Capítulo 22

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"Eu quero que você faça coisas loucas comigo
Apenas uma noite eu te peço."
Intentalo - Maluma

Quando voltaram para a casa de Vicente, já era noite. Não esperavam ficar para o jantar, mas os demais não aceitaram uma recusa, então cederam e desfrutaram de mais algumas horas na companhia deles.

Bianca deu um banho em Anabel antes de alimentá-la. Como sempre, após a refeição, a garota pediu o costumeiro "piquiqui", mas não haviam levado nenhum, por isso decidiram voltar para casa, só que a pequena acabou pegando no sono no caminho. Havia brincado a tarde toda e o cansaço a venceu.

Já em frente a casa, Bianca desceu para levar a filha para dentro, mas uma voz conhecida a fez congelar ao ouvir seu nome.

Vicente saltou do veículo no mesmo instante, fulminando Alaor e Bruno, que se aproximavam cada vez mais.

— Há quanto tempo, minha filha  — A voz mole e arrastada não deixavam dúvidas sobre sua embriaguez.

— Leve Anabel para dentro — instruiu a Vicente. — Não quero que ela tenha contato com esse homem. — Manteve os olhos fixos no pai e no irmão, que estavam cada vez mais perto.

— Nem você precisa ter contato com ele. Com nenhum deles.

— Eu sei. Mas quero fazer isso uma última vez. — Concordando, mesmo a contragosto, Vicente pegou a filha de seus braços e a levou para dentro de casa.

— Se lembrou de que tem uma família, desnaturada? — alfinetou o velho.

— Não tenho uma família desde que você me vendeu, se lembra disso? Ao menos uma coisa boa você fez por mim, Alaor. Me livrou de qualquer laço que eu pudesse ter com você.

— Passe o tempo que passar, pelo motivo que for, você não pode negar o sangue que corre nas suas veias. É o mesmo que o meu.

— Não posso negar mas posso rejeitá-lo, assim como vocês sempre fizeram comigo a minha vida toda. — Olhou para Bruno rapidamente, o incitando a contradizê-la, mas o irmão sabia que ela estava certa, por isso se manteve em silêncio. — O que você quer?

— A criança que ele levou para dentro é...

— Não fale da minha filha. O que quer? — Trocando os pés, o homem a mediu de cima a baixo.

— Preciso de ajuda lá em casa. — Bruno olhou para o pai com o cenho franzido, enquanto Bianca se limitou a levantar as sobrancelhas, incrédula. — Sua mãe morreu há um ano e meio, agora estou sozinho e preciso de ajuda. Principalmente financeira. — O choque da notícia a desestabilizou. Não sabia ao certo o que sentia, mas ficou abalada. Sueli nunca havia sido um exemplo de mãe, mas quando estava sóbria, a defendia como podia. Seu maior erro talvez tivesse sido sucumbir ao vício, como se a solução de todos os problemas fosse ser encontrada no fundo de uma garrafa de pinga. Não a culpava pela doença, mas por não ter tido força de vontade de sair do buraco no qual havia se enfiado.

Ainda aturdida, murmurou:

— Como ela morreu?

— Desgosto. Desgosto porque a filha deu as costas para a família — acusou.

— Cirrose — proferiu Bruno. Não permitiria que o pai jogasse em seus ombros uma culpa que não lhe cabia. — Ela ficou mal quando você sumiu, é verdade, mas o que a matou foi a bebida.

Bianca olhou para o pai, se recompondo como pôde para enfrentá-lo.

— Por que eu o ajudaria? Especialmente em questões financeiras. O dinheiro sujo que conseguiu ao vender sua filha não foi o bastante? — O velho coçou a cabeça.

Vivendo Um Sonho [Desejos Ardentes - Livro Três] - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora