7 - Submundo

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Insisti para Emília descansar um pouco, ao que parece, invocações sugava muita energia de uma bruxa, mas ela não quis.

— Vamos terminar isso o mais rápido, Camila, para não dar espaço pro medo.

E ela estava certa, nós duas estávamos com medo, e não é para menos, o submundo, inferno, era algo aterrorizante e não sabíamos nem o que íamos encontrar lá ou onde íamos parar, poderíamos literalmente cair no meio de demônios famintos que iriam achar nos duas ótimas refeições, isso antes mesmo que Lauren pudesse saber que estávamos ali. Emília disse que não poderíamos saber onde íamos cair e ela nem poderia definir, era sorte, torcer para cairmos afastadas dos demônio e em um nível do inferno que não fosse tão ruim, se quer que isso fosse possível, aí ela iria mandar uma mensagem através da magia para Lauren, e com sorte chegaria a tempo nela. Estávamos indo para o escuro.

— Você é muito corajosa, está fazendo tudo isso para limpar o nome da sua família, algo que você nem era nascida quando aconteceu — Emília deu um sorriso de gratidão para mim.

— Só espero que consigamos sair de lá. Que tudo não seja em vão.

— Se sairmos de lá, vamos tomar uma cerveja, eu pago.

— Ah por favor! Se conseguirmos sair de lá vivas e com todos os membros, vou tomar muita cerveja — rimos por um momento — Eu vou abrir o portal Camila, o segredo é não pensar muito antes de pular, não pensar em nada, e quando chegar lá, fica em silêncio, até vermos onde estamos, e corre, se não der certo, corre o máximo que puder, vamos ter que entrar juntas ou pode haver o risco de não pararmos no mesmo lugar no inferno.

Concordei com a cabeça. Emília começou a desenhar novos símbolos no chão, longe de onde ela havia invocado Amonok, e após fazer os símbolos e falar algumas palavras, ela jogou o sangue do demônio sobre o símbolo que para mim era desconhecido e difícil até de explicar. Então começou uma espécie de terremoto na caverna. Emília me pegou pelo braço me puxando para dentro do círculo, eu estava lá, até não estar mais, e sentir uma sensação de queda, mas não deu tempo nem para que eu me preparasse para o baque, logo estávamos sobre uma areia quente e úmida. Estávamos... olhei ao redor assustada procurando Emília, quase suspirei de alívio quando eu encontrei ela ao meu lado, a garota largou meu braço passando rapidamente as mãos pelo rosto, ela se levantou em silêncio olhando ao redor. Aí que eu percebi. Estávamos numa floresta... as árvores eram negras, pareciam estar mortas, e a areia? Era avermelhada, como se estivesse suja de sangue, e quando eu olhei para minha mão, ela estava suja de vermelho, a areia estava manchada de sangue mesmo! Era um vasto campo manchado com sangue, o céu era vermelho.

Estávamos no inferno.

Emília fez um sinal de silêncio em minha direção, logo ouvi um barulho ensurdecedor, era um rosnado bestial. Quase não deu tempo de ver meu perseguidor. Um lobo enorme, quer dizer, de todas as criaturas ele lembrava mais um lobo, com o corpo sem pelo, e patas que me lembravam as de ganso, ele tinha asas escamosas e chifres enormes, parecia mortal. Mas o que mais me assustou foi perceber que ele era só o "cachorrinho" do demônio com cabelo de fogo e corpo com escamas, ele soltou uma lufada de ar e ao invés disso saiu fogo das suas narinas abertas.

— Olha o que você achou!

— Camila, corre!

Não precisei ouvir mais nada, com meu coração batendo a mil eu disparei em correr seguindo Emília, ela corria rápido, muito mais que eu, eu ao mesmo tempo parecia tentar fazer uma magia, mandar uma mensagem para Lauren. Eu só torcia que desse tempo. Ela estava distraída demais, tanto que nem viu as chamas de fogo que estavam sendo lançadas em nossa direção.

— Emília! Cuidado!

Pensando rápido demais para mim, eu pulei sobre ela derrubando ela no chão, Emília soltou um gemido de dor, mas não dei tempo dela pensar na dor, agarrei o seu braço e a puxei pra cima, pra correr novamente.

— Eu preciso me concentrar, não estou conseguindo prote... — outra lufada de fogo fez ela se calar e se jogar no chão, após ouvir o meu "se abaixa". Eu não conseguia nem ao menos olhar para trás — Você precisa tentar distrair eles, para que eu consiga mandar o recado!

— E como eu vou fazer isso? — ela não sabia e eu muito menos — Tenta se esconder e manda rápido — eu apaguei um osso que tinha no chão, tentando não pensar muito que isso era um osso humanos e joguei na direção dos dois, acertou na cara do "lobo" mas foi o suficiente para que o lobo parasse de correr na minha direção, eu achei que tinha machucado ele, engano meu, ele só estava esperando o seu mestre chegar, e ele logo veio, num piscar de olhos, passou as mãos na cabeça do lobo e sorriu mostrando os dentes igual lâminas.

— Rata, vai ser divertido brincar com você — o lobo rosnou e ia pular na minha direção, mas o seu mestre não permitiu — Não! Sinto seu cheiro, você não é humana — seu sorriso se alargou ainda mais — Você é Nephilim! E está em meu território, você é muito preciosa ratinha, vai me valer mais viva que morta — o lobo deu uma espécie de uivo.

Em um piscar de olhos o demônio com cabelo de chamas estava na minha frente, ele me pegou pelo pescoço me levantando.

— Mas vou poder me divertir com a bruxa, vá atrás dela e traga ela pra mim — disse para o lobo — enquanto ela estiver aqui em meu terreno as leis dizem que ela é minha. E você garota, é minha.

Os dedos dele eram igual a fogo, e estavam me queimando a pele, eu estava quase apagando, quando ouvi um sussurro longe.

"Durmam, demônios"

O demônio caiu no chão inconsciente, assim como o seu lobo que estava perto dele. Eu caí de joelhos no chão, sentindo meus olhos lacrimejarem com a dor no meu pescoço.

— O que você está fazendo aqui, Camila? — Olhei para cima ao ouvir a voz conhecida, era Lauren, em um vestido vermelho me olhando com um olhar de ódio.



BRASAS DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora