O relógio marcava exatamente nove horas quando Eva sentiu a luz do sol aquecer sua perna, ela abriu os olhos, pesados e doloridos. Nunca teve uma péssima noite de sono como esta. A luz do sol se estendia por todo o apartamento ao entrar pela enorme sacada que as persianas não tinham sido descidas. Ela virou um pouco o rosto e encontrou Chris dormindo em um sono aparentemente profundo, encarou o rosto desenhado, seu lábio levemente arroxeado e um pouco inchado. Seu coração errou uma batida, era como se estivesse em seu auge de vulnerabilidade. Jogou a coberta pesada para o lado e saiu debaixo dela, onde estava aquecido e aconchegante. Apesar do sol pela manhã, ainda fazia frio igual à noite anterior. Seus pés tocaram no chão frio e sua pele se arrepiou, os olhos atentos passearam por toda a extensão do apartamento arrumado, quando por fim, encontrou seu vestido. Silenciosamente ela caminhou até a cadeira de couro e, após retirar a blusa de Chris, colocou o vestido. Ela passou a noite monitorando Chris e qualquer movimento mais brusco, ela já acordava esperando alguma emergência acontecer. Mas a noite foi tranquila e Chris não manifestou nenhuma dor durante a madrugada.— Aonde você está indo? — Ela escuta sua voz rouca surgir no meio do silêncio calmo. Vira suavemente seu rosto em direção à cama e para de calçar o salto.
— Indo embora. — Ele estava sentado na cama a observando, seu peitoral completamente nu e seu rosto amassado de quem acabara de acordar. Ele passa a mão pelo rosto e faz um sinal para que ela se aproxime e bate na cama, pedindo pra que se sente ali. Eva hesita encarando seus pés por alguns instantes. Ainda estava chateada pela noite anterior.
— Por favor. — Ele pede erguendo as duas sobrancelhas e novamente pede para que se sente na cama. Arrastando-se, Eva por fim cede ao pedido e senta na beira da cama. Ele a encara, vendo como se fosse pela primeira vez Eva naquele vestido, e por um minuto sente-se mal novamente por ter colocado fim a um possível jantar romântico. — Eu sei que você está chateada. Eu estraguei o jantar, estraguei a noite, estraguei tudo. — Ele segura na mão pálida e gelada dela, Eva se recusa a encará-lo porque sabe que algo dentro de si vai desmoronar quando o olhar, que ela vai passar por cima de tudo sem hesitar. Ela encara as duas mãos juntas mas não move um músculo.
— Eva, diz alguma coisa, prefiro que brigue comigo a não falar uma palavra, isso me deixa maluco. — Ele aperta de leve a mão da ruiva na sua, tentando arrancar pelo menos um suspiro dela. — Ele apareceu lá e eu não estava nem um pouco preparado pra isso. Eu perdi a cabeça, ele me tira do sério. — Chris desabafa suspirando, sentia sua raiva subir conforme a imagem do gorducho aparecia em sua mente.
— Você não estragou a noite por ter brigado com seu pai, Chris. — Ela finalmente o olha, sentindo segurança e uma certa raiva. Ele a olha e levanta uma sobrancelha sem entender muito bem qual o ponto ali. — Você estragou a noite quando deixou claro que não sou boa o suficiente pra estar com você na frente dele. A propósito, por que estamos namorando, então? Dependendo da resposta eu já me levanto daqui considerando tudo isso um grande momento passageiro. — Eva sustentou o olhar por tanto tempo que ele se viu obrigado a desviar. Encarou suas mãos juntas. Eva definitivamente é a pessoa mais intensa e decidida que Chris já conheceu.
— Você está falando do que eu falei pro meu pai? — Ele a encara e ela apenas concorda. Ele exala todo o ar de seus pulmões antes de puxar mais ar. — Eva, você é mais que boa suficiente, pra qualquer um, na verdade. Mas pro meu pai, ninguém é bom suficiente, só ele. Falei aquilo porque sabia que se eu dissesse que você é minha namorada, ele iria investigar cada parte da sua vida, ia transformar sua vida em um inferno até me ver afastado de você. Você não tem noção das coisas que ele faz pra conseguir o que quer. Nunca que eu vou te colocar em uma situação dessas com ele. — Ele abaixa o olhar. Ele conseguiu, conseguiu fazer o coração de Eva se derreter como uma manteiga, novamente.
— Ele foi um filha da puta. — Eva fala por fim, pegando Chris de surpresa com o palavreado. Os dois se olham e Chris solta uma risada abafada.
— Sim, mas isso não foi nem a metade... Estamos bem? — Ele pergunta e ela apenas envolve seus braços ao redor do pescoço de Chris. Ele sente o leve aroma de morango quando enterra seu rosto nas madeixas ruivas. Quando Eva se afasta um pouco e sela seus lábios, ele solta um gemido de dor.
