Capítulo 3

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"Toda garota sonha em, encontrar seu príncipe encantado. Mas se esse príncipe se recusa a vir.. uma garota precisa dar um jeito com suas próprias mãos."
Gossip Girl

Querido diário,
Aos nove anos de idade, sonhava com o príncipe encantado em sua armadura brilhante, montado em um cavalo branco, vindo me resgatar desse castigo de vida.
Hoje, quero mais que o príncipe se foda! Andam para cima e para baixo em seus cavalos, desesperados por um rabo de saia, procurando uma janela com uma moça bonita para gritar infinitas - e falsas - juras de amor. O amor eterno desses desocupados acaba no primeiro surto da mulher, imagine se algum deles terá colhões para lidar com a merda que é minha família?
Eu sou a própria princesa heroína da minha história. Eu mato dragões todos os dias, e me verei longe dessa torre muito em breve.
Serei livre!

Fechou o diário surrado e o guardou debaixo do colchão velho de sua cama de solteiro. Talvez fosse imaturo manter um diário em sua idade, mas era uma particularidade que prezava muito. Muitos segredos e pensamentos não podia contar a alguém, tanto por medo, vergonha ou até mesmo falta de confiança, então aprendeu a se expressar através de palavras escritas. Em seu diário, deixava falar a mulher que reprimia dentro de si.

O primeiro diário, foi uma professora quem lhe deu. Ao ver que a menina era calada demais e que não se abria facilmente, a incentivou a escrever tudo o que pensava e sentia, depois a instruiu a queimar as páginas. Essa parte Bianca nunca cumpriu. Desde o início, sempre teve muito o que escrever, mas não chegou a queimar nenhuma página sequer. O motivo? Nem mesmo ela sabia, o que resultava em três diários completos escondidos no fundo de seu velho guarda-roupas branco, e um prestes a ser preenchido.

Ajeitou seu vestido amarelo com pequenas flores estampadas, e deixou o quarto, dando de cara com o pai, que como sempre, chegava bêbado em casa.

— Aonde você pensa que vai? — O homem de pele clara mal se aguentava em pé. A bebida havia acabado com sua vitalidade. A barba longa e mal-cuidada já estava toda branca, assim como os cabelos finos e ralos, que cresciam apenas nas laterais de sua cabeça.

— Hoje é o casamento da Mariana. Falei para o senhor ontem. — Como se ele fosse se lembrar de alguma coisa!, pensou amargamente.

— Você não vai.

— Mas, pai...

— Já falei, menina! — esbravejou, e Bianca se encolheu instintivamente. Cresceu com a bebedeira e agressividade de seus pais. Sua mãe, no início, também apanhava do marido e ficava quieta. É o jeito dele, Bianca, era o que dizia. Com o tempo, farta daquela situação, a mulher simplesmente desistiu de tudo e também se afundou na bebida. Muitas vezes era deixada em casa por algum conhecido, já inconsciente, e dormia onde quer que a deixavam. Quando ficou mais velha, em uma das poucas conversas que teve com a mãe, a mulher lhe disse que enquanto estava fora do ar, não dava motivos para o marido a espancar. Era deprimente pensar que a culpada era ela, Bianca sabia, mas a mãe nem sequer quis escutar quando ela pediu que deixassem a casa para viverem longe daquele homem. Já era tarde, Sueli também havia se rendido ao álcool e era tão dependente - ou mais - que Alaor, seu pai.

— O que você fez para comer? Estou com fome. — Cambaleou até a cozinha e abriu o forno do fogão, pegando um dos pratos de comida que a filha sempre deixava pronto para eles. — Que porcaria é essa? — A jovem engoliu em seco. — Você só sabe fritar linguiça? — Atirou o prato na parede, espalhando comida e cacos por toda a parte.

— É só o que tem, pai — murmurou, sem levantar o olhar.

— É por isso que quer ir para essa festa, não é? Para comer do bom e do melhor enquanto nós somos obrigados a comer essa merda todo santo dia! — Bianca se manteve de cabeça baixa enquanto se encolhia ao ouvir os passos do homem se aproximando. Poderia correr, sabia que no estado em que ele estava, jamais conseguiria alcançá-la, mas o castigo seria muito pior quando ela voltasse para casa. Era sempre daquela forma quando tentava se safar.

Vivendo Um Sonho [Desejos Ardentes - Livro Três] - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora