6 - "Minha Casa"

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ᗩgradeci mentalmente por não ter gaguejando, segurando com mais força ainda a caneta, pensando rápido em modos de a atacar.

Ela jogou os pés para fora da cama me olhando, pela primeira vez a observei com atenção, ela vestida um vestido escuro, com um espartilho verde, em um tom parecido com o de seus olhos, o vestido era volumoso demais, cheio de babados, parecia  antigo, muito antigo, estava descalça e os cabelos ainda pareciam propocitalmente desgrenhados.

— Esta é a "minha" casa —  disse neutra, mas os olhos continuavam cintilantes, ela parecia sempre estar com raiva.

— Você é... uma espécie de fantasma? Ou demônio? —  apertava a caneta com força, quase a quebrando, para disfarçar o tremor das minhas mãos.

Algo entre as duas coisas —  mordeu os lábios —  você gosta de brincar com a morte, não é? Já devia estar longe a essas horas.

A porta não estava trancada, minha mãe devia estar na sala ainda, eu poderia gritar… mas não duvidava que ela pudesse me matar, ou pior, envolver minha mãe nisso, essa coisa devia ser algo sobrenatural muito poderoso, então, tomando uma coragem que eu não sei de onde saiu e fechando os olhos, me concentrando para não gaguejar, respirando fundo e soltando pela boca várias vezes, eu decidi aproveitar para saber algo sobre ela, talvez saberia ao certo oque ela era, assim poderia saber oque fazer para me livrar dessa coisa, exorcismo, despacho ou algo do tipo.

— Você… gosta da solidão?—  ela ficou em silêncio por tanto tempo que eu abri os olhos para conferir se ela ainda continuava ali, ou se não era novamente uma ilusão que minha mente tinha me pregado.

— Aprendi a gostar —  disse por fim voltando a me olhando, me fazendo ficar frustrada, isso era real...ela era real, sabe Deus o que ela era, mas é real!

— Porque nos quer longe…? Não fizemos nada para você...

— Esse é meu maldito inferno, não tenho o direito de estar em paz nele? Sem pessoas inúteis —  sua voz contínuava fria, embora seu olhar me queimasse, fervendo em sentimentos nada bons. Eu sentia que estava olhando para um animal selvagem, um tigre ou lobo, que poderia me atacar em um piscar de olhos, embora soubesse que ela era bem mais perigosa que um animal.

— Mas… a quanto tempo você está aqui? —  pensei que ela não fosse responder, que me mataria ao invés disso, mas ela respirou fundo e se pôs a estalar os dedos, me causando arrepios de medo.

— Muito, muito tempo... —  começava a parecer sem paciência, engoli em seco e mordi os lábios

— Você não pode sair daqui? —  com a voz um pouco trêmula perguntei com receio

— Acha, me fale, você acha, que se eu pudesse, eu ainda estaria aqui?! Por tantos anos?! —  agora ela estava bem irritada, punhos cerrados e maxilar travado.

— Eu…posso achar um jeito de tirar você daqui…e —  falei apavorada, tentando a acalmar.

— Você não pode, estou morta, garotinha, sabe oque é isso?! minha alma está presa aqui, nesse maldito lugar. Eu não vou repetir, quero você longe - se levantou, ficando ereta.

— Mas… minha mãe gosta daqui, ela não vai acreditar em mim… ela…

— Isso realmente não é problema meu —  deu alguns passos na minha direção, se aproximando, fazendo eu tentar me afastar ainda mais —  irá desenhar em mim com essa caneta, gracinha? - debochou revirando os olhos verdes

— Se afaste! —  eu não poderia fazer nada contra um ser místico, então decidi correr, tentei...mas antes que conseguisse sequer me levantar, a garota estalou os dedos e eu me senti meu ser completamente paralisado, eu estava presa no meu próprio corpo.

— Não brinque comigo —  se agachou e segurou meu queixo, fincando as unhas na minha pele, contorci meu rosto em uma careta de dor —  estou sendo muito boa, até demais, e paciente também, mas tudo tem limites, querida, tudo tem limites.

— Eu não posso sair daqui… é o meu lar e o da mamãe… é uma decisão dela, não minha —  tentei a convencer, me esforcei para me mover mas eu não conseguia, não conseguia controlar meu próprio corpo.

— Ah é?—  ergueu uma das sobrancelhas —  então talvez eu devesse fazer uma visita a ela, não? - sorriu sem mostrar os dentes

— Não!—  arregalei os olhos, respirando ainda mais rápido—  não mexa com ela! Por favor, eu faço o que você quiser… por favor—  choraminguei olhando diretamente seus olhos

— Isso é interessante… —  mordeu os lábios pensativa —  pensando bem, eu poderia me aproveitar do tempo que você passa aqui, faz tanto tempo que eu não… sou notada… eu poderia…—  sorriu me causando calafrios, me olhando com uma promessa, uma promessa que algo muito ruim estava por vir, e iria me atingir com tudo —  pensando bem garotinha, aproveite seu tempo aqui.

BRASAS DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora