12 - O Festival

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ᗩqui em Town Handsome ocorria um famoso festival de Tractor pulling no início da primavera, eu não entendiam absolutamente nada sobre isso, nunca fui a maior fã de qualquer tipo que fosse de corrida, mas Ali tinha me explicado pacientemente sobre o evento durante o trajeto, pelo que entendi "tractor pulling" é um tipo de esporte em que são utilizados tratores modificados.

— Nestes tratores são acoplados mais de 1 motor alguns tendo até 6 motores movido a metanol! É muito legal — Ela falava extremamente animada e gesticulando com as mãos, e eu só concordava com a cabeça, murmurando vez ou outra uma resposta falsamente entusiasmada para fingir que entendia algo além de que era corrida com trator — Eles competem para ver qual puxa mais peso numa pista de 100 metros, aquele ali — apontou para o meio da pista de barro, onde tinha vários tratores de diversas cores e muito diferente dos tradicionais amarelados espalhados, tinha algumas pessoas também lá — Que está do lado do trator alaranjado com desenhos de chamas de fogo — corri meus olhos, tentando encontrar o tal trator e logo achei, do lado dele, tinha um rapaz com aparência jovem, ele era moreno e baixo — É Daniel Wolf, ele é o campeão dos últimos dois campeonatos, ninguém consegue ser melhor que ele, desde que ele entrou na competição, vem causando dor de cabeça nos concorrentes — o rapaz então olhou na sua direção e ambos trocaram sorrisos e acenos de cabeça — senta em um dos bancos da arquibancada, eu vou buscar cerveja e tacos para nós — olhei boquiaberta para ela.

— Mas, não podemos beber... Você nem pode comprar bebidas alcoólicas.

— É cerveja Camila, e cidade pequena não tem isso — disse como se estivesse falando que o céu é azul — Você não gosta de cerveja? — agora parecia extremamente chocada e até um pouco revoltada, eu para não parecer otária, só revirei os olhos e cruzei os braços, tentando ser o mais crível possível.

É claro que gosto, só achei que não poderia comprar, onde eu morava pediam a identidade, quem não gosta de cerveja? — disse negando com a cabeça, tentando disfarçar que nunca bebi nem uma gota de álcool.

— Verdade, quem não gosta? Já volto — sorriu largo na minha direção, ela sempre estava sorrindo e isso era algo que eu apreciava, ela parecia nunca estar de mal humor, e depois caminhou na minha direção oposta, onde tinha várias barraquinhas barraquinhas de diferentes formatos e cores.

Então eu fiz oque ela disse, subindo os pequenos degraus da arquibancada e me sentando no meio da terceira fileira, ainda era cedo, estava começando a anoitecer e o vento gélido que acompanha o anoitecer já dava sinais, mas mesmo assim, o espaço, que ficava numa parte afastada da cidade, com quase uma hora de estrada de barro, estava completamente cheio, com pouco espaço para sentar nas arquibancadas, o cheiro de comida e gasolina, preenchia o lugar, e os moradores daqui pareciam estar muito animados para o início da corrida.

Alisson  havia me falado que esse evento anual, era esperado pelos moradores com ansiedade, e que é um evento muito antigo, que começou com a fundação da cidade, era um evento, para comemorar o início da primavera e para agradecer a colheita, mas que com o tempo, as corridas com cavalos foram substituídas por tratores, e Ali disse que provavelmente Town Handsome era uma das pioneiras dessa modalidade de corrida, já que a anos é praticada na cidade, até mesmo, pessoas de cidades próximas vinham para festejar, e o prêmio do ganhador, era nada menos que uma moto (que eu tenho quase certeza que é de trilha) vermelha bem atraente aos olhos, até mesmo eu, que não me arrisco em andar em nada com menos de quatro rodas e numa velocidade relativamente baixa, reconhecia isso.

Uma música num ritmo animado tocava, não faço a mínima ideia de por onde, e eu inevitavelmente, me peguei pensando na atitude da minha querida (ou nem tanto) fantasma inconveniente, não que ela fosse muito normal, mas mesmo assim estava mais estranha que o usual.

Negando com a cabeça, espantei esses pensamentos, eu estava aqui para curtir, não pensar em problemas, e por pensar em problemas, me vinha o motivo pelo qual minha mãe não tinha me acompanhado para o evento da cidade, ela foi "jantar" com o tal amigo, e isso me lembrava que eu não tinha conversado com ela sobre isso ainda, e precisava impor limites, falar com esse cara, saber as intenções dele com minha mãe e essas coisas, de hoje não passava, concordei com a cabeça para reforçar meus pensamentos, estava completamente inerte em pensamentos sobre respeito, limites e honra, quando senti uma mão no meu ombro e logo depois o corpo da minha recém amiga se jogando ao meu lado.

— Estava pensando no que? Estava encarando o nada com uma cara bizarra — riu e me entregou uma das cervejas fechadas que estava na sua mão, e depois abriu a sua própria, tomando um longo gole, enquanto eu a encarava de boca aberta, visto que pelo cheiro que o líquido emanava, não parecia ser nem um pouco atraente.

— Em nada, só em alguns trabalhos que preciso entregar — neguei com a cabeça e comecei a tentar abrir a garrafa em minhas mãos, e falhando miseravelmente, Ali, rindo às minhas custas tomou a garrafa da minha mão e abriu sem o menor esforço, me entregando novamente.

Boa noite — ouvi uma voz grossa nos cumprimentar, e ao procurar o dono da voz, encontrei o mesmo rapaz que Persé tinha falado ser o campeão das últimas duas competições, ele havia se sentado ao lado de Ali, e ela logo sorriu e o abraçou.

— Eu provavelmente esqueci de lhe contar, mas Daniel é meu primo, e Dani, essa é Camila, minha amiga, ela se mudou recentemente para a nossa cidade.

— Ah, minhas boas vindas, espero que esteja gostando da cidade — sorri e concordei com a cabeça, não era boa em falar com pessoas que não conhecia — Só vim dar um boa noite para você prima, e te chamar para a comemoração da minha vitória que vai ocorrer mais tarde com alguns amigos.

— Está se garantindo demais, não acha? — provocou, empurrando seus ombros.

— Só é a verdade, e você está convidada também Camila — se dirigiu para mim com um sorriso amigável — Bom, vou terminar de chegar o Víctor, sabe que não dá para confiar nos meus concorrentes que não sabem perder! — se levantou e entregou uma espécie de bandeja de plástico, onde estava os tacos que Persé tinha trazido para ela — Apreciem minha vitória, moças — ajeitou o chapéu na cabeça e sorriu novamente antes de correr animado até a pista novamente.

Víctor? — perguntei curiosa para
Ali, ela só deu de ombros, rindo e me entregou um dos tacos, que cheiravam extremamente bem, não demorando em dar uma mordidinha no seu próprio.

— É o nome do trator de estimação dele, sério, ele cuida mais daquele trator do que dele mesmo, juntou dinheiro desde os dez anos para comprar um, e agora, me surpreendo dele não dormir abraçado com Víctor — negou com a cabeça, então, ouvi um estrondo, me fazendo pular assustada, Persé somente riu ainda mais de mim, e sinalizou com a cabeça para a pista de corrida, onde tinha um homem, de meia idade, segurando uma espingarda para cima — Vão começar a apresentar os competidores, e logo logo a corrida começa, ansiosa?

— Sim — sorri amarelo e tomei o primeiro gole do líquido âmbar amargo, me controlando para não fazer uma careta ou vomitar,
Ali olhava na minha direção com uma sobrancelha erguida, então eu só sorri forçado — Está uma delícia.

Ela só negou com a cabeça rindo.

BRASAS DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora