06/15
“A chama ainda está queimando
Queimando fundo na minha alma
Quando eu penso em seu amor e beijos”— I-isso é bom, não é? Nós vamos ser pais e... E-eu realmente não sei o que dizer. — Josh solta as palavras e se aproxima da cama de hospital onde eu estou.
Não sabe o que dizer? Isso é bom? Claro! Ótimo! Eu só estou grávida com dezenove anos, e ele é da minha família... Minha mãe odeia ele e a mãe adotiva dele me odeia. O que poderia ser pior?
Pois é, não tem coisa pior. Eu já posso imaginar na escola, como todos vão falar com ela, o que irão dizer sobre ela. Fruto de um incesto? Ou, "nossa, sua mãe é sua prima...". Com certeza vão falar, pois crianças são malvadas e não seguram a língua dentro da boca.
Preciso parar de pensar demais, Hope nem nasceu ainda eu já estou imaginando o tipo de bullying que sofrerá na escola.
— Eu não sei... O que ela vai pensar disso? Vai nos odiar?
— Ela quem? — pergunta, sentando ao meu lado na cama.
— Eu acho que é uma menina, o bebê — falei, tentando não rir da sua lerdeza.
— A quanto tempo sabe que... Nós somos pais? — questiona, segurando minha mão e entrelaçando nossos dedos.
Voltando seus olhos azuis para mim, pensei que ele estivesse irritado, mas seus olhos brilham com tamanha intensidade que não consigo compreender.
— Alguns meses... Eu não tive coragem pra te contar e... — Minha voz sai baixa, quase como um sussurro.
— Achou o que? Que eu iria pedir pra você fazer um aborto ou algo do tipo? Por Deus, Any... Pensei que me conhecesse. — Deita a cabeça em meu ombro, suspirando triste.
Ele está certo. O que exatamente eu estava pensando? Fiquei com tanto medo de Sabina estar certa, do Josh mesmo não sendo o Ryan, ter o mesmo pensamento terrível e idiota. Eu só queria que tudo fosse diferente, ou que eu fosse diferente. Sei que sofro com antecedência e sou manipulada facilmente... Mas esse é o jeito que sou, já tentei mudar, tentei amadurecer. Entretanto, parece que sempre haverá algo me puxando para trás, fazendo meus medos serem maiores do que meus sonhos e vontades.
— E-eu não sabia como você iria reagir.
— Any — Se vira para mim, segurando meu rosto com ambas as mãos —, eu sempre deixei claro meus sentimentos, sempre disse que te amo e que faria qualquer coisa por nós, por que não consegue acreditar em mim? — Suas palavras são sinceras, e fazem meus olhos marejarem no mesmo instante.
— Eu acredito, mas... — Limpo as lágrimas. — Às vezes sinto como se não te conhecesse direito, entende? — pergunto com a voz embargada.
Ele sorri e balança a cabeça em negação. Reviro os olhos, passando o dorso da mão no rosto para secar meus olhos. Josh consegue sorrir até em um momento desses, onde estamos completamente ferrados e sem ter para onde correr.
— Chega de pretextos, estou a um passo de jogar tudo para o alto e te sequestrar — diz com um sorriso descontraído.
Coloca uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha, continua me olhando com suas grandes esferas azuis... Não sei por quê ainda estamos separados.
— Minha mãe iria até o inferno se você me sequestrasse ou a gente fugisse. — Uma risada baixa escapa dos meus lábios, só de imaginar que ela faria isso mesmo.
Mas se ele disser que quer tentar e ver no que dá, eu aceitaria. Me atiraria se cabeça novamente, porque eu sou uma idiota e sou completamente apaixonada por esse outro idiota.
— Termina a escola na semana que vêm, não é? — Seu sorriso travesso deixa várias dúvidas na minha cabeça. Ele está pensando mesmo nisso? Fugir? Deixar tudo para trás?
Não que isso seja ruim, eu aceito... Só não quero nem imaginar os cartazes de desaparecimento que mamãe vai espalhar pela cidade inteira. E depois vai ficar extremamente irritada quando descobrir que eu não me afastei de Josh como ela mandou.
— Sim... Isso seria injusto com a minha mãe e seus pais adotivos — resmungo, olhando atenta para qualquer palavra que seus lábios desenham.
Dona Priscila é uma mulher incrível, que não guarda rancor. Perdeu a irmã que mais amava, perdeu o marido, a outra irmã se afastou e o irmão foi sequestrado quando criança... E agora que o encontrou, agora que tem eu; nós vamos deixá-la? Fazê-la perder nós dois ao mesmo tempo? Isso seria crueldade.
— Nós poderíamos deixar uma carta, dizendo que estamos bem e...
— Seria pior ainda. Josh, eles foram as pessoas que nos criaram, agora vamos deixá-los sem mais nem menos? — Sei que pareço estar mais uma vez arrumando uma desculpa, mas eu não quero magoar a minha mãe.
Mesmo a mãe do Josh sendo uma velha sociopata e idiota, ela não merece isso também. Cuidou dele por tantos anos, deu tudo do bom e do melhor para que no final ele fosse embora deixando apenas uma carta. Isso seria desumano.
— Porra, Any. Quer que eu faça o que então? — Suspira encostando suavemente sua testa na minha. — Não posso me afastar de você mais uma vez, não vou deixar vocês sozinhas de novo.
Sorrio ao perceber que pela primeira vez ele tocou no assunto, dizendo “vocês sozinhas”, isso se torna mais real. Hope se torna mais real, e me deixa ainda mais apavorada... Mas eu amei isso.
— Um mês, só mais um mês e então vamos embora para qualquer lugar que você quiser. Pode ser? — pergunto, dando um selinho nele.
Permanecendo com os olhos fechados, com meu rosto e respiração bem próximos a ele. Preciso de um mês para preparar minha mãe, e fazê-la se casar enquanto eu ainda estou aqui. Sei que ela vai achar estranho, mas não vai desconfiar das minhas reais intenções.
— Sabe que não resisto aos seus pedidos, amor — sussurra com a voz rouca, segurando firme na minha nuca.
Por tantos meses tentei me afastar, mas no final sempre acabo sendo puxada de volta para Josh.
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𝗶𝗹𝗶́𝗰𝗶𝘁𝗼 | 𝗯𝗲𝗮𝘂𝗮𝗻𝘆 ✓
Fanfiction→ 𝗮𝗱𝗮𝗽𝘁𝗮𝘁𝗶𝗼𝗻 | Quando Josh Beauchamp bate na porta dizendo ser da família, tudo muda de maneira brusca na vida dos dois. Any vê toda sua sanidade e moral se esvair ao perceber que seus sentimentos pelo tio são bem mais do que uma simples a...