— Desculpa. — Ele ri fechando os olhos para tentar amenizar o incômodo.
— Vamos tomar café, hoje vou preparar. — Ele dá um tapa na coxa desnuda de Eva e pula da cama. Ela o acompanha com o olhar, admirando o físico definido do rapaz.
— Devo me preocupar e chamar os bombeiros? — Ela perguntou deitando-se na cama de bruços. Ele se vira e lhe lança o dedo do meio.
— Muito engraçadinha, Eva.
O dia que transcorreu foi maravilhoso, Chris decidiu levar Eva ao cinema e depois foram para um pequeno play no shopping, e como todo bom casal em um encontro ou em uma saída, tiraram fotos na cabine. As fotos foram cortadas no meio das tiras, Chris ficaria com duas e Eva com a outra parte. E algo inesperado aconteceu assim que eles voltaram à casa de Chris, a luz do bairro acabou e enquanto tentavam arrumar o gerador do prédio que não era usado há décadas, Chris teve a brilhante ideia de preparar um jantar à luz de velas. Eva ficou maravilhada, nunca teve um encontro como esses e definitivamente foi o melhor de todos. Depois de comerem um prato de batatas recheadas e uma salada de siri acompanhado de um vinho tinto, eles se sentaram no enorme tapete que Chris esticou na sacada. Eva estava no meio das pernas de Chris, observando as pequenas luzes que voltavam a funcionar. Eva ainda tinha uma taça entre os dedos que Chris acabava de encher. O momento mais perfeito que já teve na vida, ali, de frente pra cidade que não dorme, ela apenas queria adormecer nos braços do homem que ama.
— No que está pensando? Ainda sobre o concurso? — Ele indaga vendo que Eva estava meio distante. Ela não estava pensando sobre o concurso, pelo menos até o então momento, estava pensando na possibilidade de estar amando Chris.
— É... Estava pensando sim. — Ele a toma em seus braços e a aperta mais contra si, deixando um beijo em sua bochecha.
— Me diz algum plano seu pro futuro. Ou algo que você gostaria de fazer. — Eva soltou uma risada ao sentir os lábios de Chris passarem suavemente por seu pescoço.
— Bom, eu não fiz muitos planos. Prefiro viver um dia de cada vez. Por isso a ideia de não ganhar o concurso me assusta tanto. — Ela fecha os olhos sentindo a pele se arrepiar com o toque de seus lábios.
— Mas você deve ter um sonho, quero dizer, deve ter alguma coisa que você gostaria de fazer daqui a alguns anos. Casar, filhos, comprar uma fazenda, pular de paraquedas, sei lá. — Ele cessa os beijos e Eva quase protesta, mas por um segundo, ela realmente entra na conversa. Ela encara a taça entre seus dedos e passa o indicador pela borda.
— Casar? Hm... Pode ser. Filhos? Não sinto vontade em ser mãe. Comprar uma fazenda? Bom, não levo jeito com animais e pular de paraquedas? Hm... Acho que esse eu poderia tentar. — Ela soltou uma risada acompanhada dele. — Na verdade, tem uma coisa que eu gostaria de fazer... Queria escrever um livro, publicar e ser bem famoso. Acho que é um plano pra alguns anos.
— Uau, escrever um livro? É uma coisa muito grande, acho que você vai tirar de letra. — Eva fica agradecida internamente pela confiança que ele deposita nela.
— E você? Me diz algum sonho que você quer realizar daqui a alguns anos.
— Bom... Quero comprar um barco pra viajar o mundo todo e mesmo assim ainda estar em casa. Gostaria de pular de paraquedas alguma vez na vida, até compraria uma fazenda mas prefiro a movimentação da cidade. Casamento é complicado mas se for com alguém que eu amo, vale a pena. — Ele aperta Eva em seus braços nesse momento.
— E filhos?
— Isso depende... Não sou muito chegado a cuidar de crianças mas também não me importaria de ter uma. Mas você disse que não quer ser mãe, então não me importo de não ser pai também. — Ele mostrou, naquele momento, que Eva faria parte de seus futuros planos e ele dos dela.
— Mas você abdicaria de ser pai só por minha causa? Por quê?
— Como eu disse, não é algo que eu me importe muito... E também porque... Eu te amo.
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The Contest - Chris e Eva
RomanceFormada em Jornalismo, Eva finalmente encontra a oportunidade de subir na vida: Ser a Editora Chefe da resvita Vogue de New York, mas que para isso aconteça, Eva terá que entrar em uma competição com jornalistas do país inteiro para ganhar o primeir...