Ðevia ser coisa da minha mente, certo? Não tinha nada com a casa, nenhum espírito ou demônio nela, nada. Era só minha cabeça.
Devia ser algo associado ao fato de eu querer desesperadamente voltar para Manhattan, meu cérebro estava querendo achar algum motivo para voltar para Nova Iorque.
Pensei nisso durante todo o caminho de volta para casa, já eram cerca de três horas quando eu saí do carro, encontrando a construção do casarão e me arrepiando inteira. Respirei fundo, tomando coragem, e entrei nela. Minha mãe estava no sofá, tomando algo em uma xícara, assistindo um programa na televisão, algo sobre culinária.
— O chuveiro está novinho em folha filha — ela disse sorrindo — consegui achar um senhor muito simpático para realizar o trabalho, ele veio aqui mais cedo — olhei ao redor desconfiada, minha mãe estava sorrindo muito, com os olhos brilhando, e estava ansiosa, batia as unhas freneticamente sobre a porcelana, queria me contar algo, mas estava receosa, eu conhecia ela bem, e era muito boa em saber as intenções das pessoas, quando eu não estava em outra realidade pensando em alguma razão existencial, claro.
— Hum...quem é ele, mamãe? —perguntei direta, minha mãe que estava olhando distraidamente para a televisão engasgou com o nada, e me olhou de olhos arregalados, enquanto tossia — não precisa nem tentar mentir, estou vendo na sua cara a verdade. Tem homem envolvido.
— Certo...eu... meio, talvez, esteja com um encontro marcado com o dono do supermercado da região — coçou a nuca sem graça, desviando os olhos de mim
— Como? — perguntei surpresa, não imaginei que já tinha encontro no meio, achei que era só flertes.
— Ontem e quando eu estava saindo do supermercado, cheia de sacolas as colocando no carro, deixei algo cair, distraída nem percebi que um carro estava vindo na minha direção, eu fui errada mas ao invés de me xingar ele foi tão atencioso, se preocupando com meu bem estar e até me ajudou a colocar as coisas no carro... —finalmente me olhando — então hoje quando eu fui lá para comprar carne...
— Comprar carne, sei! — zombei rindo, fazendo minha mãe ficar sem graça
— Posso continuar?
— Não sei, talvez você precise comprar carne primeiro — brinquei, recebendo uma almofada no rosto jogada pela minha mãe — vai, continua...
— Então nos encontramos novamente, conversamos bastante e ele me chamou para ir para um restaurante aqui da região pela noite — deixou um sorriso brincar nos lábios
— E você, vai sair hoje com ele?
—É... estou pensando na verdade, ia perguntar para você primeiro...
— Sério? — perguntei rindo — pode ir filha, mas antes das dez esteja em casa e nada de álcool! — ela negou com a cabeça, sorrindo — mas sério, como ele é?
— Ainda é cedo para definir, mas é gentil e educado — suspirou
— A senhora é rápida, Hein! — ela semicerrou os olhos e apontou o dedo na minha direção, tentando ficar séria.
— Me respeita garota! É somente um jantar, nada demais! — concordei me divertindo — e como foi o colégio? — perguntou, interessada.
— Legal, fiz uma amiga, ela é bem legal, a senhora vai gostar dela, Ali.
— Amiga?— ergueu uma das sobrancelhas com um sorrisinho malicioso, não era segredo para minha mãe que eu me sentia mais atraída por mulher, não que eu pensasse muito sobre isso, afinal, duvidava que um dia namorasse.
— Sim Sinue, A-M-I-G-A, só isso, vou tomar um banho, estou morta de cansada, esse caminho quebra e nossa essa cidade é quente!
Passei na cozinha para pegar uma banana e fui para meu quarto, mas quando sumi as sacadas chegando ao corredor, longe dos olhos da minha mãe, voltei a ficar nervosa e com medo, respirei fundo, novamente antes de entrar, ainda apreensiva , eu peguei uma cueca e uma blusa larga para entrar no banheiro que tinha no meu quarto.
Após tomar um banho longo, sempre olhando para todas as direções, com medo de ver a figura distorcida novamente, fui para a cama, me sentei olhando ao redor. A verdade era que eu estava morta de sono, mas estava com medo de dormir e voltar a sonhar. Resolvi provar para mim mesma que era somente um pesadelo, então me enfiei no meio das cobertas, que ainda estavam desarrumadas e me obriguei a dormir nem que fosse só por alguns minutos. Lutando para ficar de olhos abertos, acabei sendo vencida pelo sono e adormecendo.
Após um tempo, não sei quanto, abri lentamente os olhos, ainda sonolenta e até um pouco atordoada. Mas não demorou para mim focar a visão e arregalar os olhos no mesmo instante.
Encontrei a garota do pesadelo me olhando, ao meu lado, deitada na cama, apoiando a cabeça nos cotovelos, felizmente não estava queimada, ela abriu um sorriso que gerou arrepios na minha coluna. Eu não pensei duas vezes em me jogar da cama, caindo no chão, não me importei com a dor do impacto, somente me arrastei até a parede olhando para o chão afoita, tentando achar algo para me proteger dela. Não achando nada melhor peguei uma caneta que provavelmente tinha caído da minha mochila e apontei para ela.
— Que Porra é você?! Oque está fazendo na minha casa?!

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BRASAS DE FOGO
Storie d'amoreOnde Camila e sua mãe se mudam para uma casa que já tem dona. Michelle Morgado, uma fantasma centenária. G!p +18 Não permito versões O.K.