos cotovelos na mesa de madeira, o sol estava forte hoje, era um ótimo dia para ficar ao ar livre — Cross? Anna Cross? Já fiz um trabalho sobre ela...

— Como?! — arregalei os olhos espantada me virando para Ali que me olhava como quem estranhava minha reação, mas eu não podia me controlar, era a primeira coisa positiva em um mês que eu tinha.

— Anna Cross. Nunca ouviu falar sobre ela? Ah, verdade, não é alguém muito conhecida, eu mesma não sabia nada sobre ela antes do trabalho.

— Que? Me fala mais dela...

— O trabalho era sobre a falta de representatividade feminina antigamente. Usei como exemplo a subcelebridade Anna Cross, ela era uma atriz de teatro, bem promissora, mas só ficou conhecida quando começou a namorar com um cantor de Jazz extremamente famoso na época, Emílio Coltrane. As mulheres antigamente eram reconhecidas somente pela beleza e pelos namorados, não pelo talento, é bom saber que mesmo aos poucos as coisas vão mudando — disse terminando sua pizza e amassando o papel que a envolvia.

— Uhmm, interessante — mordi meus lábios pensativa, mesmo sem saber se era alguém relacionada com a ex namorada de Lauren eu queria saber mais, poderia me ajudar — Conta mais dela.

— Não sei muito, só o necessário para fazer o meu trabalho, mas pesquisa, é meio difícil achar as coisas sobre ela mas consegue, o que você queria?

— Só saber algumas coisas, curiosidade. — ela concordou com a cabeça — Ela ainda está viva?

— Óbvio que não né, Camila. A menos que ela tivesse mais de 130 anos — riu negando com a cabeça, mas meus pensamentos não estavam mais ali, estavam em somente saber algo cobre ela, Cross era um nome pouco comum naquela região, talvez eu tivesse alguma coisa para concluir com Anna Cross.

Pelo menos, assim eu esperava.