4 - Curiosidade

1.4K 160 41
                                    

ᘉão consegui dormir bem, passei toda a noite assustada, devido ao pesadelo que tive. Eu não costumava ter sonhos que não fossem eróticos, muito menos pesadelos. E esse realmente me assustou, eu estava um caos. Cheia de olheiras e com um jeitão de Zumbi.

Antes das seis já estava na cozinha, tomando café junto com minha mãe, pela primeira vez eu tinha acordado sem ela me chamar. Mal sabe ela que eu nem dormi. Eu não queria ficar sozinha, me sentia observada, se fechasse os olhos podia escutar as risadas macabras dela e seus olhares cheios de ódio. A pele queimada...

Eu queria acreditar que era meu subconsciente me pregando uma peça. Que era um pesadelo somente, mas era tão real. Tão real. Mas o corte que eu tinha sofrido no braço não estava presente, e isso fortalecia minha teoria que era um apenas um pesadelo.

Hoje era segunda feira, eu iria começar a estudar na tal escola da cidade, a única em toda Town Handsome, mas minha aparência estava horrível e eu não estava nenhum pouco animada. Mas, também estava aliviada por poder sair dessa casa por algumas horas. Mesmo tendo sido apenas um sonho, o meu medo não era algo justificável.

Eu não tinha carro, mas minha mãe prometeu me comprar um no meu aniversário, por enquanto eu poderia usar sua caminhonete preta, já que a escola era relativamente longe. Sete horas eu já estava pronta para pegar a estrada, tinha que sair mais cedo para chegar no colégio quando as aulas começassem.

Eu não me produzi, nunca o fazia de qualquer forma, somente coloquei jeans e uma camisa regata. A escola era bem simples, diferente das que eu já estive. As pessoas eram mais acolhedoras e simpáticas. Tanto que no meu primeiro dia já tinha feito uma amiga. Alisson Mckay, ela preferia ser chamada apenas de Ali. Ali era esguia e sorridente, tinha cabelos cor de areia e olhos mel, muito educada e engraçada.

Isso me deixou alegre, não me sentir rejeitada era algo um pouco novo para mim. Eu me perguntava se as pessoas aqui conhecem minha mãe, não que isso fizesse alguém querer ser meu amigo, nunca aconteceu pelo menos. Mas minha mãe disse que a cidade era mais rural, as pessoas não eram acostumadas com a tecnologia, pareciam parados no século passado.

Por isso mamãe escolheu essa cidade para se mudar, ela queria se aposentar da carreira de cantora, e queria privacidade, ser alguém comum, e achou que isso aconteceria nessa região com pouco mais de dez mil habitantes, onde a maioria era pessoas mais velhas ou proprietários de fazendas.

Durante o intervalo, Ali o passou comigo, ela falava animada sobre um tal evento que acontecia nos finais de semana, era algo relacionado a corrida de carros ou algo do tipo, admito que não estava prestando muita atenção, porque enquanto ela falava, eu, inspirada nas típicas mocinhas de filmes de terror, resolvi, pesquisar sobre a cidade na internet pelo meu celular.

Não encontrei nada interessante, só anúncios de alimentos orgânicos produzidos aqui e coisas do tipo, nem notícias sobre crimes achei, pois aparentemente a cidade era muito calma, então resolvi perguntar para minha nova amiga, que morava aqui desde que nasceu, ela devia ser mais útil que o Google.

— Ali — a chamei, ela desligou o celular, o deixando na mesa de madeira que ficava no pátio do colégio e olhou mim sorrindo, sinalizando para eu continuar — Você sabe algo sobre a área rural da cidade? algo macabro, alguma lenda, assassinado... sei lá — dei de ombros, tentando parecer desinteressada, enquanto me xingava mentalmente pela pergunta burra.

— Sim? — pareceu de divertir com a resposta — Praticamente todo mundo em Town Handsome, mora na parte "rural" da cidade — disse entre aspas, com um sorriso nos lábios — toda a cidade é rural Camila, existem lendas claro, como a loira do milharal, o homem morcego que captura crianças nas madrugadas dos dias das bruxas... a mulher de branco que se banha no rio a meia noite... — deixou no ar, dando de ombros divertida — o tipo de lenda de cidade pequena passada de boca em boca, que os pais contam para deixar as crianças assustadas.

— Certo — mordi os lábios pensativas — sabe algo sobre a propriedade que era de Elena Lynch? — a garota ergueu as sobrancelhas, surpresa.

— Bom...esse sobrenome...é o casarão afastado, não é? — concordei, esperançosa com a possibilidade de conseguir alguma informação útil — é da família Lynch a anos, já ouvi dizer que eles compraram em um leilão por um preço muito baixo quando o antigo dono morreu, sem nenhum herdeiro, mas porquê a pergunta?

— Bom, minha mãe a comprou, queria saber mais sobre o local — dei de ombros novamente.

— Certo, não sei muito, os Lynch não tinham muito contato com os outros moradores da região, mas sei que os Lynch nunca moraram na casa, era uma casa de verão.

— Sim — concordei com a cabeça, mordendo os lábios pensativa — é que a casa tem aquele perfil de casa de filme de terror...pelo menos tinha, antes da minha mãe reformar e foi comprada por um preço baixo para uma casa do porte, fiquei curiosa.

— Está vendo assombrações, Camila? — perguntou em tom de brincadeira

— Não, claro que não — ri nervosa — já disse só curiosidade

— Mas fique tranquila, a casa não é mal assombrada, se fosse, como a cidade é tão pequena, isso não sairia da boca do povo, sabe?

— Sei

BRASAS DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora