Prólogo

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Dezessete anos antes...

— Não venha me dizer que nunca demonstrei amor por você. Abandonei minhas filhas para acompanhar cada um dos seus passos. Que prova maior de amor você quer? — Vicente ouviu a voz alterada de sua mãe, que berrava com o pai. Estavam trancados no escritório havia algum tempo, e não demorou para que os gritos começassem. Não era nenhuma novidade. Já fazia bons anos que os dois viviam daquela forma, brigando a maior parte do tempo e fingindo que não se conheciam quando se encontravam pela casa.

— Acha que isso é prova de amor? — Ouviu a risada ácida de seu pai, que falava com a mãe em português, apesar de o sotaque ser muito forte. Sempre usava aquela tática quando não queria que Vicente ouvisse o teor das brigas — pelo menos enquanto não era vencido pela raiva, pois quando se irritava, o espanhol escapava sem que se desse conta —, entretanto, com o passar dos anos, o garoto também foi ficando fluente na língua nativa de sua mãe, o que dificultava cada vez mais as tentativas de tentar poupá-lo das discussões. — Isso só prova o quão ambiciosa você é, Marisa. ¡Una mujer podrida, fría y vacía, que abandonó a sus propias hijas por su codicia! — Ouviu o som de um tapa e se encolheu instintivamente

— Tudo o que fiz foi por amorrosnou.

. Por amor a mi dinero — rebateu.

— Pois enfie toda a merda desse dinheiro no rabo, seu merda!

Vicente tentou se afastar quando ouviu os passos de sua mãe, mas não foi rápido o bastante. A mulher franziu as sobrancelhas ao abrir a porta e encontrá-lo no corredor.

— O que eu já lhe disse sobre ouvir atrás da porta, Vicente? — O garoto encolheu os ombros.

¿Por qué estaban discutiendo? — sondou em um tom baixo, quase amedrontado.

— Porque seu pai é um ingrato! — vociferou para que o marido a ouvisse. — Vá se deitar. Está tarde para que esteja acordado.

Passou por ele com toda a confiança que sempre exalava. Marisa, com o passar dos anos, foi aprendendo a ter mais confiança em si mesma, sabendo seu lugar na sociedade como a esposa de Javier Del Rey, conhecido como el señor del petróleo. Um homem famoso por sua grande fortuna, que era alvo de todas as atenções onde quer que pusesse os pés, e uma figura tão imponente precisava ter ao seu lado uma mulher a altura, e foi assim, se moldando a ele e à sociedade que os cercava, que Marisa Del Rey surgiu, apagando de vez a garota insegura de Riacho dos Pardais, que provinha de uma família desestruturada desde a infância.

¿Mamá? — chamou antes que ela se afastasse demais. — ¿Yo tengo hermanas? – Suspirando, a mulher fechou os olhos por alguns instantes e voltou até onde ele estava, se ajoelhando em sua frente e amparando seu rostinho nas mãos.

— Falaremos sobre isso quando estiver mais velho, tudo bem? Quando puder entender melhor toda a situação. — Ele assentiu em silêncio. — Mas sim, você tem irmãs. E vou precisar da sua ajuda para trazê-las para perto de nós. — Ele piscou algumas vezes, confuso. — Por enquanto, vá se deitar, mi amor. — Beijou sua testa e voltou a ficar de pé, o pegando pela mão para acompanhá-lo até seu quarto.

 — Beijou sua testa e voltou a ficar de pé, o pegando pela mão para acompanhá-lo até seu quarto

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Sete anos depois...

Aos quatorze anos, Vicente já havia escutado muita coisa a respeito das irmãs que não conhecia. Sua mãe sempre fazia questão de trazer o assunto à tona, mesmo fingindo mera casualidade.

— Falou com seu pai sobre o que conversamos? — O garoto suspirou ao ser interrompido em seu jogo. Desligou o videogame, pois sabia que a mãe não gostava quando ele não prestava atenção nas conversas, e sempre exigia que ele desligasse o aparelho enquanto discutiam algum assunto, mesmo que fosse algo sem importância. Quando Marisa estava em um cômodo, toda a atenção deveria ser dela, isso servia para os funcionários, o filho e até mesmo o marido.

Mamá, yo no...

— Português, Vicente. Não tem praticado tanto a língua portuguesa como deveria. — Ele voltou a suspirar.

— Eu não consigo falar com ele. Sempre que toco no assunto ele se irrita e me corta.

— Não está fazendo como deveria. Se seguisse meus...

— Faço tudo como me pede, mãe, mas não posso mudar a forma como ele pensa. Meu pai não quer falar sobre as duas.

— Você é a única pessoa que ele ouve, Vicente. Estou pedindo sua ajuda para trazer minhas filhas, suas irmãs, para perto de nós. Será que nem para isso eu posso contar com você? Abri mão das duas por seu pai e por você, agora só quero tentar recuperar o tempo perdido e vocês não me entendem!

— Não é justo que fique me pressionando a consertar um erro que você cometeu — murmurou, farto de carregar aquele fardo em suas costas. Marisa sempre jogava em sua cara o fato de ter abandonado as filhas para poder criá-lo ao lado do pai, como se ele fosse o culpado, ou tivesse qualquer responsabilidade sobre aquilo.

— Ingrato! É isso o que eu ganho por ter dedicado minha vida a vocês. Você é igualzinho ao seu pai. Dois ingratos! — Bateu a porta com mais força que o necessário quando saiu, o deixando sentado, encarando seus dedos enquanto remoía uma culpa que não lhe cabia.

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¡Una mujer podrida, fría y vacía, que abandonó a sus propias hijas por su codicia! – Uma mulher podre, fria e vazia, que abandonou as próprias filhas por causa da ganância!

. Por amor a mi dinero. – Sim. Por amor ao meu dinheiro.

¿Por qué estaban discutiendo? – Por que estavam discutindo?

Mamá – Mamãe

¿Yo tengo hermanas? Eu tenho irmãs?

Mamá, yo no... – Mamãe, eu não...
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Gente, o Wattpad sumiu cm meu prólogo
Oxe 😂😂🤦🏽‍♀️

Vivendo Um Sonho [Desejos Ardentes - Livro Três] - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora