2 - Emília Cross

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ᕮle estacionou o carro na frente da "sun coffee".

— É aqui? Que lugar horrível — Shawn fez uma careta ao sair do carro para olhar melhor o estabelecimento.

Me surpreendi com a facilidade que eu achei um parente do cantor de jazz famoso no passado Emílio Coltrane, aparentemente, segundo minhas pesquisas, ele havia caído no esquecimento três anos após seu sucesso relâmpago, cantou até o final de sua vida mas sem nunca voltar a atingir o sucesso novamente, declarou falência pouco tempo depois de ser considerado um prodígio do jazz. A notícia boa em tudo isso, era que o filho dele era alguém acessível, tinha essa pequena cafeteria em uma parte afastada da cidade, quando eu descobri isso, não demorei a insistir para passar alguns dias com meu pai já que a cidade onde a sun coffee ficava era vizinha a minha cidade natal.

— O que você queria mesmo aqui? — disse com um ar de repúdio, só revirei meus olhos sorrindo de lado, a verdade é que eu estava morrendo de saudades de Shawn e de seu jeito exagerado, mensagens e ligações não chegavam nem perto de um encontro cara a cara — Poderíamos estar na praia agora, Cam, ainda podemos voltar... — implorou juntando as mãos.

— É importante, Shawn, vim até aqui somente para isso.

— Ah, bom saber que sou uma merda pra você né — fingiu estar magoado, eu só dei um tapinha em seu braço.

— Vim para matar a saudade de você também.

— Você é uma cínica, Camila, uma cínica das melhores — arrumou sua blusa, como se ela já não estivesse impecável, apontando para a porta de madeira depois — Vamos rápido antes que eu desista e vá embora.

— Fica aqui, o que tenho para resolver é rápido.

— Nem pensar que te deixo entrar aí sozinha — o encarei com uma cara de tédio, ele olhou algumas vezes de mim para a porta — É, pensando bem acho que vou. Não demora.

Só suspirei tomando coragem para entrar dentro do lugar que fedia a naftalina, quando eu entrei percebi que o lugar era pior por dentro que por fora, tinha algumas pessoas comendo algumas coisas que não pareciam nem um pouco atraentes ao paladar mas isso não me interessava, logo avistei um senhor de idade passando um pano no balcão. Fui até ele desejando um bom dia e recebendo um olhar de desdém de volta.

Joel Coltrane? — ele só largou o pano cruzando os braços.

— O que você quer? — disse com sua voz seca, como quem não tivesse tomado um gole de água a anos.

— O senhor conhece alguma Anna Cross?

— Para trocar algumas palavras comigo tem que pedir alguma coisa aqui, mocinha — sorriu revelando seus dentes escuros.

— Certo, me dá um daquele — apontei para o prato de um cara que olhava um jornal, não era algo atraente, parecia um mingau estranho, mas de longe era a melhor coisa ali.

— Como queira, Rafael! — um rapaz gordinho com a roupa clara toda suja de algo marrom que eu nem queria saber o que era saiu de uma porta que havia atrás do balcão — Um especial 5 para a mocinha aqui — o cara sem falar nada sumiu novamente — Esse é um nome que a muito tempo não ouço. Era uma namorada do meu pai, do tempo de glória.

— Só isso que sabe sobre ela? — perguntei esperançosa, o velho do deu de ombros. Tirando um maço de cigarro do bolso.

— Quando meu pai era vivo, vivia a amaldiçoando pelos cantos, dizia que foi ela que desgraçou sua vida — após acender o cigarro colocou ele nos lábios secos — Depois que terminou com ela viu sua carreira ir de mal a pior. E eu não duvido nada, não se pode confiar em uma mulher loira.

Demônio de olhos de chamas e cabelos de ouro...

Cerrei meus olhos lembrando de algo que havia lido no diário de León Chapman, cabelos de ouro... Cross...

— Após o término ele não teve mais contato com ela? A mulher loira.

—  Foi atrás dela após descobrir que estava falido, mas ela não quis voltar com ele, papai disse que a última vez que havia ouvido dela foi em uma cidade pequena, Town Handsome no Arizona, estava atrás de sua irmã mais velha.

— Ela ainda vive em Tom Handsome?! — eu estava pasma, não acreditava que havia vindo até aqui de graça quando quem interessava estava na mesma cidade que eu.

— Não — jogou o cigarro no chão em seguida o pisando — Foi a última coisa que meu pai soube dela antes de morrer, mas essa irmã dela viveu aqui por um bom tempo até morrer, eu conheci a filha dela, e ela era muito parecida com a ex namorada do meu pai pelas fotos que eu cheguei a ver.

— Então, ela vive aqui ainda? — perguntei com meu coração acelerado.

— Morreu ano passado, mas a filha dela, ou seja, neta da irmã da Cross que você tanto procura, estava tentando vender a casa da família até onde sei.

— Pode me passar o endereço dela?

— Porque está tão interessada nela? — perguntou desconfiado.

— Um trabalho da universidade, sou bem dedicada nas coisas que faço.

Ele ainda cerrando os olhos, escreveu em um papel e depois me entregou.

— Apenas porque pediu a coisa mais cara do cardápio — sorri satisfeita e tirei uma nota de cem dólares da minha carteira e entreguei para ele.

— Obrigada pela atenção.

Sem dizer mais nada sai do estabelecimento, deixando o senhor chocado olhando a nota nova de cem dólares, ao sair dei dois tapinhas no ombro de Shawn que estava mexendo no celular.

— Conseguiu?

— Espero que sim.

                            • ✠•❀•✠ •

— Não quer mesmo que eu entre com você, Cam? — neguei com a cabeça tirando o cinto — Vou esperar aqui, pelo menos aqui não fede.

— Valeu, Shawn, juro que depois podemos... Sei lá, assistir filmes como antigamente e pedir sorvete ruim.

— No que você anda metida, Cam?

— Nada de mais, sério. — sorri saindo do carro e encarando a casa amarela, subi a escadinha que dava para a varanda e bati algumas vezes na porta, não demorou muito para uma garota negra aparecer ali sorrindo.

— Olá.

-— Olá, sou Camila Cabello, uma amiga de Lauren Morgado — o sorriso da garota se desfez, e ela ficou com os olhos arregalados, surpresa

— Emília Cross, e você — ela suspirou, ainda levemente palida somente com a menção do nome de Lauren — Pode entrar — abriu a porta me dando passagem.

— Obrigada.

BRASAS DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora