XXXI - Conversando com o Madara

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Madara não acreditou. O que aquele velho estava fazendo ali? Mas passado o espanto inicial, se recompôs e pediu que ele sentasse no sofá, que ficava do lado oposto da sala. Era elegante e imponente, como os quadros e demais móveis da sala, mas com uma boa dose de exagero.

Hiruzen aceitou, com a humildade que lhe era característica, sentou no local indicado. Madara sentou na sua frente e perguntou com polidez:

- Em que lhe posso ser útil senhor...

- Sarutobi, Hiruzen - completou o professor. Madara sentiu que aquele nome não lhe era estranho, evocava alguma memória antiga, entretanto, não foi capaz de identificar naquele momento - Estou ciente de que é um homem de negócios e que seu tempo é valioso, por isso, vou direto ao assunto. Estou aqui por causa de um amigo que sempre foi como otouto pra mim. Sei que você teve um otouto que te amava muito, assim como você a ele - abriu a pasta e tirou uma foto, entregando-lhe.

A princípio, Madara não percebera exatamente do que se tratava, pois estava divagando sobre o que aquele velho, o qual ele tinha mandado espancar, e certamente sabia disso, estaria fazendo ali. Mas quando pegou a foto em suas mãos, seu descontrole foi evidente: ela estava um tanto amarelada pelo tempo, mas não havia dúvidas: era Izuna, seu amado irmão, em plena juventude. Lindo! Seu coração se apertou dolorosamente de saudades, e seu olhos começaram a chorar sem a sua permissão.

Levantou-se de modo brusco, saindo da sala por um pequeno corredor lateral, que Hiruzen supôs levar ao banheiro. Como ele pôde se descontrolar daquele jeito e chorar? Especialmente na frente de um estranho?
Censurou-se em frente ao espelho. Ele, o "Coração de Gelo" do mundo dos negócios!

Demorou-se alguns minutos no banheiro, para se recompor, lavou o rosto e voltou à sala.

- Onde achou essa foto? - perguntou ainda irritado consigo mesmo por não ter conseguido se conter.

- Há aproximadamente 20 anos eu conheci o rapaz desta foto. Era a pessoa mais bela, inteligente e compreensiva que eu já tinha visto. Eu era uns três, quase quatro anos mais velho que ele. Estudávamos na mesma sala. Por problemas familiares, que nos obrigavam a mudar diversas vezes de residência, eu reprovara alguns anos e era mais velho que o resto da turma. Recebia gozações e me isolava. Mas ele viu além das implicâncias dos outros e começou a conversar comigo - disse sorrindo com sua lembrança - Desse dia em diante, estávamos sempre juntos. Você sabe bem que ele era um dos garotos mais populares da escola. E o fato de me reconhecer e respeitar, fez os outros pararem de implicar comigo. Então, como era inevitável, me apaixonei perdidamente. Contudo, o milagre inexplicável foi ele corresponder aos meus sentimentos.

-Você está dizendo que foi namorado do meu irmão? - perguntou bufando.

- Sim. Foi um ano maravilhoso, no qual me senti o rapaz mais feliz do mundo - disse com sinceridade - Na verdade, foi a única vez em que fui realmente feliz. Depois teve aquele trágico acidente... - seus olhos marejaram e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, mas continuou falando - Eu sequer pude dar o último adeus. Não tinha dinheiro para viajar - soluçou, como se voltasse àquele dia e as lágrimas começaram a escorrer mais rápidas. Ficou um momento em silêncio, sacudido pelos soluços. Depois respirou fundo e continuou - Mas não é isso que eu quero te dizer. Talvez você saiba, talvez não, mas Izuna te amava muito. Por um período, ele me contou, foi até apaixonado por você. Coisa da adolescência. Confidenciou envergonhado que até implicava com suas namoradas. Mas que foi uma fase, e passou.

Hiruzen remexeu na pasta e tirou outra foto, entregando-a para Madara. Ele se lembrava daquela. Izuna tinha sete anos e estava montado nos seus ombros. Eles tinham saído para o primeiro passeio sozinhos. Foram a um parque de diversões. Madara tinha ganhado um coelho de pelúcia no Tiro ao alvo para o irmão. E, a partir daquele dia, Izuna não se separava do tal coelho nem para dormir. O homem de negócios apertou os olhos para impedir as lágrimas teimosas.

Amado ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora