6 - Invocação

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Estávamos em uma caverna escura, bem no meio da floresta, fazia mais o menos umas 2 horas que havíamos saído da lanchonete e o banho que eu tinha tomado não tinha adiantado de nada, pois eu me encontrava toda suada e sentia meu rosto ardendo, provavelmente eu havia cortado ele em algum mato, sim a gente literalmente se jogou no meio do mato e apanhamos feio das folhas, Emília não estava melhor, tinha um arranhões finos no rosto, estava suada e o cabelo estava desgrenhado a camiseta branca que ela usava agora estava suja de verde e marrom. Havíamos andado praticamente essas duas horas no mato, não dava pra entrar com o carro aqui, Emília tinha escondido o carro com magia para ninguém mexer e pegado somente o necessário na mochila. Enquanto ela estava fazendo desenhos no chão eu estava pensando, não havia apagado o histórico do Google nem meus e-mails, esperava que Shawn desse fim no meu notebook caso eu morresse, eu e ele fizemos uma promessa sobre isso, seria bem constrangedor se minha mão visse meu histórico, eu queria deixar uma boa imagem.

— Pronto! — Emília se levantou tirando o cabelo do rosto — Essa é a chave de Salomão — ela apontou para o desenho feito com um giz preto que ela havia feito no chão, o símbolo está a dentro de um círculo de sal, o símbolo era bem complicado, nunca conseguiria fazer com tanta facilidade igual ela, tinha algumas palavras que pareciam ser hebraico em volta — Esse giz é abençoado em um ritual da lua, o símbolo da chave de salomão deve ser o suficiente mas o giz e o sal são reforços, não queremos que ele saia do círculo de jeito nenhum e saia andando por aí — ela guardou o giz no bolso e eu me lembrei da minha tentativa de fazer um exorcismo em Lauren, parecia ridículo em comparação ao que Emília fazia, ela devia ter anos de prática.

"Ela é uma bruxa imbecil"

— Se ele sair do círculo pode vagar pela terra? — nunca imaginei que isso poderia ser possível.

— Sim, mas não por muito tempo, então ele vai matar a gente e possuir um dos nossos corpos, os demônios menores são animais selvagens, iam sair pelo mundo só matando e causando caos, não são igual aos demônios maiores, não que se possa confiar neles também, principalmente humanos. Está pronta? Vou começar.

Eu não tinha outra alternativa além de concordar, meu coração parecia que ia sair do corpo, minha mãos trêmulas e meu estômago? Eu estava quase vomitando o sanduíche. Emília começou a invocação, ela falava em uma língua que eu não fazia a menor ideia de qual era, e a cada palavra dela eu ficava mais nervosa, então ela parou de falar.

— Seja bem vindo ao nosso reino.

Engoli em seco ao ver uma espécie de piche gosmenta no chão, de lá, aos poucos algo foi tomando forma, não tinha rosto, era somente um aglomerado de piche humanóide, com uma cabeça fina e um corpo longo. Eu nunca tinha feito algo tão horrível e alguma coisa dentro de mim me dizia que aquilo não era o pior. A coisa começou a fungar, como se estivesse sentindo algum cheiro, então soltou um grunhido horroroso.

Olá garotinhas, o que desejam com Amonok. Posso realizar seus maiores desejos — a voz da coisa, arrepiou meus pelos do braço, era vazia, oca, seca, e ao mesmo tempo bestial. A sua cabeça a princípio estava na direção de Emília, mas depois ele olhou em minha direção,  então soltou outro grunhido — Poder? Dinheiro? Ou verdades lhe trouxeram até mim?

— Queremos fazer um acordo que seja bom para as duas partes.

Claro, Bruxa, garanto que saíram satisfeitas — voltou na direção de Emília e eu quase suspirei de alívio.

— Desejamos seu sangue, uma pequena quantidade — Emília tirou do bolso da sua sua calça jeans um frasco transparente e sinalizou na direção do demônio — Queremos saber seu preço, Amonok.

Claro, deseja meu sangue e o terá Bruxa. Sangue por sangue é meu preço. Deseja meu sangue então terá que me ceder sangue.

— Certo... — vi Emília responder, mas em seu rosto tinha um brilho de confusão, que ela logo escondeu, colocou a mochila no chão e começou a procurar algo dentro dela, vi ela tirar de lá uma pequena adaga de aço.

Não o seu Bruxa, o dela — apontou seu dedo longo e gosmento em minha direção.

— Porque quer o sangue dela?

Não revela seus motivos e eu não revelo os meus Bruxa, me parece uma troca justa.

Emília ia negar, vi isso na sua expressão,  mas eu dei um passo na sua direção e peguei a adaga da sua mão.

— Não viemos até aqui de graça, Emília, deixa.

Ela pensou por um momento mas acabou concordou.

— O seu primeiro demônio.

Pode encerrar o vínculo e me mandar novamente a qualquer momento Bruxa, já Amonok não pode sair até permitir, então, o da garotinha primeiro.

Emília sorriu e jogou o frasco transparente na direção do círculo, o demônio o pegou rapidamente.

— Parece que vai ter que confiar em mim. Isso se quiser o seu sangue, temos outras formas de ir e até outros demônios para invocar. Eu não estou com pressa.

O demônio grunhiu mas mesmo contrariado o frasco se abriu como se uma força misteriosa o tivesse puxado, e uma unha comprida se projetou no demônio, ele fez um corte na palma da outra mão, e um sangue preto caiu dentro da frasco, a mesma força logo o fechou e o frasco veio na direção de Emília que com rapidez o segurou, ela fez um sinal positivo para mim com a cabeça, e eu tomei coragem para fazer um pequeno corte na palma da minha mão, caiu algumas gotas de sangue vermelho pálido no chão, Emília movendo seus dedos, fez as gotas irem até a direção do demônio que grunhiu novamente a absorver de alguma forma o sangue.

— Trato feito e finalizado Amonok, até um próxima.

Acredito que sim, Bruxa. Nephilim.

Ele fez um gesto com a cabeça, e Emília começou a falar novamente na língua desconhecida, enviando o demônio novamente para o inferno, e com um último grunhido vimos ele voltar para o chão, até não ser nem mais a poça de piche.

— Porque ele me chamou de Nephilim?

— Eu não faço a menor ideia, Camila. Mas acredito que seja o motivo dele querer seu sangue — ela parecia cansada — Vamos ter que procurar resposta para isso depois, mas ele pode ter se confundido, talvez tenha sentido cheio de Nephilim em você, mas seja tão fraco que não signifique nada, de um antepassado seu de muitos anos atrás.

— Quer dizer que eu tenho algum antepassado que era Nephilim? Filho de anjo?

— Provavelmente, conseguimos o sangue. Agora é só finalizar o plano e torcer pra dar tudo certo.



BRASAS DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora