Capítulo 39

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Era difícil saber se estava sonhando ou se tudo aquilo era real mesmo. Lembro-me de alguns pequenos flashs do apartamento. Noeli em sua cama, amarrada pelos pés, a mão e a boca. Os seguranças golpeados na sala. A porta se fechando. Elevador... Tudo ficando longe. E então as luzes da cidade. As luzes que sempre me acompanhavam aonde quer que eu fosse à noite, as luzes da melancólica Salvador.

Tentei olhar para fora por um momento em que o torpor pareceu passar, mas minha visão estava turva. Apenas ouvia o som das rodas do carro girando no asfalto... Para onde estávamos indo? O que o Dr. Macedo estava fazendo ali? Eu desejava saber tudo isso. Mas naquele momento não obtive nenhuma resposta. Devia haver uma terceira pessoa dentro do carro, pois lembro que, depois de olhar brevemente para fora, duas mãos cobriram meu rosto com um saco e o fizeram novamente toda vez que eu tentei escapar.

O carro parou, enfim. Não sei quanto tempo se passou, pois lembro-me de adormecer e acordar diversas vezes no trecho. Tive a noção de que havíamos chegado de fato porque ouvi:

- Vamos! Tire ela daí. – era a voz do Dr. Macedo.

A terceira pessoa abriu a porta traseira, me arrastou pelos ombros para fora do carro e me colocou acima de algo que parecia ser um colchão.

Começaram a sussurrar algo que eu não conseguia distinguir muito bem.

–... Está acordada? – foi tudo que consegui ouvir.

Em seguida, duas mãos pegaram meus braços e os prenderam a um cano.

Aos poucos fui voltando a mim, tomando consciência do que acontecia ao meu redor. Percebia a umidade do cano escorrendo, a brisa fria da noite e alguns passos distantes... Isso foi tudo por alguns momentos até que os passos se aproximaram e soaram cada vez mais altos, ecoando na escuridão. Senti algo arredondado fazer pressão contra minha testa.

- Como vai, Amanda?

- Doutor Macedo?

- Claro. Mas você já sabe disso. Se não, já estaria gritando por socorro...

- O que você quer?

Ele aumentou a pressão em minha testa.

- Não é óbvio? Eu sempre quis você, Amanda. Mas você escolheu aquele demônio! Como pôde?

- Eu não... Eu... Jamais!

- Não minta para mim! – nesse momento, ele tapou minha boca com uma mão, enquanto com a outra me pressionava contra a parede e ameaçava puxar o gatilho. – Eu já sei de tudo. Ele ameaçou me matar quando finalmente arranjei eu disse que te amava. Mas tudo bem. Você me amava também e você o fez poupar minha vida. Pior para ele. Eu te achei na festa que ele deu para os funcionários sujos dele e vi como você ficou abalada quando eu disse mais uma vez que te amava. Foi aí que eu soube que nós ainda poderíamos ficar juntos. Mas depois do que meu primo me disse... Do jeito que você olhava para ele embaixo do Sunset... O jeito como agora você obedece ele... E depois do seu namoradinho tentar matar ele. Nada disso vai ficar assim. Já não há mais nada entre nós, Amanda.

Ele retirou a arma de minha testa e puxou o saco que cobria minha visão.

Não consegui controlar o grito ao ver a cena que se apresentava à minha frente. Estávamos em um galpão aparentemente abandonado em algum lugar afastado da cidade. Eu estava na parede oposta à entrada, amarrada. João Macedo, logo à minha frente, me encarava. Do outro lado do galpão, Frederico se apoiava contra a parede. Entre os dois, havia o corpo de uma pessoa que eu vira tantas vezes...

- O que você fez com ela? Socorro!

Com horror, percebi que era a Sra. Silveira. Sua boca estava aberta. Mas nenhum grito saía dela.

- Ela é mais uma que me decepcionou. E você será a próxima a se juntar a ela.

Meu Mestre Cheio de Segredos (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora